Reportagem: Juliet Manfrin
Cascavel – Quantas vezes você se perguntou quanto vale a sua vida? E quanto vale salvar outras vidas? A dor da perda, aliada à falta de esclarecimento sobre a doação de órgãos, tem feito o Paraná recuar na lista em que figurava com destaque nacional.
O ano caminha para o fim com uma redução expressiva nos “sim” para as doações, situação vista pela primeira vez nos últimos cinco anos.
Em 2018, segundo dados da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), foram 47,7 doações para cada 1 milhão de habitantes, neste ano, até agosto, são 41,4.
Para a coordenadora de Educação Permanente para a Doação, a enfermeira Luana Heberle, por trás disso há uma soma de fatores, mas o principal é a recusa familiar. “Falta conscientização. São muitos tabus, mitos, às vezes é um não apenas sob a alegação de que a pessoa não era doadora, mas cabe à família, apenas à família, aceitar ou não (…) É uma chance de um pedacinho daquele ente continuar vivendo no outro”.
Nesta sexta-feira (27) se celebra o Dia Nacional do Doador de Órgãos com o desafio de conscientizar, informar sobre a humanização da morte, tornando a vida mais longínqua para quem já se foi.
As quedas no oeste e no sudoeste
Referência no Estado e no Brasil, a regional de Cascavel, que abrange todo o oeste e parte do sudoeste, era a que possuía uma das maiores aceitações para a doação. Hoje figura no inverso da tabela, com a maior recusa familiar.
Até o mês passado o índice estava em 34%, enquanto a média do Paraná é de 25%. Neste mês, ela baixou para 28%, mas é preciso ir além. “Estamos focados na conscientização. A chance de precisar de um órgão é imensamente maior do que poder doar”, afirma a enfermeira Luana Heberle.
Em 2018 foram registradas no Estado cerca de 1,2 mil mortes encefálicas, que resultaram em 540 doações efetivas, mas poderiam ter sido muito mais. “Conversem sobre isso em casa. Doar é um gesto de amor extremo”, reforça.
De janeiro a agosto do ano passado, das 825 pessoas com morte encefálica, 382 se tornaram doadoras. Neste ano, das 732 mortes, 313 resultaram em doações. Um quarto dos familiares simplesmente disse não, ou seja, órgãos de 122 pacientes deixaram de ser captados.
Do total de doações confirmadas no Estado, 57% são homens e, portanto, 43% mulheres.
Na regional de Cascavel, houve 131 notificações de morte neste ano com 56 autorizações familiares e 26 recusas. Chama a atenção o Hoesp, em Toledo, onde 93% das famílias disseram sim. Das 19 mortes, 13 tiveram captação, cinco possuíam contraindicações e apenas uma família disse não.
A maior taxa de conversão aconteceu no hospital em Medianeira, onde, das três mortes, duas se tornaram doadoras e uma possuía contraindicação.
Em números
No Paraná existem 2 mil pessoas esperando um órgão, e no Brasil são 35 mil. A maioria precisa de rins – nesses casos a hemodiálise ajuda na espera -, depois os corações e os fígados este último, lamentavelmente, a demora é fatal.
Com as mudanças que estão sendo feitas no Banco de Tecidos do Paraná, em Curitiba, a fila voltou a aumentar.
Em 2010 se esperava por córneas por um ano, hoje demora uma semana, mas neste momento há 300 pacientes na fila esperando por esse órgão no Estado. Desde 2017 essa fila era zerada, ou seja, sem espera.
Órgãos implantados no Paraná em 2019:
581 córneas
10 corações
163 fígados
10 pâncreas
312 ruins
*Com exceção de 71 doadores de rins, os demais vieram de pacientes que foram a óbito
Doadores em vida:
71 rins
158 medulas
Veja a mensagem que Maria Isabela de Castro Cordeiro deixou sobre a doação de órgãos: