COTAÇÃO: BOM
Com muita ginga no falar e o mesmo jeito de cantar, Martinho da Vila está muito à vontade, e em grande forma, nas 14 faixas de ?De bem com a vida?, um dos trabalhos mais pessoais de sua carreira recente. Seu estilo, sua capacidade de ser original, mesmo quando se repete, é o que explica ser este um disco inconfundivelmente de Martinho da Vila, tendo parceiros tão diferentes entre si: Geraldo Carneiro e Zé Catimba, Carlinhos Vergueiro e Arthur Maia, Francis & Olívia Hime e Marcelinho Ferreira, João Donato e Fred Camacho.
Metade de músicas inéditas, metade de coisas lançadas antes pelo próprio Martinho ou por outros intérpretes, o disco vai dos sambas-choros das primeiras faixas (?Escuta, cavaquinho? e ?Choro chorão?) a sambas falados ou dialogados sob medida para shows, dois deles com participação de Criolo. Há agradecimento à arte que consagrou Martinho (?Gratidão musical?), homenagem à caçula (?Alegria, Alegria, minha gente!?), reencontro frustrado (?Desritmou?), saudações ao Vasco e à Vila dele e de Noel (?Sou brasileiro?), com uma torcida para o Brasil melhorar, e quatro temas afros, com destaque para os dois inéditos (?Do além? e ?Daqui, de lá e de acolá?). No primeiro, ?a magia vem dos ancestrais? de Angola, Uganda, Nigéria, Cabo Verde, Benin e Argéria. No segundo, ?moçambicando? ou ?banzeando?, Martinho credita a Angola a nascente de coisas nossas como o partido alto, o samba e o frevo.
De excepcional qualidade é o acompanhamento de tudo isso, basicamente a cargo de três talentos: Gabriel Aquino (violão), Alaan Monteiro (cavaquinho) e Gabriel Policarpo (tamborim, moringa, pandeiro, cachos, tantã, ralador, repique, frigideira, agogô e o que mais aqueça o ritmo). Os três, mais coro em quatro sambas, são o suficiente para dar a Martinho um apoio instrumental de primeira. O que não exclui a bem-vinda participação especial do piano de Donato, do violino de Jorge Mautner e o baixo de Arthur Maia em ?Muita luz?.