
Não há, em um horizonte próximo, perspectiva de acordos que permitam a total liberação, a curto prazo, do comércio bilateral, hoje repleto de travas que impedem o funcionamento do Mercosul como uma união aduaneira. Açúcar e etanol estão fora do bloco. Automóveis, principais itens da pauta no intercâmbio entre os dois países, têm o comércio restrito por quantidades limitadas de unidades que podem ser exportadas sem o elevado Imposto de Importação de 35%.
VONTADE POLÍTICA
Vontade política não é suficiente para impulsionar o bloco, levando em conta o histórico das relações bilaterais. São 25 anos de uma convivência difícil, tentativas nem sempre bem sucedidas e crises econômicas que atropelam agendas em andamento.
Desde o fim de 2008, quando explodiu a crise financeira mundial, as autoridades do país vizinho dificultam a liberação de mercadorias brasileiras com medidas burocráticas e barreiras não tarifárias. Para piorar, enquanto as vendas do Brasil são prejudicadas, China, Estados Unidos e outros parceiros internacionais colocam seus produtos com facilidade no mercado argentino. O protecionismo é só para empresas brasileiras, reclamam técnicos do governo e empresários.
O mais recente contencioso entre os dois países se deve à confecção de um regime de incentivos fiscais, pelo governo da Argentina, para as montadoras que derem preferência às autopeças nacionais. A medida causou protesto de governo e fabricantes de autopeças do Brasil, que argumentam que os benefícios estão em desacordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Michel Temer e Maurício Macri repetem uma parceria bem sucedida, no campo político, observada entre a gestão petista e a ex-presidente Cristina Kirchner. Por exemplo: junto com o paraguaio Horacio Cartes, Macri foi um dos primeiros líderes latino-americanos a reconhecer o governo pós-impeachment de Dilma Rousseff. Ao contrário de Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e Cuba, a Argentina jamais questionou a legitimidade de Temer.
RECESSÃO
Brasil e Argentina são duas economias desgastadas pela recessão. Se uma começa a se recuperar, a outra se beneficia. Os argentinos são os principais compradores de produtos industrializados do Brasil. Noventa e quatro por cento das vendas brasileiras à Argentina foram manufaturados: automóveis, máquinas mecânicas, plásticos, máquinas elétricas, ferro e aço.
Do total vendido pelos argentinos ao mercado brasileiro no ano passado, 75% eram de manufaturados e 22% básicos. Os maiores destaques da pauta foram automóveis, cereais, amidos e máquinas mecânicas.
Empresários dos dois países, decidiram romper essa estagnação e pressionam os respectivos governos a apararem as arestas. Os dois principais sócios do Mercosul, argumentam, precisam promover avanços no bloco, para que possam ser seguidos por Paraguai e Uruguai. O Mercosul, com todas as suas dificuldades, está pequeno e precisa ganhar espaço no mundo, dando passos importantes em direção a acordos de livre comércio com parceiros como a União Europeia, o Canadá, o Japão, a Coreia do Sul e até os Estados Unidos.
No ano passado, a Argentina foi o principal parceiro comercial do Brasil. Houve um superávit favorável ao lado brasileiro de US$ 4,3 bilhões. O estoque de investimentos de empresas brasileiras na Argentina era de quase US$ 4 bilhões em 2015, puxados por Petrobras, Gerdau, Natura, entre outras. Já as firmas argentinas investiram no Brasil cerca de US$ 1,6 bilhão. A despeito das dificuldades, o potencial é imenso.