Cascavel – Neste segundo domingo de maio quando é comemorado o “Dia das Mães”, uma série de sentimentos faz o coração bater mais acelerado, os olhos enchem lacrimejarem com lembranças de quando éramos pequenos e o melhor lugar do mundo era o colo da nossa mãe. Com o passar dos anos crescemos e o colo não dá mais conta de nos abrigar, mas mesmo após o “corte umbilical”, a mãe nunca deixa estar ligada aos seus filhos e, com apenas um olhar, sabe o que se passa com o filho; a conexão nunca termina.
E a maior e melhor forma de demonstrar o amor pela mãe, não é com presentes, mas, sim, “estar presente”, cuidando, se preocupando, dando carinho e amor. E é sobre esse amor que a reportagem do Jornal O Paraná vai contar a história de uma filha, Silvia Mariani Oliveira Jorge, que tem atualmente 55 anos, há 15 anos cuida da mãe que é acamada, com o mesmo “amor de mãe”. Silvia, desde 2008, pode se dizer que se tornou “mãe da sua mãe”.
A “Tia Clarice” como é conhecida a mãe de Silvia, era uma pessoa bastante ativa. Professora, ela trabalhou por cerca de 30 anos no conhecido Colégio Ideal de Cascavel – inicialmente a Escola Tia Izailda – e sempre teve ótimo relacionam com alunos, pais e colegas de trabalho. Em dezembro de 2007, a Tia Clarice descobriu um câncer de mama e, em decorrência da doença e seu tratamento, acabou tendo complicações. Após passar por um procedimento cirúrgico para retirada de tumor, em fevereiro, teve complicações com quimioterapia, precisou de internamento e, em poucos meses, acabou tendo um AVC (Acidente Vascular Cerebral), a deixou acamada.
“Foi tudo muito rápido. Minha mãe era uma pessoa bastante ativa, trabalhava, cuidava da casa, dos filhos e de uma hora para a outra estava em uma cama”, relembrou Silvia. Com a nova condição, ela e o único irmão (Paulo Alexandre), tive que se adaptar a nova realidade e, para poder cuidar da mãe, Silvia que atuava como professora acadêmica, deixou a profissão para se dedicar a mãe.
Silvia conta que, no começo, achou que a mãe ficaria bem em pouco tempo e que logo retornaria pelo menos parte da sua rotina, mas com o passar dos anos percebeu que a situação definitiva e foi aceitando as mudanças. “A partir de então tomei consciência de que eu passei a ser mãe da minha mãe e que teria que me adaptar. Então me adaptei a esta nova realidade e sempre cuidei dela; fiz e faço isso com muito amor”, destacou.
Para Silvia, além de todo o cuidado físico, já que a mãe demanda de cuidados bastante específicos, durante todo este tempo ela passou por situações e sensações de dificuldade emocional, já que a adaptação não ocorreu de um dia pro outro e, além disso, a aceitação foi culminante para entender e aceitar o processo, unido com o amor que envolve o relacionamento entre mãe e filha.
Outra relação que teve que ser adaptada, mas para Silvia foi mais fácil, foi da relação com suas duas filhas. Hoje são adultas, mas na época eram adolescentes e também passaram por uma adaptação no processo, já que sempre foram muito ligadas à avó. “Minha vida, da noite para o dia, mudou completamente, mas minhas filhas entenderam e continuaram sendo maravilhosas comigo, já que meu relacionamento não alterou, mesmo sendo difícil também para elas, por terem a avô acamada, mas passou a ser um processo natural”, contou.
Mãe amorosa
Sobre a relação com a mãe, Silvia lembrou que a mãe sempre foi uma pessoa muito presente, exigente e ela tinha um relacionamento normal na infância e adolescência, sendo sempre muito amorosa. Quando casou e teve as suas filhas, a mãe sempre a ajudou a cuidar das meninas e fazia aquele papel de “super avó”. “As meninas sempre foram apaixonadas por ela, por isso, o que faço hoje eme cuidar dela, para mim é uma retribuição de tudo o que ela fez por mim e pelas meninas e, com certeza esse cuidado que tenho com ela, foi ela que me ensinou a ser assim”, contou.
A mãe mora na casa dela, mas em alguns finais de semana e feriados, fica na casa do irmão. A Tia Clarice conta ainda com cuidadora que ajuda Silvia nas tarefas diárias que concilia tudo isso, com uma vida de mãe e avó da pequena Rebeca, hoje com 9 anos. “Eu sempre brinco que eu tenho um bebezinho e um bebezão, mas estou feliz e faço tudo com muito amor e carinho. Fico contente que consigo cuidar dela, que sempre foi muito resiliente, tranquila e calma, isso me dá forças e renova sempre a minha dedicação de cuidar dela”, finalizou.
Além de amor e do carinho, é importante ter equilíbrio
Josiane Samara Tondo é psicóloga e trabalha com as relações sistêmicas e, diante disso, reforça que em todos os tipos de relações, principalmente as familiares, é importante sempre encontrar o equilíbrio e ser fiel aos sentimentos, vontades e papéis de cada uma das pessoas neste processo. Especificamente na relação dos pais e filhos, chega um momento que os pais começam a demandar mais dos filhos e é nessa hora que é preciso analisar e acertar os papéis.
Conforme a psicóloga, existe uma série de situações, sensações e de sentimentos, mas é importante manter sempre o equilíbrio e que os papéis não se invertam. “Existem situações em que os pais querem comandar a vida dos filhos ou vice-versa, mas nesse caso as relações ficam pesadas e desalinhadas, por isso, é importante sentar e conversar, com muito amor e carinho, lembrando que não podemos abrir mão da nossa vida, porque dessa forma acabamos adoecendo”, constatou.
Para a psicóloga, muitos filhos querem fazer mais do que conseguem e, nesses casos, a rotina fica pesada “bagunçando” a vida e o emocional. “São nossos pais e temos que ajudar, mas analisar e buscar manter um equilíbrio, tentando sempre preservar a vida particular, compartilhando com os irmãos os cuidados, as preocupações de uma forma que fique bom e tranquilo para todos os envolvidos”, salientou.
Josiane Tondo lembrou ainda que em todas as fases da vida, tanto o diálogo, quanto o carinho e o cuidado devem estar presentes e quando ocorre dos filhos assumiram as responsabilidades com os pais, deve ainda mais ter cuidado isso em todos os sentidos. “Nossos pais envelhecem e temos que dar amor, carinho e ajudar eles nas tarefas do dia a dia. Levar ao mercado e ao médico, por exemplo, são papéis que passamos a assumir e que levamos como aprendizado para a vida”, finalizou.