Toledo – A morte de três presos na Cadeia Pública de Toledo de maio a agosto deste ano é investigada pela Polícia Civil. Embora sem sinais físicos evidentes, a suspeita é de que eles tenham sido mortos por outros detentos.
A polícia aguarda laudos toxicológicos e de necropsias e trata tudo no maior sigilo.
A reportagem do Jornal O Paraná apurou que as mortes foram causadas por uma mistura feita com uma colher de cocaína em uma garrafinha de água, conhecida dentro da cadeia como “Gatorade”. Quem é obrigado a tomar a bebida morre em até duas horas de falência múltipla dos órgãos, porque ocorre uma espécie de infarto.
Em Toledo, as mortes seriam fruto de uma briga de quadrilhas dentro da cadeia, com direito a tortura psicológica. “Eles fazem essa bebida e obrigam os detentos a tomar. Quem ingere sabe que a morte é certa”, conta um policial civil da região, que terá a identidade preservada.
Segundo esse policial, a prática é comum dentro das cadeias: “Isso acontece em todas as regiões do Estado pelos mais diversos motivos. Detentos que identificam os ‘duques’ (presos acusados de estupro de vulnerável), por exemplo, fazem esse tipo de tortura que leva o detento à morte”, relata.
Contudo, ninguém mais ousa falar sobre o assunto e não há dados oficiais ou registros a respeito.
As drogas, assim como outros objetos, entram nas carceragens mesmo diante da revista dos agentes carcerários por conta da superlotação e da falta de pessoal para atuar nas cadeias.
Na cadeia de Toledo, por exemplo, há 179 detentos em um espaço para 46 pessoas: ou seja, quase quatro presos no espaço de um.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB de Toledo disse que não tinha conhecimento das mortes e prometeu acompanhar os casos.
Mais fiscalização
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados de Cascavel), Charles Duvoisin, diz que é preciso haver uma fiscalização mais rígida, especialmente com o que entra nas celas. “É preciso haver mais fiscalização dos agentes de cadeia com relação aos produtos que entram nas carceragens e que haja uma atenção com os presos, para que os detentos ameaçados peçam ajuda e possam ser transferidos, por exemplo, para que não se deixe acontecer o pior. Sabemos que essa fiscalização fica difícil diante do excesso de pessoas em um ambiente pequeno, assim como fica difícil a transferência desses presos para outro local onde eles não sejam ameaçados”.
Além do aumento do efetivo de agentes, outras medidas seriam necessárias para aumentar a segurança: “Seria preciso, por exemplo, tornar as celas automatizadas para que os profissionais não tenham contato direto com o preso e possam abrir as celas de longe. Isso não acontece ainda e é uma das reivindicações que entendemos como importantes. Além da instalação de câmeras de segurança nos corredores, para poder identificar atos de violência como esses. Defendemos, também, um ambiente onde o preso possa ser ressocializado, com palestras, orientações, porque esse detento um dia sairá da cadeia”, afirma.