RIO – Quando a bola rolar às 17h desta quinta-feira, na Fonte Nova, para a estreia da seleção de Fiji no torneio olímpico de futebol masculino, contra a Coréia do Sul, a equipe deve despertar de um transe iniciado em junho do ano passado, quando garantiu a classificação inédita para representar a Oceania na competição. Depois de o feito correr o mundo, o técnico australiano Frank Farina decidiu transformar o desconhecimento dos adversários sobre a equipe em vantagem e estratégia para manter o foco do elenco.
Desde quarta-feira em Salvador, onde chegou após uma maratona aérea de 38 horas, agravada por uma diferença de fuso de 15 horas, a delegação realiza treinos fechados e não conversa com a imprensa. Foi assim mais uma vez na tarde desta segunda-feira, quando os representantes da Oceania trabalharam com bola no Barradão.
Somente os primeiros 30 minutos da atividade puderam ser acompanhados pelos repórteres e, neles, não foi revelada qualquer pista sobre o time da estreia. O que chamou atenção foi o bom ambiente do grupo, que parecia se divertir a cada lance, com muitas risadas a cada boa jogada ou diante de qualquer trapalhada de um companheiro.
A classificação de Fiji para a competição foi controversa. O arquipélago composto por 332 ilhas e cerca de 900 mil habitantes garantiu a vaga sem precisar disputar a decisão do pré-olímpico continental, devido à exclusão da Nova Zelândia, punida pela escalação do zagueiro Deklan Wynne. O jogador, nascido na África do Sul, foi considerado inelegível pelo comitê disciplinar da Confederação de Futebol da Oceania horas antes da decisão, em julho do ano passado.
VALIOSAS EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
SELEÇÃO BRASILEIRA: 1-8Embora as comparações com a seleção do Taiti, que conquistou os brasileiros durante a Copa das Confederações, pareçam inevitáveis, Fiji chega aos jogos com maior experiência internacional do que os polinésios, embora patine na 187ª posição do ranking da Fifa, 12 atrás do rival.
Boa parte do elenco participou do Mundial Sub-20 de 2015, disputado na Nova Zelândia, onde o time protagonizou o resultado mais surpreendente da competição: vitória de 3 a 0 sobre Honduras. Por dois gols de saldo, no entanto, eles não passaram de fase.
TABELA: Jogos do futebol masculino na Rio-2016
O resultado foi muito comemorado pela equipe, que vem de um país onde o rugbi é o esporte mais popular: Fiji é candidato a duas medalhas na modalidade, que volta ao programa olímpico este ano. No futebol, ainda há muito para evoluir.
Em maio, após amistosos na Espanha, o elenco esteve no Brasil para uma pré-temporada de 12 dias no CT do Caju, do Atlético-PR, e os jogos mostraram que a preparação exigiria muito trabalho: os melanésios foram goleados pelo time sub-20 do Furacão por 4 a 0 e perderam por 8 a 2 para o sub-19, mas fizeram um jogo mais equilibrado contra a equipe principal do Paraná, que venceu por 4 a 2.
ENTRE A REALIDADE E O SONHO
Com a experiência de duas olimpíadas e uma Copa do Mundo no currículo, pela Austrália, o técnico Frank Farina pediu serenidade, em entrevista ao site oficial da Fifa, e tentou conter a euforia com a classificação inédita.
? Nós não somos o time de rúgbi de sete, que é campeão do mundo. Queremos ter um bom desempenho, não estamos aqui para nos constranger. Muita gente pensa que vamos ganhar uma medalha, não entendo isto, porque não é a realidade. Vamos ganhar muita experiência, que será benéfico para a equipe. Não podemos confundir ambição com a capacidade ? afirmou. Estamos nos sentindo em casa, embora aqui seja mais quente. Tivemos algumas dificuldades com a viagem e o fuso horário, mas estamos prontos para o jogo
Em uma das poucas manifestações desde a chegada ao país, o goleiro Simioni Tamanisau, que ganha a vida como oficial de polícia, comparou o clima encontrado na capital baiana ao do seu país.
? Estamos nos sentindo em casa, embora aqui seja mais quente. Tivemos algumas dificuldades com a viagem e o fuso horário, mas estamos prontos para o jogo ? garantiu ao site da Associação de Futebol de Fiji.
A própria convocação de Farina dá mostras do tamanho do desafio. Dos 18 jogadores convocados, apenas um atua fora do país. A estrela é o atacante Roy Krishna, de 29 anos, capitão do time, que atua no Wellington Phoeniz, da Nova Zelândia.
Apesar de ter conquistado vaga para os jogos, é pouco provável que a delegação de Fiji possa desfrutar da atmosfera olímpica montada no Rio de Janeiro. Isto porque o futebol está dividido entre mais cinco cidades, e o arquipélago está no grupo C, que tem como sedes Salvador, Belo Horizonte e Brasília.
A equipe só poderá chegar à capital fluminense caso avance às semifinais na surpreendente condição de líder da chave ? Além da Coreia do Sul, Alemanha e México completam o grupo. Se for a segunda colocada, só passará pela cidade já na condição de medalhista, caso se classifique para a decisão. Um daqueles sonhos que só aparecem a cada quatro anos.