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Francês filho de argelinos, Samir Ait Said sonha com medalha na arte de Zanetti

RIO ? Filho de argelinos, Samir Ait Said, de 26 anos, é o principal rosto da ginástica artística da França. Especialista em argolas, ele é um dos candidatos que Arthur Zanetti terá de bater para chegar ao bicampeonato olímpico da modalidade. Entretanto, sua relação com o esporte é muito diferente da do brasileiro. E faz o francês parecer uma pessoal normal, sem o privilégio de poder se dedicar apenas aos treinos. Apesar de ser atleta olímpico e um dos melhores do mundo em sua prova, o ginasta ainda encontra tempo para fazer faculdade e trabalhar. Links Ginástica

Enquanto Zanetti adotou uma série de restrições em sua rotina para focar nos Jogos Olímpicos do Rio ? deixando de lado, inclusive, a paixão por andar de moto, para diminuir o risco de acidentes ou lesões ?, Samir vinha dividindo sua agenda diária em uma espécie de triatlo: três horas de sua manhã eram destinadas ao treino; na parte da tarde, seguia para o trabalho em um hospital; e ainda tinha a faculdade de fisioterapia, à noite. A rotina agitada não permitia boas horas de sono ao francês. No entanto, ele não é de reclamar do que foi feito no ciclo olímpico.

? Até maio, eu estava treinando apenas de manhã, cerca de três horas. De noite, ia para a faculdade e ficava até as 5h da manhã estudando. Estava dormindo apenas três horas por dia. Foi uma rotina dura. Estava me sentindo muito cansado. Mas me dediquei ao máximo. Nos últimos três meses, estou conseguindo treinar em dois turnos por dia, e tirei férias no trabalho, mas sigo estudando. Meu objetivo é voltar com a medalha de ouro para a França ? diz Samir, que vai na contramão daquele rótulo de que os franceses são mal-humorados e antipáticos, esforçando-se para falar em inglês.

Samir esbanja confiança no seu talento. Contou que ficou feliz pelo quinto lugar no Campeonato Europeu, no início de maio, pois havia treinado ?apenas três vezes? nas semanas que antecederam a competição. Segundo ele, se um bom resultado apareceu mesmo sem treino é porque ele tem condições de fazer muito melhor nos Jogos do Rio após ter intensificado sua preparação. Tenho uma boa relação com Zanetti. Eu gosto desses caras da seleção brasileira. Não é uma guerra, é um esporte. É importante ter uma relação boa com os concorrentes

? Se pudesse voltar no tempo, eu não mudaria a minha preparação para o Rio. As coisas aconteceram da maneira que tinham que acontecer ? afirma o ginasta.

Além de Zanetti, Samir sabe que precisa superar outros adversários fortes para subir ao pódio olímpico. Entre eles, o ginasta não pensa duas vezes antes de citar o grego Eleftherios Petrounias e os chineses You Hao e Liu Yang, que foram primeiro, segundo e terceiro colocados, respectivamente, no Mundial de Glasgow, na Escócia, no ano passado.

Na Escócia, Samir não ganhou medalha por pouco. Foi o quarto colocado, com uma diferença pequena de pontos para o terceiro. Zanetti sequer chegou às finais, mas o campeão olímpico não estava focado na prova. Seu objetivo maior era conseguir a inédita classificação por equipes da seleção brasileira masculina, que foi conquistada. Só depois deste feito, o brasileiro voltou a focar nas argolas.

A disputa dentro do ginásio e os objetivos pessoais, entretanto, não fazem o francês esquecer a essência do esporte e dos Jogos. Ele conta que tem um bom relacionado com os ginastas de uma maneira geral e que adora a seleção brasileira, por ser alegre.

? Tenho uma boa relação com Zanetti. Eu gosto desses caras da seleção brasileira… Estive há pouco tempo com o (Sérgio) Sasaki, em uma competição em Portugal. De vez em quando, eu encontro eles e bebemos um refrigerante, nada de cerveja. Sempre conversamos, e o papo é sobre esportes. Não é uma guerra, é um esporte. É importante ter uma relação boa com os concorrentes ? conta o francês.

TERRORISMO E ZIKA

Filho de imigrantes em um país onde a xenofobia está cada vez mais aflorada, Samir não teme ataques terroristas na França e nem contra sua delegação em terras brasileiras. Prefere não valorizar este assunto, e faz o mesmo com os problemas brasileiros:

? Não tenho medo de um ataque terrorista. Também não tenho medo de zika. Temos o spray, o repelente. Esta é a quarta vez que venho ao Brasil. Antes dos Jogos, vim ao Rio duas vezes e também estive em Natal. E nunca tive problema. Eu vi alguns mosquitos, mas sou bem tranquilo quanto a isso. Jamais deixaria de competir por esses dois motivos.

A última vez que Samir esteve no Rio foi em abril deste ano para o evento-teste. Na ocasião, ele foi medalhista de bronze, atrás apenas do campeão Zanetti e do grego Petrounias. No momento, ele pensa apenas na competição, mas, se tudo der certo, pretende esticar sua estadia na cidade olímpica.

? Estou aqui para competir, não estou por causa do turismo. Meu único objetivo nesta viagem é conseguir uma medalha. Talvez depois, se subir ao pódio, possa pensar em ir ao Corcovado e Pão de Açúcar ? garantiu.