Cotidiano

Em novo 'King Kong', ator de 'Thor' mergulha nas selvas do Vietnã

LOS ANGELES – Em ?Kong: a ilha da caveira?, em cartaz nos cinemas brasileiros desde ontem, Tom Hiddleston vive o cínico capitão da reserva e especialista em sobrevivência na selva James Conrad. O batismo do personagem é referência direta a Joseph Conrad, autor de ?Coração das trevas?, o livro de 1899 transportado para as selvas do Vietnã em ?Apocalypse Now? (1979), de Francis Ford Coppola. No retorno de King Kong às suas origens tal qual imaginado pelo pouco conhecido diretor Jordan Vogt-Roberts, há até uma cena emulando os famosos helicópteros de Coppola, agora com a adição de um monstro de proporções gigantescas.

Espécie de reboot ma non troppo do primeiro ?King Kong?, criado por Merian C. Cooper (1893-1973) em 1933, o filme busca iniciar uma nova franquia reapresentando ao público o gorila, com a ação transportada para a primeira metade dos anos 1970. Ainda em 1933, por conta do sucesso do primeiro filme, Hollywood lançou ?O filho de Kong?. Uma dezena de filmes e outros três remakes foram realizados desde então, incluindo o de Peter Jackson, em 2005.

Conhecido do grande público pelo Loki de ?Thor? e pelo fugaz romance com Taylor Swift, que fez a alegria dos tabloides americanos no ano passado, Hiddleston, 36, foi pinçado pelos produtores para ser algo como uma resposta-ambulante à inevitável pergunta: afinal de contas, por que mais um King Kong na telona? O filme é a primeira experiência do inglês de olhos de ardósia no comando de um thriller de aventura, um teste para se medir o poder de fogo do protagonista da premiada série televisiva ?The night manager?, pela qual venceu o Globo de Ouro de melhor ator neste ano. Abaixo, o ator comenta o novo filme e o seu protagonismo.

Por que King Kong uma vez mais?

Foi uma das primeiras perguntas que fiz a mim mesmo, até porque eu gostei muito do filme do Peter (Jackson). Mas vi que o pessoal da Legendary queria fazer algo de fato diferente, com um novo olhar sobre o mito, sobre o universo particular dessas criaturas.

Não há sinal de Manhattan…

Pois este é um ponto central do motivo pelo qual mergulhei de cabeça no filme. A ideia era ir ao habitat de Kong, não o oposto. A Ilha da Caveira é um paraíso intocado, e por isso o filme se passa nos anos 70. Hoje em dia, já não há mais lógica na possibilidade de se encontrar local ermo não explorado pelo mundo globalizado. E o filme tem um que do Werner Herzog de ?Fitzcarraldo? (1982), da ideia de se contrapor a humanidade a situações e geografias desafiadoras. Beleza natural, terror e um teste de nossos valores civilizatórios sempre terão ressonância com o público.

Como foram as filmagens no Vietnã?

Contamos com a ajuda de um ex-militar americano que não havia voltado ao país desde a época da guerra. Trabalhar com os vietnamitas, para ele, foi especialmente comovente. Lá estávamos nós, o circo de Hollywood, uma produção imensa, sendo feita no Vietnã, gerando empregos, o primeiro-ministro jantando conosco, e os dois lados de igual para igual, quatro décadas depois do fim da guerra ? essas coisas me deram alguma esperança em relação ao nosso futuro e aos conflitos armados que ainda nos afligem.

Dez curiosidades sobre ‘Kong: a ilha da caveira’

Você está justamente produzindo um filme sobre os conflitos armados no Sudão do Sul, o mais novo país do planeta…

É um documentário de 1h30m que vai do processo de independência do Sudão, em 2011, até o começo da guerra, em 2013. Estima-se que cerca de 17 mil crianças tenham sido forçadas a lutar na disputa, um crime de guerra. Minha esperança é a de que os líderes dos dois lados consigam encontrar um dia um ponto de consenso.

Os sudaneses o reconhecem na rua?

Em geral não, mas algumas pessoas viram ?Os vingadores? e gritam ?Loki! Loki!?. Na África, especialmente, me parece que os super-heróis são os jogadores de futebol. Nunca fui ao Brasil, mas imagino que seja algo parecido. No Sudão, Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo representam melhor as lutas do bem contra o mal do que nós, super-heróis do cinema.

Você acabou de filmar ?Thor: Ragnarok?, que estreia em novembro, em torno do apocalipse em Asgaard, o Olimpo da mitologia nórdica. Depois de quatro anos sem encarnar Loki foi fácil voltar ao personagem?

Filmamos na Austrália por quatro meses, e no primeiro dia em que coloquei a maquiagem, a peruca, e me vi no espelho, melodiei, repetindo letra e música de Simon & Garfunkel, ?Hello darkness/my old friend?, de ?The sounds of silence?. Por outro lado, o Loki imaginado pelo (diretor neo-zelandês) Taika Waititi vai mais fundo nas questões familiares e na mitologia adaptada para os quadrinhos. A Hela, deusa da morte vivida por Cate Blanchett, é absolutamente sensacional. E Thor e Hulk (vividos por Chris Hemsworth e Mark Ruffalo) agora são uma espécie de Butch Cassidy e Sundance Kid cósmicos. É bem diferente dos outros filmes, estou curioso para ver o que os fãs vão achar das mudanças.

* Eduardo Graça viajou a convite da Warner Bros