Cotidiano

Documentário mostra Ferreira Gullar íntimo e engraçado

Screenshot (8).jpgRIO ? O poeta em sua intimidade, descontraído e cheio de histórias engraçadas para contar. Este é o Ferreira Gullar capturado, há mais de 20 anos, pelo cineasta Zelito Viana no documentário ?O canto e a fúria?. Em um dia de 1994, Zelito recebia o autor maranhense em casa; ao ouvi-lo conversando com amigos, teve a ideia de registrar o momento. Sem planejamento, sem microfone, quase numa operação de guerrilha, ele e o fotógrafo Walter Carvalho se apressaram para pegar uma câmera mini DV e se alternaram na gravação. Durante 50 minutos, Gullar, morto em dezembro do ano passado, fala sobre sua arte, suas emoções e visão de mundo, repassando todas as fases de sua carreira. Editado e reunido em DVD, o depoimento informal passou uma única vez no Canal Brasil e só agora está sendo comercializado, no encarte de uma reedição especial, limitada e artesanal do último livro de Gullar, ?Autobiografia poética e outros textos?, da editora Autêntica. Assim como o documentário, a obra ? publicada originalmente em 2015 ?também revisita o universo do poeta através de um depoimento, além de duas entrevistas (uma de 1965 e outra de 2014).

? Durante os 50 minutos do documentário, é só a cara do Gullar o tempo inteiro, contando a vida dele ? brinca Zelito. ? E é um Gullar no auge da forma, falando na minha casa no Cosme Velho. Ele estava lá dando sopa, contando várias histórias para uma ?plateia? de amigos, e eu e o Waltinho (Carvalho) resolvemos gravar. Algumas histórias são engraçadíssimas. Acho que as pessoas não conhecem esse lado engraçado dele.

O Gullar íntimo e arejado se abre para Viana, com quem tinha uma relação estreita. No jardim ensolarado da residência do cineasta, lembra de vários casos. Como a vez em que caminhava pela Cinelândia e achou que sua gravata estava ?pegando fogo?. Demorou para perceber que as chamas não eram reais.

? Ele estava escrevendo um poema na cabeça e, de tão agitado, viu a gravata vermelha e pensou que estava incendiada ? lembra Viana. ? Gullar vivia incendiado pela poesia, que o atormentava.

Amigos durante décadas, Gullar e Zelito fizeram outros filmes juntos. ?A arte existe porque a vida não basta?, co-dirigido por Gabriela Gastal e exibido no cinema logo após a morte do poeta, tem textos do autor dramatizados por Marco Nanini e poemas musicados por grandes nomes da MPB. Já o curta-metragem ?Ferreira Gullar: a necessidade da arte? esmiúça as relações do maranhense com as artes plásticas.

? Gullar era meu objeto preferido de filmar ? diz Zelito. ? Ele falava muito bem, e na minha presença era sempre mais fácil, por causa da nossa amizade. Sempre se sentia mais à vontade gravando comigo.

Além da reedição limitada de ?Autobiografia poética e outros textos?, mais obras de Gullar devem chegar às livrarias em breve. A Autêntica prepara a a reedição do infantil ?Doutor Urubu e outras fábulas? e uma coletânea inédita de textos sobre artes plásticas. Já o livro de colagens ?Os desastres da guerra?, também inédito, deve sair pela Bazar do Tempo.