RIO ? Policiais do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP) do Ministério Público do Rio recolheram, na manhã desta sexta-feira, imagens de câmeras de segurança do prédio onde mora o ex-governador Anthony Garotinho e de dois endereços da empresa Palavra de Paz, da qual ele é sócio. A Justiça Eleitoral de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, determinou a medida para verificar se Garotinho se reuniu com o ex-chefe da Polícia Civil Álvaro Lins, seu aliado político.
Investigadores à frente da Operação Chequinho, que apura um suposto esquema de compra de votos na última eleição municipal, suspeitam que o ex-governador contratou Lins para montar um dossiê com o objetivo de constranger delegados, promotores, juízes e testemunhas envolvidos no processo.
Os agentes fizeram cópias das imagens das câmeras, além de apreenderem HD’s e equipamentos de gravação. De acordo com o Ministério Público, “há fortes indícios de que pode estar em curso, no mínimo, a tentativa de coação a autoridades e testemunhas que funcionam no processo”. A decisão, assinada pelo juiz Ralph Manhães, autorizou o recolhimento das imagens nas áreas comuns e também nos andares em que ficam o apartamento de Garotinho e os escritórios da empresa.
RELAÇÃO ANTIGA
A contratação de Lins foi veiculada pelo jornal “Folha da Manhã” e, segundo O GLOBO apurou, foi confirmada a investigadores por duas fontes diferentes. Em 2008, ele foi preso pela Polícia Federal na Operação Segurança Pública S/A, acusado de integrar uma organização criminosa que loteava delegacias e, em troca de propina, oferecia proteção ao bando comandado por Rogério Andrade, que explorava máquinas de caça-níquel. Em 2010, Lins foi condenado pela Justiça Federal, em primeira instância, a 28 anos de prisão por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Garotinho foi condenado a dois anos e seis meses de prisão no mesmo processo ? a pena foi convertida em prestação de serviços comunitários ?, também acusado de formação de quadrilha. Ambos recorrem da decisão.
A relação entre Lins e Garotinho é antiga: em 2001, ele foi nomeado pelo então governador para a chefia da Polícia Civil, cargo que ocupou até meados de 2002. No ano seguinte, voltou ao posto, com a eleição de Rosinha Garotinho e permaneceu até se eleger deputado estadual, em 2006. No entanto, após a prisão, foi cassado pela Assembleia Legislativa (Alerj). Lins foi expulso da Polícia Civil em 2009 e, hoje, atua como advogado e trabalha em um escritório em Copacabana, na Zona Sul.
Em 2014, O GLOBO mostrou uma gravação que circulava entre policiais no WhatsApp em que Lins pedia votos para Garotinho, então candidato a governador. Em resposta a uma pesquisa de intenção de voto que mostrava a liderança do aliado, o ex-chefe da Polícia Civil começou a mensagem com uma citação bíblica: “Bem-aventurados aqueles que têm sede de justiça, pois serão saciados. Essa é a única expressão que vem à minha cabeça quando vejo uma notícia como essa”, disse.
Garotinho, que foi Secretário de Governo da gestão da mulher, Rosinha Garotinho (PR), é réu no processo que apura a compra de votos para eleger vereadores aliados da família e o candidato à prefeitura Dr. Chicão (PR). A suspeita é que o programa social Cheque Cidadão tenha sido inflado às vésperas da eleição com o intuito de angariar apoios. A investigação sustenta que 18 mil novos nomes foram incorporados irregularmente ao cadastro. Em novembro, o ex-governador chegou a ser preso, acusado de coagir testemunhas, mas foi solto pouco depois por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma audiência do processo está marcada para abril.