RIO – Carioca é um sujeito que parece que tem medo do inverno. Não pode sentir um ventinho gelado que se empacota todo. E faz igualzinho com a casa. Abre o armário correndo e desencalha mantas, colchas, almofadas ou qualquer outra peça que engane a sensação térmica. Para não virar uma bagunça, convocamos arquitetos a dar sugestões, de preferência inusitadas, para acalentar a casa. A dupla Beto Figueiredo e Luiz Eduardo de Almeida encheu uma parede de plantas. Gisele Taranto inventou um novo formato de lareira. Vanessa Borges e André Piva vestiram uma parede de linho. E Mauricio Arruda espalhou almofadas pelo chão.
FLORES E PLANTAS
Como se estivessem em perspectiva, arranjos de plantas em vasos de barro e de porcelana contracenam com um ?painel? verde, que invade uma parede inteira de uma varanda de um apartamento, no Leblon. Orquídeas amarelas, lilases e brancas presas em xaxins colorem o ambiente assinado pela dupla Beto Figueiredo e Luiz Eduardo de Almeida, do escritório Ouriço Arquitetura e Design. O recurso é uma estratégia para esquentar, de forma figurativa, o ambiente.
? A planta, principalmente à noite, quando é iluminada da forma correta, dá uma característica de campo. É diferente de um gramado. A parede verde te dá um limite, te dá um fundo. E tudo o que é fundo aconchega ? filosofa Luiz.
O uso de uma lâmpada amarela é o segredo para criar esse climão.
? Um arbusto com uma luzinha amarelada já é gostoso. Essa mistura de elementos é fundamental para trazer conforto. É o calor sem esquentar ? diz o arquiteto.
O mix ao qual se refere está impresso no tapete persa vermelho que veste o chão da sala, nas almofadas, também florais, dispostas sobre duas poltronas, na pilha de livros e nos pequenos objetos espalhados pelo cômodo.
? Dois ou três livros jogados despretensiosamente em cima de uma mesa dão a ideia de que a casa tem gente, tem movimento. Outra dica para aquecer… ? aponta Luiz.
Uma terceira sugestão do arquiteto: investir em cantinhos.
? Quando vou a um restaurante, sempre escolho a mesinha lá no canto, para ficar mais sossegado. O canto, por si só, já é um local mais acolhedor. Se coloca uma poltrona e acrescenta uma luz bacana, fica perfeito. Na decoração, é muito mais fácil você criar esse clima acolhedor num cantinho do que em uma sala inteira ? conclui Luiz.
NOITES AO AR LIVRE
Uma recomendação rara para os dias de frio: aproveitar as noites ao ar livre. Se forem de lua cheia, melhor impossível. A dica, ousada, é a proposta da arquiteta Gisele Taranto, que assina o projeto de uma casa no Rio, em que a área externa tem uma mesa com um braseiro ? espécie de lareira que funciona à base de um líquido inflamável.
? A mesa tem um rasgo fininho na superfície, que é onde ela é aquecida. Mesmo com o fogo aceso, a peça continua exercendo sua função original, com espaço para apoiar objetos ? explica Gisele.
Posicionada em frente a uma piscina, a mesa foi ambientada com pufes, sofás e poltronas na cor azul-marinho e um ombrelone típicos de um espaço de lazer.
? O ambiente foi planejado para uma família que recebe muita visita, inclusive, no inverno ? diz a arquiteta.
A lista de truques de Gisele para aquecer a casa na estação não para por aí. Revestir móveis com feltro de lã, usar um tapete ?bem macio? no quarto e colocar uma pele em cima de uma poltrona são artifícios que acalentam o corpo.
? O feltro que usamos no Brasil é muito fino, e rasga, por isso não é aplicado na decoração ? comenta ela, que indica o uso de um tecido de origem italiana. ? Mas não funciona para o calor carioca no verão, esquenta muito.
Projeto de decoração à parte, para Gisele, o que espanta o frio de verdade é uma xícara de chá saindo fumaça.
? Nada como um bom chá.
ALMOFADAS NO CHÃO
Em vez de entrar no armário para se aquecer, sair dele.
? É tempo de ter mais tecido dentro de casa. Hora de tirar as mantas que estão guardadas o ano inteiro e usar não só na cama, mas na decoração ? propõe Mauricio Arruda, apresentador do programa ?Decora?, no GNT.
Colocar uma pele em uma poltrona ou em um sofá, renovar as capas das almofadas (seus respectivos enchimentos também) e jogá-las no chão, instalar cortinas e usar tapetes de fibra de plástico e vinil em espaços como uma cozinha são os palpites dele para a estação.
? Assim como a gente se veste mais no inverno, está na hora de vestir a casa também ? reflete Mauricio.
PAPEL DE PAREDE
Uma ?pele? com textura de linho, na cor verde-garrafa, cobre a parede encostada na cama de um projeto dos arquitetos André Piva e Vanessa Borges, na Barra. A cabeceira, de quebra, é de camurça. No mesmo ambiente, um espelho com moldura de madeira apoiado no chão descarta a impressão de que a parede está pelada.
? Deixar as paredes mais escuras, em tons de cinza, verde ou azul, usando papéis de parede com texturas, é uma solução para deixar a casa mais quente. Só de trocar a cor, já muda o clima ? sugere Vanessa. ? Uma foto ou um espelho também dão uma arrumada, sem a gente precisar entupir o quarto de coisas.
Um par de luminárias pendentes que caem sobre as laterais da cama contribui para dar uma esquentada no cômodo.
? A luz tem que ser indireta. Se for muito forte, não traz a sensação de acolhimento ? pondera a arquiteta.
Investir em estofados de couro ou camurça é outra dica da dupla para decorar e mudar a casa. A sobreposição de tapetes, outra.
? Tem que ser couro natural. Sintético, não. Marrom e caramelo são cores que sobressaem numa casa de campo, por exemplo ? diz Vanessa, que aposta no uso de capas e não de revestimento ?definitivo?. ? Quando a temperatura começar a esquentar, você não precisa reformar a casa inteira. É só trocar a cobertura da cabeceira da cama de camurça por uma de linho e clarear a cor do papel de parede.