Cotidiano

Branqueamento avança sobre os corais das ilhas Maldivas

RIO — Muito se fala sobre o branqueamento da Grande Barreira de Corais, na Austrália, mas o processo está acontecendo em outros atóis ao redor do mundo, no mais dramático evento deste tipo já registrado. O fenômeno foi documentado este mês por uma equipe científica do projeto Catlin Seaview Survey na República das Maldivas, um arquipélago com 28 atóis e cerca de 1,2 mil ilhas no Oceano Índico.

— O branqueamento que presenciamos nas Maldivas é verdadeiramente assustador — disse Richard Vevers, fundador da Ocean Agency, ao “Guardian”. — É raro ver um branqueamento de corais tão espetacular. Eles eram corais saudáveis em águas cristalinas. Os corpos dos corais se tornaram claros e nós podemos ver os esqueletos dos animais em branco brilhante até o limite da visão. É uma vista bonita, mas perturbadora.

O branqueamento de corais é observado há décadas, mas nos últimos dois anos o fenômeno se tornou especialmente intenso, pela conjunção do caos climático com um dos mais poderosos El Niños já registrados, que provocou aumento anormal das temperaturas das águas do Pacífico. Um estudo divulgado esta semana pelo Conselho Australiano de Pesquisas mostra que ao menos 35% dos corais da Grande Barreira australiana estão mortos ou morrendo.

De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) dos EUA, quando a temperatura da água está muito quente, os corais expelem as algas que vivem em seus tecidos e se tornam brancos. Isso não significa que ele está morto, mas se a perda das algas — que fornecem cerca de 90% de sua energia — se prolongar por muito tempo, o coral se torna incapaz de se recuperar.

O branqueamento também pode ser causado por poluição e exposição à luz solar, mas estes seriam eventos localizados. O que chama atenção é que o fenômeno atual é global. El Niños extremos como o dos últimos dois anos, que aquecem as águas não só do Pacífico, mas de todo o globo, não foram registrados antes de 1982. Desde então, aconteceu três vezes e a expectativa é que a frequência aumente por causa das mudanças climáticas.

— Nós estamos seguindo este terceiro evento global de branqueamento desde que ele começou, há cerca de dois anos. E quando você pensa já ter visto as mais tristes cenas possíveis, você vê algo pior — disse Vevers.

Além da tragédia ambiental, o branqueamento dos corais pode ameaçar a população das Maldivas. Além de movimentar o turismo, os atóis fornecem estoque de pesca e protegem as ilhas de inundações.