Policial

Denúncia: Cartas revelam comércio de drogas dentro da PEC

Segundo agentes, durante todo o dia é possível perceber o consumo de drogas

Cascavel – Considerada de segurança máxima, inclusive com um BodyScan para evitar a entrada de entorpecentes e objetos ilícitos, a PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel) é novamente alvo de denúncias. A reportagem de O Paraná recebeu uma série de e cartas, também chamadas pipas, que apontam a comercialização de entorpecentes dentro da unidade.

As cartas foram interceptadas por alguns agentes penitenciários e cópias foram entregues à reportagem para demonstrar que, diferentemente do que alega a direção, existe sim comércio de drogas dentro da PEC.

Um agente que trabalha na unidade e pediu para não ser identificado, durante todo o dia é possível perceber o consumo de drogas.

“Antigamente os presos até tentavam esconder, fumando mais durante a madrugada, mas hoje em dia eles consomem maconha e principalmente crack em qualquer horário”.

Conforme o servidor, o entorpecente entra na penitenciária de diversas formas.

“A principal é com as mulheres. A grávida, por exemplo, não podem passar pelo BodyScan e, se ela tem algo escondido dentro dos órgãos genitais ou mesmo se engoliu a droga para expelir depois, não tem como identificar”.

Além disso, o agente conta que alguns servidores acabam “afrouxando” no caso das mulheres que chegam à unidade para visitar familiares.

“É uma orientação que temos e também tem a questão da falta de servidores”, alega.

As cartas

Nas cartas interceptadas os presos, que dizem fazer parte do PCC (Primeiro Comando da Capital), citam depósitos ou mesmo pagamentos feitos “em mãos”.

“Fala pra ele que até quarta-feira a moeda está na mão ‘ok’. Na mesma se tiver no teu alcance de você ver quem tem uma para me vender. Se tiver já pede para o mano passar o número da conta, que amanhã já vai estar indo para a rua”, diz uma das correspondências.

Em outra pipa, o autor fala até de valores:

“Viu, minha senhora está com sua moeda. Os R$ 100. Viu minha senhora está com o número da sua senhora, mas eu pedi pra ela trazer em mãos. Gibi, eu to ligando você em dois, amanhã terei visita eu digo pra ela ligar para pedir o número da conta para depositar os R$ 150. Eu já deixo certo o corre”.

Em uma terceira carta, o preso cita que tem valores a receber.

“Tenho R$ 4.780 para receber no cadeião e R$ 50 não vai mudar minha vida. […] Eu vendi para ele depositar e não para mim resgatar na casa dele, até porque não sou daqui. Daí o irmão do Fabinho foi lá e pegou R$ 100 e era só R$ 50. Já falei pra ele ligar pra minha mina e passar essa conta, e ele não fez isso”.

Segundo o agente denunciante, esse último detento está se referindo a carceragem da 15ª SDP, de onde teria sido transferido.

Domínio do crime organizado na unidade já é antigo

De acordo com os próprios agentes, a PEC passou por uma série de mudanças desde a saída de Gilberto Pedro Rossin, que assumiu a direção em 2011, e hoje o PCC domina a unidade.

“Vários pontos mudaram, desde a quantidade de agentes, que até então eram 67 e diminuíram para 30 atualmente. A capacidade passou de 960 para 1.160 presos sem ter qualquer adaptação na infraestrutura da unidade. E os tão falados 'salve', que são os gritos dos presos faccionados, não aconteciam como hoje, quando ocorrem 24 horas por dia”.

Conforme os trabalhadores, até então celulares não eram vistos dentro da penitenciária e os presos, quando precisavam ficar isolados, eram separados dos demais.

“Hoje o isolamento é no próprio cubículo, com os demais”.

Eles ressaltam que os presos ligados ao PCC estão incrustados da unidade.

“Não existia o crime organizado. Hoje eles se reúnem em círculo no pátio, discutem exigências e fazem orações. São totalmente organizados financeiramente e estruturalmente”.

Investigação

Depois da fuga de sete presos da PEC, que segundo os agentes estaria ligada a um pedido feito pelos detentos de transferência de servidores que “atrapalhavam” a facção, o Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná) entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) uma série de documentos para que o Ministério Público investigue a atuação do crime organizado dentro da Penitenciária.

Uma das cartas interceptadas dentro da penitenciária mostra os presos pedindo para que “a vagabunda lá da frente” fosse transferida. A alegação deles é de que a agente penitenciária “atrapalhava” a entrada de ilícitos na unidade. Outra carta trazia até um mapa da unidade.