Cotidiano

Gás de xisto: Fracking ameaça 16% do território do Paraná

Municípios tentam se proteger da falta de informações e de decisões unilaterais

Toledo – Uma técnica de extração de gás de xisto conhecida por fracking, que desperta polêmica em várias regiões do planeta, poderá ser empregada em uma área que corresponde a 16% do território paranaense, ou 31,6 milhões de metros quadrados. Há previsão de uso do recurso inclusive em áreas de forte produção agrícola, como no Oeste, Sudoeste e Noroeste do Paraná – 155 municípios em todo o Estado.

Mesmo com falta de informação, com pouca transparência no repasse de dados e com tantas dúvidas, a ANP, Agência Nacional de Petróleo, segue com leilões para a disseminação do fracking no Brasil. O assunto desperta debates acalorados em várias regiões e também em cidades do Oeste, um dos principais celeiros agropecuários do País.

Um dos primeiros municípios a se erguer e a protestar contra os nocivos efeitos do fracking é Toledo, que envolve os mais diversos setores organizados no debate. O prefeito Beto Lunitti destacou o auditor fiscal Renato Augusto Eidt para pesquisar o assunto, licitações e as possíveis implicações da técnica no Brasil, no Oeste e no município.

As informações apuradas são preocupantes, coincidindo com o que especialistas apontaram em evento organizado pela Caciopar no ano passado em Ouro Verde do Oeste. A técnica é considerada perigosa ao meio ambiente e à vida, além de colocar em risco um negócio que movimenta, apenas por meio das cooperativas, R$ 16 bilhões por ano na região, ou 45% do Produto Interno Bruto.

A preocupação aumenta, conforme o relato de Renato, diante do decreto de número 8.437/2015, pelo qual a União retira dos estados e municípios a competência para a concessão do licenciamento ambiental que aprova a exploração. O processo está então nas mãos do Ibama.

Mobilização

Diante do que já pesquisou, leu e ouviu, o prefeito Lunitti sugere uma ampla mobilização regional para não permitir o fracking no Oeste.

“Órgãos de saúde, institutos e universidades no mundo todo já apresentaram estudos científicos que comprovam o quão danosa é essa atividade e temos que fazer o que for possível para impedir isso”, afirma o gestor.

Toledo aprovou lei que inspirou outros gestos semelhantes na região, proibindo o fracking em seu território.

“Poderão ocorrer prejuízos irreversíveis à agropecuária, ao meio ambiente e também ao Aquífero Guarani”, segundo Lunitti.

O deputado estadual Rasca Rodrigues é autor de projeto que tenta, desde a metade do ano passado, proibir a fratura de rocha para extração de gás no Paraná. Ele quer também moratória de cinco anos do fracking no Estado, o que daria tempo para aprofundar o assunto.

Em alguns países, a técnica é empregada em áreas de deserto, como ocorre na Argentina. O primeiro cuidado básico é definir onde o fracking poderia ser empregado, sem riscos, diz o empresário Edésio Reichert, ex-presidente da Acit. A possibilidade de uso da técnica não deve ser totalmente descartada, mas o problema é a falta de confiança nas informações e infelizmente em tudo o que vem do governo petista e seus comandados, diz Edésio.

Lei municipal

Com receio do fracking, municípios da região aprovaram leis municipais que tentam barrar a técnica. Entre eles estão Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Nova Santa Rosa.

Efluentes não tem tratamento

O fracking consiste na perfura de poço para a extração do gás de xisto retido na camada de rocha. Uma única operação chegaria a consumir 20 milhões de litros de água, que acaba contaminada por mais de 600 substâncias, algumas delas até radioativas. Segundo técnicos, ainda não há no mundo tecnologia para descontaminar esse efluente. Em apenas um ano de funcionamento, a capacidade de um poço cai em até 50%.