Cascavel e Paraná - Os mais antigos moradores da cidade lembram bem do bordão: “Eitaaaaa Cascavelãoooooo”! Era só ligar a Rádio Colmeia (AM) e ouvir o saudoso Darci Israel anunciando a Capital do Oeste. Hoje, o bordão volta à cabeça quando surge alguma notícia que mistura surpresa com exclusividade. Afinal, Cascavel é assim: da cidade onde o tigre arrancou o braço de um menino no Zoológico até o famoso “Dedão” do centro, não faltam histórias pitorescas. E, claro, no trânsito não seria diferente: um festival de “organização criativa” e planejamento digno de estudos pela “Nasa”.
As melhorias chegam, modernizam e até transformam. Mas, como em toda obra, junto vem também a indignação do povo, que olha para o resultado e pensa: “quem foi que planejou isso?”. A reportagem do Hoje Express foi conferir in loco três pontos de alto índice de buzina, confusão e reclamação: a Pracinha do Bairro Maria Luiza, a ponte nova do Bairro XIV de Novembro e a remodelada Avenida Assunção.
Esperada, necessária e…
A famosa “obra da carlos gomes”, que demorou quase dois anos para ficar pronta, alterou a rotina dos moradores do Bairro Maria Luiza. No lugar da calmaria, agora reina o trânsito rápido, barulhento e, também, confuso. A Rua Alexandre de Gusmão, que virou binário, é o epicentro das reclamações.
Quem sobe pela Rua Padre Anchieta para acessar a Gusmão se depara com pistas que somem e reaparecem, num verdadeiro jogo de esconde-esconde. Primeiro duas faixas, depois o “redondo” da praça que afunila tudo em uma só (quase um esganamento coletivo). Logo adiante, três pistas de novo, depois reduz para duas. É praticamente uma coreografia de trânsito: abre, fecha, some e volta.
Boca no trombone
Conversamos com a comerciante Sandra Fernandes que, morando há apenas cinco meses no local, tem uma lista de reclamações e fatos para compartilhar. Para ela, sair e entrar em casa é tarefa bastante difícil, já que a retirada da faixa de estacionamento do lado direito da via deixou “uma verdadeira pista de corrida” e, com o portão abrindo para o lado de fora, o carro fica mais da metade da pista para conseguir acessar a residência.
“Temos problema com os carros que transitam rapidamente e, por isso, eu mesma deixo o carro do outro lado da rua, entrando em casa apenas à noite”, relatou a moradora. Segundo ela, outro grave problema é a quantidade de tachões que fazem bastante barulho principalmente quando passam caminhões, que provocam outro grave problema. “Estou com a casa cheia de rachaduras e isso não tinha quando nos mudamos, foi aparecendo agora com o tempo e as mudanças na via”, reclamou.
Outra questão apontada pela comerciante é em relação à falta de estacionamento, já que todo o lado direito foi eliminado, ficando apenas o da praça. Ruim para os moradores que perderam todo o espaço em frente de suas casas, moradias estas que chamam a atenção pela quantidade de placas de venda. “Tenho muitos vizinhos que querem vender e sair daqui porque ficou ruim de entrar em casa, muito barulho, acho que deveriam rever toda esta questão”, disse.
Segurança
A Transitar explica que os tachões estão lá para “balizar os movimentos” (traduzindo: impedir barbeiragens). Rever o projeto agora implicaria demolir cantos de quadra. Ou seja: sem chance.
Sem alagamento, mas com “muvuca”
Do outro lado da cidade, quem sofria com alagamentos no famoso “Trevo da Petrocon” agora pode comemorar: a ponte nova sobre o Rio Quati resolveu o problema da água. Mas trouxe outro desafio: o trânsito virou uma verdadeira maratona. Para chegar ao bairro, a volta é tão grande que já dá para ouvir o GPS suspirando pela demora e “má vontade” dos motoristas em fazer a coisa certa.
No trajeto, não há pontos de parada, estacionamento proibido em toda parte, mas pelo menos a sinalização é caprichada: não faltam placas indicativas. Já os caminhões, especialmente os brutos mais robustos, coitados, sofrem: alguns ficam literalmente entalados tentando fazer a “voltinha” para acessar a BR-277.
A boa notícia? O alagamento sumiu. A má? A muvuca estacionou no lugar.
“Mal educados”
Nenhuma obra do mundo consegue resolver o velho problema: motoristas que confundem rua com pista de videogame e acham que podem fazer de tudo e de qualquer jeito, sem obedecer a sinalização e às normas de segurança. Na nova ponte do XIV de Novembro, a regra é clara: nada de atravessar de uma pista para outra, é preciso fazer o looping direitinho. Só que… adivinha?
No primeiro dia útil da liberação, no início da semana, vários motoristas foram flagrados pela equipe de fiscalização da Transitar desrespeitando as regras de trânsito e fazendo conversões irregulares, sendo que no local passam cerca de 25 mil pessoas todos os dias, entre motoristas, ciclistas e pedestres – mesmo flagrante feito pela reportagem. A Transitar já estuda a colocação de um radar eletrônico para ser o “dedo-duro oficial” dos maus condutores.
Cascavel tem estacionamento de “Ovnis”?
“Pra que uma rotatória deste tamanho?”, perguntou um motorista ao ver a nova obra na Avenida Assunção com a Rua Curitiba. O espaço é tão grande que poderia receber helicópteros e até “Ovni” (Objeto Voador Não Identificado), brincam os usuários da via), brincam os usuários
O curioso é a falta de padrão: em um trecho, rotatória pequena; no outro, média; logo depois, a gigante. É quase uma coleção. E como se não bastasse, estão inacabadas, cheias de terra no meio e concreto ao redor, sem sinalização.
Um engenheiro civil do Município chegou a alertar que, embora o projeto estivesse “no papel” dentro do padrão, na prática não funcionaria. Mesmo assim, foi mantido. O IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel) garante que o raio de 5 metros está certo. Mas, se não funcionar, pode ser “revisto” (lê-se: refazer).
Enquanto isso, motoristas seguem testando paciência no labirinto de faixas, placas e rotatórias. Resumindo: “os motoristas que lutem…” – “Eitaaaaa Cascavelãoooooo”!