Cotidiano

Lollapalooza 2017: festival teve bom som e algum transtorno

SÃO PAULO – Lolla pra muito. Muitos artistas, muita gente, muitos quilômetros percorridos, dentro e fora do festival. Shows muito intensos, alguns muito chatos. Alguns artistas muito pouco conhecidos, que assim chegaram e assim sairão de São Paulo. Em sua sexta edição brasileira, o festival outrora indie confirmou que o público não tem medo de roubada: cerca de 190 mil pessoas – segundo a produção, recorde absoluto de todas as seis edições – se despencaram até o longínquo (e, pior do que isso, contramão) Autódromo de Interlagos para curtir Metallica, The Weeknd, Duran Duran, Rancid e outros, em dois dias e quatro palcos.

Lollapalooza 26-3O sábado foi marcado, além do público gigantesco de 100 mil pessoas, por problemas logísticos: dificuldades na entrada, banheiros precários, longas filas nos bares para pegar bebidas… Para resolver o problema, a organização implantou barraquinhas espalhadas num enorme espaço no segundo dia.

Apesar do perrengue no sábado, tudo valeu a pena, devido principalmente aos shows de Metallica, The xx e Rancid. Os titãs americanos do metal privilegiaram o repertório de seu mais novo álbum, ?Hardwire… to self-destruct?, do ano passado, e não decepcionaram o público do primeiro dia, que, em sua grande maioria, estava lá para vê-lo.

Apesar do rolo compressor do metal, durante o show ainda sobrou algum público para a dance music adrenalizada e pouco exigente do duo The Chainsmokers, que trouxe para outro palco um som sem personalidade, mas adequado à balada de sábado. Dançante também foi o show do xx, um expoente do rock melancólico que voltou ao Brasil transformado para o Lollapalooza. O trio centrou o seu show no repertório de ?I see you?, seu terceiro álbum, que lançou em janeiro.

Rancid.JPGO momento de maior emoção do sábado talvez tenha vindo de quatro punks veteranos da Califórnia. O Rancid, que em 26 anos de carreira nunca tinha se apresentado no Brasil, também proporcionou um dos grandes momentos da primeira noite de Lollapalooza, com seu punk tingido de ska e tocado com muita garra. Liderado pelos guitarristas-vocalistas Tim Armstrong e Lars Frederiksen (o canhoto de longa barba), o Rancid adiantou uma música do novo disco, ?Salvation?, e brindou o público com hits em alta voltagem, como ?Roots radicals?, ?Time bomb? e ?Ruby Soho?. O primeiro dia de Lollapalooza Brasil 2017

Sem a presença de nomes de tanto peso no elenco, o domingo foi mais tranquilo, inclusive na chegada e na circulação em Interlagos (que ainda pode ser muito mais bem resolvida, já que, em vários momentos, as distâncias que o público deve percorrer entre os palcos incluem desvios desnecessários de rota). As pulseiras de controle de entrada e de consumo dentro do ambiente do festival, que geraram muita dor de cabeça para alguns presentes no primeiro dia, não chegaram a funcionar às mil maravilhas no domingo. Havia problemas no carregamento de crédito para consumo e filas grandes para resolver os problemas.

A cantora Céu, que mais tarde voltaria como convidada do Duran Duran, abriu a tarde do palco principal para um público ainda pequeno mas animado. Aliás, os artistas nacionais (como o BaianaSystem no dia anterior) não gozaram de muito prestígio, tocando sempre cedo e muitas vezes antes de estrangeiros menos conhecidos do que eles. A tarde estava mais para passeio no parque no domingão, com pouca gente dando atenção a bandas como Jimmy Eat World e Catfish and the Bottlemen, até o Duran Duran reunir a primeira multidão de dar gosto do dia.

BANDA PERFEITA NA HORA IDEAL

65986204_Sv£o Paulo SP 26-03-2017 - DURAN DURAN - LOLLAPALOOZA BRASIL 2017 - Apresentavßv£o do D.jpgSob o sol da tarde fresca paulistana, uma formação muito próxima da original, com o cantor Simon LeBon em grande forma e o baixista e galã John Taylor à frente, o Duran Duran enfileirou sucessos de 30 anos atrás, como ?Wild boys?, ?Hungry like the wolf? e ?Rio?, além de músicas mais recentes. Foi a banda perfeita na hora ideal.

Os veteranos ingleses deram a partida para uma tarde animada, que teve Two Door Cinema Club e MØ reunindo bons públicos em palcos diferentes ao mesmo tempo. Assim como no sábado sua prima sueca Tove Lo, a cantora dinamarquesa sensualizou com seu pop dançante, com boa resposta. Popular no Brasil, o Two Door dominou bem o palco principal, mantendo a atmosfera animada para os shows finais. Lollapalooza 2017: o segundo dia de shows

O badalado The Weeknd segurou a onda até demais, reunindo no palco secundário Onix sua maior multidão. O show do cantor e produtor começou animado com ?Starboy?, parceria com o Daft Punk que dá título ao seu novo álbum, do ano passado. O potente r&b algo oitentista da banda do canadense Abe Tesfaye funcionou bem com a massa, amparado por sua boa presença de palco , banda de peso e deslumbrante aparato visual. As músicas de ?Starboy? dominaram o repertório, indo dos graves violentos de ?Party monster? ao suingue eletrônico de ?Rockin’?.

Embora seu som não seja dos mais versáteis e variados, e as músicas girem muito em torno do romantismo sofrido, o jovem cantor ganha por ser incansável, bombástico e por ter star quality, o que fez com que conservasse o público na mão por todo o show.

STROKES DECEPCIONARAM

O quinteto nova-iorquino The Strokes presenteou o Lollapalooza 2017 com um fim melancólico. A banda liderada pelo entediado cantor Julian Casablancas tocou bem seus sucessos (que não são muitos), como “Last night”, “Hard to explain” e “12:51”, mas ninguém parecia feliz por estar no palco. Até o normalmente simpático baterista carioca Fabrizio Moretti saudou timidamente o público em português.

A banda demorava muito entre as canções, quando Casablancas fingia que enrolava o público, agradecendo e falando do vazamento do show do Flume, no palco Axe. A banda que nunca se encontrou após seus dois primeiros discos parece ter se perdido de vez.

Apesar deste encerramento anti-climax, depois de seis edições e um público tão grande e animado, o Lollapalooza pode se considerar consolidado no Brasil. Falta afinar o relacionamento com São Paulo e com Interlagos, mas o amor transborda.

LOLLAPALOOZA 2017: ALTOS E BAIXOS

Pulseiras. Novo sistema de controle para acesso e consumo deixou o público
confuso e causou muitos problemas nos dois dias.

Bares e ambulantes. Muitas filas e informações desencontradas. A situação
melhorou um pouco no segundo dia, mas não o suficiente.

Brasileiros desprestigiados. Atrações nacionais, como BaianaSystem e Céu,
mereciam horários melhores. Céu, aliás, foi a única artista mulher brasileira a
se apresentar.

Locomoção. Sobretudo no acesso do Palco Skol para o Ônix, que melhorou muito
em relação ao ano passado. Apesar do grande público e ainda que as distâncias
sejam grandes, foi possível circular sem tumulto.

Qualidade do som. O Palco Ônix, que teve muitos problemas em 2016, conseguiu
manter bom volume e clareza .

Horário. Não chegou a ser de pontualidade britânica, mas o festival não
sofreu com grandes atrasos.