BRASÍLIA ? Para boa parte da bancada do PT na Câmara, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde do governo da presidente afastada Dilma Rousseff é o nome que mais agrada para a sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Casa. Ele registrou sua candidatura nesta sexta-feira. No entanto, as negociações para apoiar Rodrigo Maia (DEM-RJ) estão avançadas.
Apesar de ser do PMDB, Castro se licenciou da pasta e voltou à Câmara para votar contra o impeachment, além de ser desafeto de Cunha, o que também é visto com bons olhos pelos petistas. A relação dos dois azedou quando Cunha, ainda presidente da Casa, destituiu Castro da relatoria da comissão que discutiu a reforma política, colocando em seu lugar o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na época, chegaram a trocar ofensas.
Deputados do PT contaram ao GLOBO que conversaram com o ex-ministro nesta quinta, quando foi aberta oficialmente a corrida pela sucessão, e que ele garantiu ter viabilidade dentro do PMDB. Ele afirmou conseguir arregimentar pelo menos 40 votos na bancada. Se isso ocorrer, o PT pode apoiá-lo, mas isso só será decidido em uma reunião de bancada na segunda-feira mesma data em que o PMDB deve se reunir.
Castro enfrenta um problema na bancada: se mantiver a candidatura, vai ter que disputar apoios de peemedebistas com pelo menos outros dois candidatos, o deputado Sérgio Souza (PR) e Osmar Serraglio (PR), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
? Claro que para nós é melhor votar em alguém que não apoiou o impeachment, e nesse contexto o nome do Marcelo Castro é um nome ótimo. Se realmente vingar o nome dele, que enfrentou o Eduardo Cunha, ele chega muito forte. Se não vetamos o nome do Rodrigo Maia, imagina o do Marcelo Castro? Marcelo me procurou, conversamos e ele disse que tem viabilidade, que tem 40 votos no PMDB ? disse o líder do PT, Afonso Florence (BA).
Apesar da simpatia ao nome do ex-ministro de Dilma, as negociações com Rodrigo Maia estão bem mais avançadas, admitem petistas. Há semanas ele vem mantendo conversas frequentes com quadros do PT em busca de apoio para o mandato tampão.
O deputado Vicente Cândido (PT-SP) tem simpatia pelo nome de Marcelo Castro, mas admite que, hoje, Rodrigo Maia tem mais condições de sair vitorioso. Além do apoio de parte da base do governo interino de Michel Temer, principalmente DEM, PSDB e PPS, e de parte do Centrão, ele poderia ter os votos da nova oposição – PT, PCdoB e PDT.
? Avançamos muito nas conversas com o Rodrigo, ele é um cara muito sério, tirando as convicções pessoais dele. Ele cumpre acordo, faz a Casa funcionar e tem bons apoios. Hoje eu acho o mais viável, sem muitas turbulências para a Casa, o que é fundamental nesse momento ? disse Cândido.
Mesmo agradando a petistas, o fato de Rodrigo Maia ser do DEM, um dos partidos que lideraram o processo de impeachment, incomoda os deputados.
? É mais difícil votar no DEM, claro, que foi um dos responsáveis pelo impeachment. Nesse contexto, o nome do Castro, apesar de ser do PMDB, tem um diferencial importante. Mas estamos ouvindo a todos ? afirmou Florence.
Uma das preocupações do PT, no entanto, é se o governo Temer vai entrar em campo para evitar que nomes do PMDB sigam no páreo, o que causará racha na base, sobretudo com os candidatos do Centrão.
Os petistas dizem que estão “jogando aberto”. Segundo eles, Maia estaria ciente da simpatia de parte da bancada ao nome de Marcelo Castro. Um deputado disse até que tenta construir um acordo entre os dois para o segundo turno.
Mas ainda não há consenso na bancada do PT, que está sendo cortejada por vários candidatos. Além de Maia e Castro, há quem defenda outros nomes, como o de Fernando Giacobo (PR-PR), Júlio Delgado (PSB-MG), Heráclito Fortes (PSB-PI) e José Carlos Aleluia (DEM-BA). Mas todos, sem exceção, enfrentam alguma resistência interna.