SÃO PAULO – Apresentada no domingo à tarde em uma praça no centro histórico de Santos, a peça “Blitz – O império que nunca dorme”, do grupo de teatro Trupe Olho da Rua, foi interrompida por policiais militares, um ator foi preso e os materiais usados na montagem apreendidos e levados para o 1º Distrito Policial da cidade.
Em um vídeo postado nas redes sociais, vê-se os policiais chegando no momento em que os atores estavam em fila, vestidos com fardas e saias. A bandeira brasileira e a do estado de São Paulo estavam hasteadam de cabeça para baixo, ao som do hino nacional.
Segundo o ator Caio Martinez Pacheco, que foi detido, a peça se propõe a “problematizar a instituição da Polícia Militar”:
? Tudo isso sob uma perspectiva histórica e por meio do humor ? disse ele, em entrevista ao GLOBO, antes de uma coletiva à imprensa para falar do caso, em Santos.
“Blitz”, diz Pacheco, foi contemplada pelo Programa Ação Cultural, do Governo do Estado de São Paulo, e vem sendo montada desde setembro do ano passado. Em suas passagens por festivais foram poucos os incidentes:
? A não ser por pequenas animosidades, mas nada do jeito que vimos ontem ? completou.
O ator disse que os policiais cercaram os atores e o público que estava assistindo a peça, interrompendo o espetáculo.
? Eles não nos acusaram de nada, apenas diziam que estavam sendo aviltados. Eu me recusei a acompanhá-los, então, fui levado à força. Na delegacia, fiquei algemado em um canto e não me diziam do que eu estava sendo acusado, cercado de PM’s. Depois de algumas horas, me soltaram dizendo que tinha sido por desobediência, resistência e desrespeito com os símbolos nacionais.
Parte dos materiais foram devolvidos ao grupo, mas outra parte, incluindo símbolos como bandeiras e outros ítens, foram retidos pelos policiais.
A Prefeitura de Santos disse, por meio de nota, que não foi comunicada previamente sobre a apresentação do grupo no domingo: “A intervenção da Polícia Militar foi de iniciativa própria considerando o conteúdo da peça apresentada, com uso de símbolos nacionais”.
A Prefeitura, segue a nota, disse compreender “a importância das crescentes manifestações culturais em praças públicas e sua preocupação é apenas com a segurança e conforto do público”. Além disso, dispõe-se a “manter reunião com os movimentos culturais e as forças policiais visando assegurar a livre manifestação cultural e a preservação da segurança”.