QUITO – Na falta de tempo, a segurança. Ainda que o futebol não seja ciência exata, Tite recorre a todos os elementos que estão a seu alcance para ampliar o prognóstico de sucesso. Um esquema tático que estudou e que se acostumou a adotar, jogadores em funções que exercem nos clubes ou cumpriram na seleção recentemente e muita conversa para transmitir seus conceitos. Nesta terça, fechou o treino em Quito, mas o primeiro ensaio no Equador apontava um desenho similar ao do Corinthians campeão brasileiro de 2015, um 4-1-4-1. E os jogadores foram postos em posições e funções que não lhes são estranhas. Equador x Brasil nas eliminatórias
Reduzir o tempo de adaptação de cada um à forma de jogar é um desafio até a partida de amanhã, contra o Equador. Ainda mais que, novamente, o Brasil entra em campo em inferioridade em relação ao rival quando o tema é continuidade. A seleção estreia um treinador, enquanto os rivais são comandados por Gustavo Quinteros há um ano e sete meses. Entre lesões e opções do novo técnico, o Brasil tem, entre os 23 convocados, onze nomes diferentes do grupo que enfrentou Uruguai e Paraguai, em março, nas últimas duas rodadas das eliminatórias. Já o Equador, que convocou 31 jogadores embora só possa inscrever 23 por partida, pode ter uma lista com apenas seis mudanças. No time titular, pode repetir até dez jogadores, contra um limite de sete da seleção.
Para tanto, Tite tenta diminuir o limite do desconhecido. No ano sabático que tirou em 2014, foi à Europa observar métodos de treinamento e conversar com treinadores. Um dos objetivos era aprimorar o funcionamento do 4-1-4-1, usado em algumas passagens do Corinthians campeão mundial de 2012. E que se tornou marca corintiana no título nacional de três anos depois.
Em 2012, houve jogos em que Tite adiantou Paulinho, que deixava de ser um volante escalado lado a lado com Ralf para integrar a linha de meias por trás do atacante. Agora, Paulinho volta à seleção e, no primeiro treino tático, executou tal função. Tinha como companheiro de meio-campo Renato Augusto, que também jogou com Tite nesta função, mas em 2015. Com eles, busca uma seleção capaz de ter segurança defensiva mas, acima de tudo, posse de bola e transições eficientes para o ataque. Antes dos jogadores se apresentarem, o técnico já buscava ganhar tempo, como contou ontem Casemiro:
? Antes mesmo de a gente chegar, ele enviou vídeos, coisas relativas ao trabalho dele, ao que pretende dos jogadores. Claro que aqui, falando diretamente e ele mostrando, é ainda melhor.
No primeiro treino, Tite indicou que Willian deve atuar pela direita, onde costuma jogar no Chelsea e na seleção. Mas, na parte tática da atividade, Taison foi testado no setor. Na esquerda, treinou Neymar, em seu posicionamento habitual do Barcelona. O craque pode vir a ser usado também no centro do ataque. Ainda que as características e a experiência internacional dos jogadores sejam distintas de Willian e Neymar, o 4-1-4-1 do Corinthians tinha, pela direita, Jádson, um jogador de meio-campo; e, pela esquerda, Malcom, atacante de origem.
? Apesar das limitações físicas, tentamos trabalhar com eles em suas posições e funções. O tempo é curto, mas é preciso potencializar de alguma forma ? disse Tite, que mostrou preocupação em preservar de partes do treino jogadores mais desgastados com viagens desde a Europa.
A opção por Gabigol no ataque mantém a decisão por ter um centroavante como referência de ataque. No Corinthians, até Vágner Love virar, Tite passou por diversas alternativas, entre elas usar Danilo, um meia, como o chamado ?falso 9?.
Com apenas três dias de convivência com os jogadores até a partida e a dificuldade de ter o grupo completo ? o zagueiro Marquinhos só chegou ontem à tarde ?, Tite se prende a aspectos específicos do jogo. Prepara medidas para as características que espera da partida em Quito.
? Temos que apressar etapas para que o resultado aconteça no campo. Desde criar um bom ambiente de trabalho ? afirmou Tite, que tem conversado muito com os jogadores. ? Coletivo e individual precisam ser fortes. Isso não garante resultado, mas, sim, um bom desempenho.