RIO – Chris Cornell gosta de se manter ocupado. Há uma semana, ele encerrava uma pequena turnê ? histórica ? com o Temple of the Dog, projeto que mantém com os amigos do Pearl Jam (a banda toda, inclusive, ocasionalmente, o cantor Eddie Vedder). O Temple comemorou, na primeira turnê de sua história, com oito datas pelos Estados Unidos, os 25 anos de seu único disco, que leva o nome da banda. Depois de cantar ?Hunger strike?, ?Times of trouble? e outras com parças como os guitarristas Mike McCready e Stone Gossard, Cornell teve exatamente uma semana de descanso. Após subir ao palco do Paramount Theater, em Seattle, no último dia 21, para encerrar a excursão, hoje ele começa outra empreitada, também em um teatro. Sozinho com seu violão, o cantor do Soundgarden e do Audioslave se apresenta no Teatro Municipal de Santiago, no Chile, com a turnê ?Higher truth?, que chega ao Rio no dia 8 de dezembro, no Teatro Bradesco, no meio de um giro pela América do Sul que inclui Curitiba (dia 9) e São Paulo (11). Músicas do Temple of the Dog podem muito bem aparecer no repertório.
? Eu canto as faixas de ?Higher truth? (disco de 2015 lançado agora no Brasil, criticado ao lado) que me vierem à cabeça e mais outras diversas, das minhas bandas e de outros artistas ? adianta ele, em um papo por telefone. ? Em 2010, eu comecei uma turnê acústica, pensando dessa forma, na liberdade de estar ali sozinho, sem ter que berrar à frente de uma banda com guitarras, baixo e bateria. Não foi legal, deu tudo meio errado (ele veio ao Brasil duas vezes nesse formato, em 2007 e 2013), e eu resolvi montar realmente um espetáculo acústico.
O disco ?Higher truth?, de sucessos como ?Nearly forgot my broken heart? (com o clipe em que o cantor é condenado à morte por enforcamento) já foi composto e planejado pensando nos shows no formato barzinho.
? É um disco normal, com instrumentos elétricos, mas as músicas e os arranjos são pensados para os shows apenas com o violão ? explica Cornell. ? Assim eu me divirto, toco e canto com total segurança, e posso pirar no repertório. Claro que, naturalmente, as músicas das minhas bandas estão ali, são quase 30 anos de carreira. Mas também posso tocar o que quiser, dependendo do meu estado de espírito, como as covers que gravei (como ?Billy Jean?, de Michael Jackson, ?Nothing compares 2U?, de Prince) ou qualquer outra coisa.
A expressão, apesar de vaga, é precisa. Em um show em Winnipeg, no Canadá, em julho, Cornell mandou um Bob Dylan (?The times they are a-changin??, com aquela gaita presa ao pescoço e tudo), um John Lennon (?Imagine?) e ?One?, do U2 ? só que com a letra de ?One?, do Metallica. Ao longo dos anos, a lista só cresceu: Led Zeppelin, Beatles, Bruce Springsteen, Bee Gees, Pink Floyd…
? Quero mostrar as músicas do meu disco, tocar o que as pessoas querem ouvir (às vezes faço uma sequência só atendendo a pedidos) e o que me agradar naquele momento ? resume. ? No começo, era muito cansativo, mas agora está ficando mais fácil. Só tenho problemas quando exagero e toco por três horas e meia, por aí. O público geralmente fica feliz, mas eu, às vezes, tenho que fazer show na noite seguinte.
MEMÓRIAS DE 25 ANOS ATRÁS
Temple of the Dog, a banda, foi formada como um tributo a Andrew Wood, músico de Seattle que liderava o Mother Love Bone, banda da mesma geração de Soundgarden, Pearl Jam, Nirvana e outras, morto por overdose de heroína em 1990, aos 24 anos. Se marca um quarto de século do disco que leva o nome do grupo, 2016 celebra a mesma efeméride do furioso ?Badmotorfinger?, álbum que colocou o Soundgarden do então cabeludo Cornell no mapa do grunge e do rock.
? É uma data boa ? avalia o cantor. ? Um disco completar 25 anos é como uma máquina do tempo. Você pensa naquela época, no que estava fazendo, em quem era. Gosto de voltar e ouvir o disco inteiro, até as músicas que nunca tocamos ao vivo. As conhecidas, como ?Jesus Christ Pose? e ?Outshined?, estão sempre por aí.
Ele também celebra a oportunidade de reunir o Temple of the Dog.
? Nós nunca funcionamos como uma banda ? conta. ? Na época, ensaiamos duas ou três vezes e gravamos o disco. Agora que conseguimos juntar todos para ensaiar, tocar e conviver por duas semanas, estamos muito felizes. Vamos ver aonde isso vai.
Sua (outrora) banda principal, o Soundgarden, anda parada, mas ele promete novidades.
? Estamos no meio do caminho no processo de compor as músicas de um novo disco. Vamos ver se a próxima turnê vem ao Brasil.
Sério, o cantor de 52 anos usa o humor para falar do prêmio Nobel dado a Bob Dylan.
? Se fosse o prêmio Cornell, ele já tinha ganhado há muito tempo…