Cotidiano

Itaipu já ultrapassou toda produção de 2022 e também ajudou ‘segurar’ tarifa

Desde que voltou ao poder, em 2023, Lula tem recorrido à Itaipu como opção de investimentos e outras questões
Com a abertura mínima das comportas da calha esquerda estão sendo vertidas 1.400 m³ de água por segundo, o equivalente à vazão média das Cataratas do Iguaçu. A operação iniciou às 6h e a previsão é que o vertedouro opere pelos próximos dez dias.
Desde que voltou ao poder, em 2023, Lula tem recorrido à Itaipu como opção de investimentos e outras questões Com a abertura mínima das comportas da calha esquerda estão sendo vertidas 1.400 m³ de água por segundo, o equivalente à vazão média das Cataratas do Iguaçu. A operação iniciou às 6h e a previsão é que o vertedouro opere pelos próximos dez dias.

A produção da Itaipu Binacional no ano de 2023 ultrapassou, na sexta-feira (10), o montante produzido em todo o ano de 2022, de 69,9 milhões de MWh, pela hidrelétrica. Essa produção está sendo atingida 50 dias antes do término do ano, e é suficiente para atender o estado do Paraná por dois anos ou o Paraguai por 3,5 anos. A geração está sendo possível devido à maior disponibilidade hídrica ao longo de todo o ano de 2023, ao maior consumo dos sistemas interligados brasileiro e paraguaio e aos excelentes índices de disponibilidade dos equipamentos de Itaipu.

A quantidade de água que chegou em Itaipu ao longo do ano de 2023 foi 47% maior que em 2022, passando de pouco menos de 7.000 m³/s, em média, para mais de 10.000 m³/s. Além de chuvas na região do reservatório de Itaipu, a situação dos demais reservatórios em toda a bacia do rio Paraná também contribuiu com este aumento. Enquanto no início de 2022 o período de chuvas foi responsável por recuperar estes reservatórios, o início de 2023 encontrou estes reservatórios cheios e fez com que mais água chegasse à Itaipu.

Até o final do mês de outubro, Itaipu forneceu 14,5% a mais de energia para o Paraguai e 26,2% a mais para o Brasil, em relação ao mesmo período do ano de 2022. Para o sistema brasileiro, no dia 5 de novembro de 2023, o total do ano já superou o total suprido em todo o ano de 2022. Já para o sistema paraguaio, o total suprido em 2022 deve ser superado ao longo do mês de novembro.

Para o ano de 2024, há a expectativa de se manter o ritmo de produção de 2023, com boa oferta de água em Itaipu. A usina seguirá atendendo às necessidades dos sistemas interligados, não só fornecendo energia limpa e renovável aos dois países, mas também contribuindo como uma espécie de “bombeiro” do sistema, atuando para compensar a variabilidade na geração das fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica.

 

Vertedouro

Com três calhas (esquerda, central e direita) e 14 comportas, o vertedouro tem a função de descarregar toda a água não utilizada para geração e que não pode ser armazenada no reservatório da usina. A capacidade máxima de descarga do vertedouro é de 62,2 mil m³/s, 40 vezes superior à vazão média das Cataratas do Iguaçu.

Na sexta-feira(10), a hidrelétrica de Itaipu fez uma manobra técnica para alterar a calha atualmente usada para o escoamento da água do vertedouro para outra calha, de menor capacidade. Segundo os técnicos da usina, a manobra se deve à redução do vertimento, que acompanha a tendência de redução da afluência à usina.

Com a redução do volume de água vertida, foi necessário alterar a calha utilizada e abrir as comportas da calha direita, que exige um vertimento mínimo de 700 m³/s para formar o “salto”. Dessa forma, não há comprometimento das estruturas. Na sexta-feira, o vertimento ficou por volta de 1.000 m³/s, oscilando de acordo com as necessidades operativas. A previsão é de que o vertedouro permaneça aberto até este domingo.

Foto: Itaipu

 

Usina também contribui para “segurar” a tarifa de energia

O diretor financeiro de Itaipu, André Pepitone, disse também nesta semana, que a usina binacional tem contribuído de forma significativa para a modicidade da tarifa de eletricidade do Brasil. A declaração foi feita no evento ABRA-tec – Inovações Tecnológicas e Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental das Hidrelétricas, no encontro que aconteceu nas instalações do Parque Tecnológico Itaipu, na área da usina.

Segundo o diretor, com a quitação da dívida da construção da hidrelétrica, no dia 28 de fevereiro de 2023, a realidade de Itaipu no setor elétrico mudou. “Ao observarmos o valor do MWh (megawatt-hora) nos leilões realizados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o custo da energia de Itaipu é o terceiro mais barato”, afirmou.

Só é mais barato que Itaipu o custo das usinas cotistas da Lei número 12.783/13 e o das usinas hidrelétricas do Rio Madeira – Santo Antônio e Jirau – e do Rio Xingu – Belo Monte. “Hoje, se a gente pegar o preço médio de aquisição de energia de todas as distribuidoras das quais a Itaipu é cotista, a energia de Itaipu entra abaixo do preço médio, puxando o valor da energia para baixo, ou seja, contribuindo para que o consumidor brasileiro pague uma energia mais barata”, concluiu.

 

Tarifa

O modelo financeiro adotado em Itaipu é o da Receita pelo Custo, isto é, a receita é estabelecida para a plena cobertura dos custos, sem apuração de lucro. As despesas de exploração incluem os gastos relativos à prestação dos serviços de eletricidade, incluindo operação e manutenção, assim como gastos de administração e investimentos no campo da responsabilidade social e ambiental.  Outro gasto previsto é o de rendimento de capital: 12% ao ano sobre sua participação no capital integralizado, pagos à Ande (estatal paraguaia) e à ENBpar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional).

Há ainda nos custos o pagamento de royalties pela utilização do potencial hidráulico e o ressarcimento dos encargos de administração e supervisão, pagos a Ande e ENBpar. O Cuse (Custo Unitário do Serviço de Eletricidade) da Itaipu atingiu, em 2023, o menor valor histórico, depois da renegociação da dívida de construção da usina, cuja última parcela foi paga em 28 de fevereiro de 2023, quando foram repassados US$ 107 milhões ao BNDES e US$ 8 milhões à Eletrobras.

 

Comercialização

Pepitone também fez questão de ressaltar que, de acordo com o Tratado de Itaipu, a aquisição da energia elétrica produzida pela usina só pode ser feita pela Ande, e pela ENBpar. “Não há previsão de comercialização para outras entidades”, afirmou.

O diretor destacou ainda que a Binacional tem um diferencial em relação a outras empresas do mercado. “Primeiro, por ser uma binacional e, segundo, porque tem que gerar energia e também promover o desenvolvimento socioambiental da região.”

“Mesmo com o custo do programa socioambiental, Itaipu alcança hoje um valor altamente competitivo no mercado. De novo, um valor abaixo do custo médio das distribuidoras, do ACR médio, que é a média de preço do País”, reforçou.

 

Atenção nas ações ambientais

O diretor André Pepitone também lembrou que, além da sua importância na produção de energia elétrica, a usina binacional beneficia hoje, diretamente, em sua área de abrangência, 17.704.000 pessoas. São cerca de 11 milhões de brasileiros e brasileiras, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul, e toda a população paraguaia, estimada em 6.704.000 habitantes.

O número de brasileiros aumentou com a ampliação da área de atuação da usina para todos os 399 municípios do Paraná e 35 do Mato Grosso do Sul. Em 21 de julho deste ano, o Conselho de Administração de Itaipu aprovou o programa “Itaipu Mais que Energia”, que prevê o investimento de 931,5 milhões nesses municípios, especialmente nas áreas social e na inclusão.

Pepitone explicou que os investimentos de Itaipu no campo da responsabilidade social e ambiental foram reforçados ainda no ano de 2005, pela Nota Reversal 228, trocada entre o Brasil e o Paraguai, que prevê que essas atividades “devem inserir-se como componente permanente na atividade de geração de energia, de acordo com a missão, políticas e diretrizes fixadas, ou que vierem a ser fixadas, pelo Conselho de Administração da entidade binacional”.

Segundo ele, essas negociações entre os dois governos, a respeito de Itaipu, são resultado já das primeiras discussões que deram origem à hidrelétrica binacional. Com a assinatura do Tratado de Itaipu, que este ano completou cinquenta anos, começaram a ser criados entre os dois países laços cada vez mais fortes e que se traduziram em investimentos nas mais diversas áreas.

 

Benefícios

Os benefícios ambientais trazidos a partir da entrada em operação de Itaipu incluem a absorção de CO2 nas áreas protegidas e a redução de emissões, que, nesses quase 50 anos, atingiu 2,94 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.

Para a população da área de atuação de Itaipu, só os últimos investimentos da usina, na margem brasileira, passam de R$ 1,6 bilhão em obras de infraestrutura, entre as quais a Ponte da Integração (e Perimetral Leste), a iluminação do trecho urbano da BR-277 e um trecho da Estrada da Boiadeira, além da expansão do aeroporto de Foz do Iguaçu e a duplicação da Rodovia das Cataratas, em execução.

Sobre os projetos estratégicos, Pepitone citou os investimentos na revitalização do Sistema de Corrente Contínua associado à usina de Itaipu (HVDC), no valor de US$ 380 milhões, a Atualização Tecnológica da Usina, no valor de US$ 956 milhões, e a contribuição de Itaipu para o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), nos próximos quatro anos, com um aporte de US$ 889 milhões.

“Todos esses compromissos trazem benefícios aos consumidores nacionais e promovem o desenvolvimento social e econômico de ambos os países, com a manutenção da competitividade e da sustentabilidade financeira da entidade binacional”, informa.

 

Negociação do “Anexo C”

Com a quitação da dívida, o Brasil e o Paraguai se preparam para negociar o Anexo C do Tratado de Itaipu, que trata das bases financeiras e de prestação dos serviços de eletricidade. Quando o Tratado foi assinado, previu-se que as disposições do Anexo C seriam revistas após 50 anos, levando em conta, entre outros aspectos, o grau de amortização das dívidas contraídas pela Itaipu para a construção e a relação entre as potências contratadas pelos países.

A negociação do Anexo C caberá, conforme disposto no Tratado de Itaipu, aos Ministérios das Relações Exteriores dos dois países, com o apoio das autoridades das respectivas áreas de energia e dos setores elétricos. “O papel de Itaipu é o de subsidiar tecnicamente o trabalho das Altas Partes nessa negociação”, comentou.