Cotidiano

Ataques jihadistas nos EUA não têm cidadãos de países vetados por Trump

201609120850473116_AP.jpgRIO – Em 11 de setembro de 2001, os ataques terroristas que deixaram quase 3 mil mortos nos EUA foram todos cometidos por jihadistas que vieram respectivamente de Arábia Saudita, Emirados Árabes, Líbano e Egito. Todos os terroristas entraram legalmente com vistos. Desde então, houve outros dez ataques fatais em solo americano considerados de extremismo islâmico ou inspirado nele. Mas nem o 11/9 e nenhum dos ataques posteriores foi cometido por cidadãos de Irã, Iraque, Iêmen, Líbia, Síria, Somália ou Sudão. Isto já gerou especulações na imprensa sobre as razões para as escolhas seletivas. TRUMP

Após o atentado de dezembro de 2015 em San Bernardino ? no qual um atirador paquistanês e sua mulher, nascida nos EUA mataram 14 pessoas a tiros em uma conferência para pessoas com necessidades especiais ? o então pré-candidato republicano Donald Trump pediu o veto à entrada de muçulmanos “até que as autoridades entendessem o que estava acontecendo”. Nenhum dos autores tinha relação direta com os países vetados, apesar de professarem o radicalismo islâmico.

Mas outros ataques semelhantes ocorreram neste meio tempo ? nenhum com os países citados:

Treze pessoas foram mortas e mais vinte ficaram feridas quando um atirador entrou na base militar de Fort Hood, no Texas, e abriu fogo em 5 de novembro de 2009. O major Nidal Hasan, psiquiatra do Exército e filho de imigrantes palestinos, foi acusado de realizar os 13 crimes de homicídio de forma premeditada, além de mais 32 tentativas de assassinatos premeditados. Ele justificou o ataque por motivos religiosos e em defesa do Islã.

Num caso icônico, dois irmãos de origem do Quirguistão ? Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev ? explodiram bombas de panela de pressão na chegada Maratona de Boston, em 2013, matando quatro pessoas e ferindo mais de 260. Na fuga, dias depois, Tamerlan foi morto, enquanto Dzokhar foi capturado. Muçulmanos, ambos haviam atribuído as ações terroristas à religião e ao repúdio às ações dos EUA no Oriente Médio.

E, no caso mais crítico e com reivindicação de extremismo islâmico, o americano filho de afegãos Omar Mateen matou 49 pessoas na boate gay Pulse, em Orlando (Flórida) antes de ser morto pela polícia em 2016. Trump voltou a pedir a suspensão da entrada de muçulmanos no período.

Quando Trump, já presidente, vetou a entrada de cidadãos dos sete países listados sob motivos de segurança interna dos EUA, muitos se questionaram: por quê especificamente estes?

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Um levantamento do FBI mostra que os países que tiveram autores de ataques terroristas de relação com o islamismo desde o 11 de Setembro são: Arábia Saudita (15 responsáveis), EUA (6), Egito e Quirguistão (2 cada), Líbano, Kuwait e Paquistão (1).

? O banimento é menos sobre segurança nacional e mais sobre dar avanço a uma visão de mundo baseada na exclusão racial e religiosa ? disse ao “Washington Post” J.M. Berger, acadêmico do Centro Internacional de Contraterrorismo, em Haia, e coautor de um livro sobre o terror do Estado Islâmico.

Analistas notaram que quase todos os países barrados são pobres, com poucas (ou quase nenhuma) perspectiva de fornecimento de recursos relevantes hoje para os EUA.

Para um artigo no “New York Times”, há uma explicação para que países como a Arábia Saudita, que é o principal Estado professor da visão wahhabista (extremista) do Islã, não estejam incluídos, apesar de haver indícios de ligações com o terrorismo islâmico e até com o 11/9.

“Estes países, ao contrário dos sujeitos ao veto, são alguns com os quais Donald Trump fez negócios. Na Arábia Saudita, a divulgação financeira mais recente do governo revelou várias corporações de responsabilidade limitada de Trump. No Egito, ele tinha duas empresas da marca Trump registradas. Nos Emirados Árabes, licenciou seu nome para um resort de golfe em Dubai e um luxuoso empreendimento residencial e spa. Algumas dessas entidades foram fechadas desde então, e outras permanecem ativas. (…) Um olhar para outras nações com grandes populações muçulmanas só reforça esse padrão preocupante. A Turquia, a Índia e as Filipinas poderiam representar riscos semelhantes aos dos países de origem proibidos que dizem respeito ao presidente. No entanto, Trump fez negócios em todos os três lugares. Eles também são omitidos de sua lista”, escrevem Richard Painter e Norman Eisen.

Nove assassinatos em massa nos últimos anos nos EUA

(Colaborou Breno Salvador)