Cotidiano

Delatora: João e Delcídio tiveram 1ª conversa nus

A delatora Mônica Regina Moura contou que, em 2002, ela e o marido, João Santana, foram convidados a trabalhar na campanha de Delcídio do Amaral ao Senado Federal. Na ocasião, o casal acabara de fundar a Polis Propaganda. Em delação premiada, a marqueteira contou que a primeira conversa entre João e Delcídio ocorreu dentro de uma sauna, com ambos sem roupa — um cuidado do ex-senador, segundo ele, em relação a grampos.

"A primeira conversa entre os dois teve um fato inusitado. O João não conhecia o Delcídio. Chegando na casa dele, o Delcídio convidou o João para conversar na sauna. Tudo que eles conversaram a respeito de campanha foi feito os dois sem roupa. Hoje em dia, imagino, isso era um cuidado dele em relação a gravações", relatou Mônica Moura.

Era o primeiro ano de criação da empresa dos marqueteiros. Na ocasião, Delcídio tentava lançar carreira política, lotada à época como diretor de uma empresa de energia. Ele visava ao Senado, como representante do Mato Grosso do Sul — uma candidatura, segundo Mônica, considerada impossível diante dos competidores, "políticos históricos da região". O novato chamou João para conversar em Campo Grande, e a companhia aceitou o serviço.

Já no segundo encontro, Mônica tomou a dianteira do acerto de valores do trabalho, em sua primeira negociação financeira de campanhas. Depois de realizar uma reunião privada com o marido, na qual pensavam o quanto cobrar de acordo com o porte da campanha, Mônica mostrou a Delcídio uma proposta de R$ 4 milhões.

"Delcídio falou que não poderia pagar tudo isso oficialmente, que a campanha dele era muito pequena, que tinha acabado de entrar no PT. Como eu sabia que isso acontecia, acabei aceitando e fizemos um acordo. Na época, foi colocado que foi metade, metade. Mas não acho que foi isso. Foi mais por fora e bem menos por dentro", explicou a marqueteira, em referência a pagamentos de caixa dois e aportes oficiais da campanha do futuro senador.

US$ 1 milhão em conta no exterior

A definição dos recursos pagos por dentro ou por fora cabia a Delcídio, segundo ela. A parte oficial foi paga pelo PT de Mato Grosso do Sul; a extraoficial coube a depósito de US$ 1 milhão de dólares em uma conta no exterior de João Santanas e entregas em espécie do próprio Delcídio e, uma vez, da mulher dele, Maika do Amaral. Mônica chegou a criar um embate com Delcídio, que tentava colocar a grande maioria como caixa 2, enquanto ela defendia ser impossível gerir a contabilidade de três meses de campanha com um valor oficial irrisório.

Mônica guardava os extratos dos pagamentos há anos e jogou fora, preocupada, ao ver o avanço da Operação Lava-Jato. Na delação, ela sustenta que Delcídio foi o primeiro a usar o argumento hoje comum entre políticos sobre o teto de gastos estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ela destaca como provas as agendas — que guarda desde 1990, espécie de "diários", segundo a delatora — e registros de viagens.

"Ele falou na época o argumento de não ter limite de campanha para ser tudo por dentro (os pagamentos). O TSE estabelece todo ano um limite de gastos para cada cargo. Se pagar 100 milhões só a marqueteiros, como paga todo o resto? Campanha política envolve pesquisas, comícios, colaboradores. Não sobraria margem de manobra. A Dilma gastou mais (que o teto para presidente em 2014). O Aécio também", delatou Mônica.