Cotidiano

Investigações apontam fraudes ainda maiores

MPF afirma que ainda há muito trabalho pela frente e que operação está longe do fim

Foz do Iguaçu – Desde o início das ações externas, com a deflagração da primeira fase da Operação Pecúlio em abril do ano passado, já foram levados à Justiça cerca de 150 nomes que se tornaram réus no processo que investiga um dos maiores esquemas de corrupção na administração pública municipal da região de Foz do Iguaçu já descoberto.

Na série de reportagens sobre as suspeitas do desvio milionário de dinheiro na Prefeitura de Foz do Iguaçu com a facilitação de esquemas em licitações, hoje você vai entender em que fase está o processo que deve seguir por muito tempo ainda e que deverá revelar fraudes ainda maiores das que já foram tornadas públicas. Para não atrapalhar as investigações, elas não podem ser detalhadas nem divulgadas.

Já são três ações penais contra secretários municipais, o ex-prefeito Reni Pereira, que, segundo o MPF (Ministério Público Federal), liderava o esquema de corrupção denominado de “organização criminosa”, vereadores e dezenas de empresários.

Os procuradores da força-tarefa afirmam que novas ações penais serão ajuizadas, frutos das investigações em curso. “Temos centenas de documentos ainda a serem analisados e sempre chegam novas informações”, ressalta o procurador Juliano Gasperin.

Pelo menos uma das ações penais já teve sua denúncia apresentada à Justiça e aguarda sentença para este ano. São quase 80 réus. “Outras ações penais estão em instrução, na fase de ouvir as testemunhas de defesa”, segue o procurador.

As oitivas com as testemunhas de defesa foram retomadas no dia 4 de agosto e seguirão por quase duas semanas. Nelas são ouvidas ao menos 85. No mês passado cerca de 50 já deram seu depoimento à Justiça Federal.

DE ONDE SAÍA O DINHEIRO

Mas quais eram os contratos ou os serviços prioritariamente fraudados? Segundo o MPF, a saúde e as obras públicas eram os principais alvo por um motivo: são essas as pastas com maior orçamento. Somente para o PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), em parceria com o governo federal, R$ 68 milhões foram destinados a edificações públicas em Foz do Iguaçu e a saúde responsável por um dos maiores orçamentos do Município. “Onde tem mais dinheiro é onde tem proporcionalmente mais desvios”, cita o procurador Juliano Gasperin.

E a soma desviada? O procurador Alexandre Halfen da Porciuncula diz que nunca parou para pensar nem para fazer a conta, mas revela que no início deste ano estimava-se um rombo de mais de R$ 30 milhões. “Mas ainda estamos apurando outras fraudes que não foram denunciadas e elas são tão grandes quanto as já denunciadas, por isso é difícil mensurar e perseguir este dinheiro, saber ao certo onde ele foi parar”, considera o procurador.

Quem ganhou muito e pouco

Do mesmo modo que o esquema revelou que algumas pessoas teriam se apropriado de milhões, as investigações indicam gente que se “sujou” por R$ 1 mil, R$ 2 mil. “Tem gente que se apropriou de poucos valores. Se sujou por R$ 1 mil ou R$ 2 mil em dinheiro usado em campanha eleitoral, com coisas pessoais (…) mas não nos restam dúvidas de que todo o esquema era chefiado pelo ex-prefeito de Foz do Iguaçu [Reni Pereira]”, afirma Alexandre Halfen da Porciuncula.

Questionados a respeito de outros políticos citados nas investigações, os procuradores dizem que, até o momento há apenas a esposa de Reni, a deputada estadual Cláudia Pereira. “São várias menções sobre ela que encontramos durante as investigações, com verba que poderia ter sido desviada para a campanha. Esse processo está no Tribunal Regional Federal da 4ª Região em Porto Alegre, mas uma coisa é certa: não se pode falar em enraizamento do esquema em outros municípios. Este esquema era bem articulado em Foz do Iguaçu”.

A reportagem procurou a deputada estadual em seu gabinete, na Alep (Assembleia Legislativa do Estado do Paraná). No primeiro contato por telefone um de seus assessores disse que outro chamado Israel poderia falar sobre o assunto, mas nas demais tentativas de contato telefônico ninguém mais atendeu às ligações.

A linha de defesa do ex-prefeito Reni Pereira refuta a narrativa MPF e dos réus colaboradores de que “o ex-prefeito era oniciente, onipresente e onipotente neste suposto esquema”. “As imputações que o MPF traz nas duas denúncias demonstra que, a partir da lógica da acusação, Reni Pereira sabia de tudo o que acontecia na administração pública municipal, desde os grandes contratos até a compra do papel do xerox. A gente procura a partir dos depoimentos de servidores de carreira que não têm compromisso com a parte política revelar que a narrativa não condiz com a realidade da administração municipal”, afirma o advogado de defesa de Reni Pereira, Vitor Sprada Rossetim.

Ele acrescenta: “Ele era o chefe do Poder Executivo, mas a gente precisa analisar a responsabilidade de cada secretaria, de cada servidor e se uma secretaria teve desvios de conduta, precisamos atribuir a responsabilidade a cada um”.

Segundo o advogado, essa linha está se repetindo audiência após audiência. “O prefeito não tinha como saber de tudo o que acontecia, pode ter havido deficiências administrativas, mas é muito grave a imputação de ‘líder de uma organização criminosa’ ou ‘cabeça do esquema’ na prefeitura”, afirma o advogado, ao reforçar a inocência de seu cliente.

Na edição de amanhã você vai saber por que a delação premiada tem feito toda a diferença na elucidação dos desvios e para se chegar às supostas fraudes cometidas em Foz do Iguaçu.

Confira a primeira reportagem da série: Força-tarefa confirma a deflagração de novas fases