São vários os pilares necessários para a conservação da estabilidade e permanência de uma relação de casal. No entanto, nenhum parece abalar tanto a estrutura quanto a infidelidade. Mesmo que o casal recomece depois de superada uma crise motivada pela infidelidade de um dos cônjuges, algo como uma “sombra” parece pairar sobre a relação. É como se a confiança tivesse “buracos” que não conseguem ser fechados.
Alguns casais imaginam que a maneira de protegerem a relação do risco da infidelidade é prometerem um ao outro amor incondicional. Seria algo como uma jura de fidelidade absoluta. No entanto, o que à primeira vista pode parecer uma blindagem contra a infidelidade, mostra-se, na prática, uma porta de saída para as “escapadelas”.
Com efeito, a quem é devido amor incondicional? Um amor que não pergunta pela compensação, que não é movido por intenções ou interesses? Somente a um filho! Somente um filho tem direito a reivindicá-lo. Por quê? Vejamos: o que é próprio do amor incondicional? É uma forma de amor que jamais falha, jamais falta. É a forma de amor que os pais têm pelos filhos. Com efeito, não importa o que filho fizer; o amor dos pais por ele é imorredouro. Esse amor não inocenta o filho dos erros, mas permanece apesar das falhas que comete. O filho, por sua vez, especialmente quando ainda criança, sabe que os pais estão ali para ele e que, se eles se forem, corre risco de morte.
Em uma relação de casal, quando alguém reivindica “amor incondicional” do parceiro, essa pessoa se coloca em relação ao parceiro na posição de filho ou filha. Essa pessoa reivindica fidelidade do parceiro, mas, ao exigi-la na forma incondicional, converte o cônjuge em pai/mãe.
Dessa maneira, explica Hellinger, a fidelidade incondicional de um dos parceiros, sobretudo quando é resultado de sacrifício, não passa de transferência da fidelidade de filho à mãe ou ao pai. Consequentemente, tem algo de irreal. Para que uma relação tenha êxito, é importante que cada um busque no outro um parceiro e não uma mãe ou um pai.
Outra maneira pela qual se mostra que essa forma de relação de casal é, na verdade, uma relação entre pais-filho costuma vir à luz quando um dos dois quer abandonar a relação e a pessoa abandonada reage como se, além do cônjuge, também perdesse a vida. Esse é, precisamente, o sentimento do filho quando se sente abandonado pela mãe ou pelo pai.
Por vezes, um cônjuge expressa esse sentimento de abandono por frases como: “Se você me deixar, eu me mato!”; ou frases menos duras como: “Sem você não consigo mais viver!”; e até mesmo mais sutis, como: “Sem você, minha vida perde o sentido”. Com isso, o parceiro é colocado na posição de mãe ou pai que deve zelar pela sobrevivência do/a “filho/a”.
Sobre esse tema da relação entre fidelidade e exigência de amor incondicional voltaremos na próxima postagem. Na próxima reflexão, mostraremos algumas consequências sobre a relação de casal quando prevalece esta dinâmica.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.
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