As investigações das denúncias de fura-fila do SUS em Cascavel começam a apertar o cerco ao vereador Jorge Bocasanta (PT). Na segunda-feira (30), a polícia ouviu o ex-secretário de Saúde Rubens Griep e o atual secretário, Thiago Stefanello, e ambos reforçaram as suspeitas. O caso tramita na Divisão de Combate à Corrupção de Cascavel, da Polícia Civil.
Após pedir prorrogação de prazo, o inquérito deve ser concluído nos próximos dias. Segundo as investigações, pacientes de outras cidades do oeste e do sudoeste também passaram por procedimentos no Hospital Salete, nas mãos de Bocasanta.
Em depoimento, Griep disse que suspeitava do esquema que burlava a fila de cirurgias eletivas do SUS. “Sabíamos, mas não tínhamos provas”. Segundo ele, a principal suspeita era o fato de Bocasanta estar afastado das unidades de saúde, por ser vereador, e fazia cirurgias no Hospital Salete, que não era conveniado para esses procedimentos. “Entendíamos que existia um fluxo equivocado, mas não sabíamos como ele se dava e como se consolidava”.
De acordo com Griep, Bocasanta contava com amigos e usava até bilhetes para conseguir encaminhamentos e inserir pacientes na fila de urgência. “A gente ouvia rumores de que o Bocasanta atendia na Câmara de Vereadores e direcionava o paciente”, disse, acrescentando que nunca houve provas de que os procedimentos eram cobrados. “A gente tinha uma desconfiança de que existia um valor financeiro envolvido nisso, mas nunca conseguimos nada que comprovasse”.
Questionado pelo delegado se estaria havendo quebra no fluxo do SUS, Stefanello responde que sim. “Em meados de 2019 recebi uma denúncia de que uma paciente teria pago aproximadamente R$ 2 mil para fazer uma cirurgia pelo SUS com o doutor Jorge Bocasanta. Na mesma época, encaminhamos essa denúncia para o Ministério Público, que fez as oitivas com essa paciente e acabou constatando que não haveria de ter sido pago nada, mas no prontuário dessa paciente está registrado que o médico da UBS teria ligado diretamente ao Jorge Bocasanta e encaminhado a paciente diretamente ao Hospital Salete. Mesmo que fosse um fluxo de urgência e emergência, o procedimento não é esse”.
E acrescenta: “Não conseguimos entender como o doutor Jorge Bocasanta tem acesso ou como ele consulta os pacientes para decidir se vão ser operados ou não. Quais são os critérios utilizados e como ele tem acesso a esses pacientes”.
Perícia
A polícia também avançou na perícia do celular do ex-vereador Geovane José Machado, conhecido como Ganso sem Limite, que era assessor de Bocasanta quando a denúncia veio a público. Na ocasião, o ex-assessor parlamentar Izaqueu Silva (que assessorava o vereador Roberto Parra) foi preso em flagrante após receber R$ 2 mil de uma paciente supostamente para pagar anestesista. A cirurgia foi feita por Bocasanta.
No celular, a polícia encontrou conversas de Ganso orientando pacientes sobre endereços falsos antes de prestarem depoimento e combinando cirurgias com Bocasanta. Agora, a polícia tenta recuperar mensagens apagadas que podem ser cruciais para as investigações.