Cascavel – Um dos dias mais especiais do ano para a maioria das pessoas, o Dia das Mães remete a carinho, abraços, união. Neste ano, boa parte dessas mesmas pessoas terá de abrir mão de tudo isso para proteção das próprias mães. Apenas o sentimento é o mesmo, adicionado com a saudade.
Em muitos lares, o tradicional almoço que reúne toda a família será substituído por videochamadas e os presentes serão entregues por terceiros.
E tem aquelas que se tornaram mães em meio à pandemia do coronavírus. Nesse caso, o misto é de amor, medo e alívio.
É o caso de Juliara Rossini, mãe de Julia. “Eu entraria em licença-maternidade no dia 30 de março, data programada para o nascimento dela. Com o decreto municipal que limitou as atividades no comércio e deu início ao isolamento social [em Cascavel, no dia 20 de março], tive que adiantar a licença-maternidade em dez dias, porque no meu trabalho todos começaram a fazer home office”, conta.
Por causa disso, precisou adiar o chá de bebê e desde 20 de março só saiu de casa para ter a Julia e levá-la à consulta pós-nascimento. “Como não estamos recebendo visitas ainda, apenas os tios dela que moram comigo a viram. No hospital, só o pai dela podia entrar, e até agora os avós só a viram de longe, nem puderam pagá-la no colo”.
O medo da covid-19, que fez os hospitais restringirem as visitas, aumentou para Juliara às vésperas do nascimento de Julia. “Tive febre, falta de ar e coriza, mas logo melhorei, acho que pode ter sido pela ansiedade, porque normalmente a mulher já fica ansiosa às vésperas do parto, e com tudo o que está acontecendo, fica mais ainda”.
A pandemia também fez história com o registro de nascimento da pequena Julia. Devido às restrições sanitárias, ele foi feito dentro do carro, tendo os funcionários do cartório levado os papéis a para ela assinar.
Ansiedade, pressão alta e medo
Para evitar pensar sobre o novo coronavírus, Jessika Machado deixou de ver noticiário. “Em uma consulta de rotina, marcamos a data da cesárea para 7 de maio, mas minha pressão subiu e saí do consultório direto para o hospital. Eu já estava com medo de ter que antecipar o parto. Fiquei internada dois fazendo exames e dividida entre se seria bom ele já nascer naqueles dias para ir logo para casa enquanto não havia um colapso, ou se seria melhor que ele nascesse no tempo certo, mesmo que mais para frente a situação da pandemia piorasse”.
No fim das contas, o parto foi antecipado, mas Davi nasceu bem. Por não aceitar o leite, precisou ficar alguns dias na UTI neonatal. “Eu tive alta no dia seguinte e tive que deixá-lo no hospital… Foi horrível, tive crise de ansiedade por uns dias, não dormia, sentia falta de ar… foi muito difícil deixá-lo lá, pois há um ano eu estava grávida de gêmeas e tive um parto prematuro, com 24 semanas, e as duas bebês não sobreviveram. Elas também tinham ficado três dias na UTI. No caso do Davi, por causa da covid-19, eu não podia ficar com ele. As visitas foram reduzidas a uma de meia hora por dia”, lembra Jessika. O drama se estendeu mais que ela esperava e, após uma semana na UTI, soube que ele teria que ficar mais sete dias. “Voltei ter pressão muito alta e fiquei internada, tomando medicações e calmante para ajudar”.
“No 12º dia de internação, me chamaram para amamentar a cada três horas, com isso precisei ir todos os dias ao hospital e ficar em uma sala de espera com outras mães… Só que então eu já sabia que meu bebê estava bem. O medo continuava por causa da pandemia, afinal, nós tomamos todos os cuidados em casa, mas em um ambiente hospitalar e sem saber se as outras pessoas também se cuidam preocupa. Eu pensava: e se eu pegar? E se passar para o meu bebe? E se algum profissional da UTI pegar e passar pra ele?”
Davi ficou na UTI durante seus 15 primeiros dias de vida. “Então, graças a Deus, ele recebeu alta para o quarto, onde ficou um dia e já veio pra casa. Hoje ele esta superbem, ganhando peso conforme previsto e já até perdeu umas roupinhas de recém-nascido”, comemora Jessika.
Homenagem com café colonial
As mães do HU (Hospital Universitário do Oeste do Paraná) receberam uma homenagem com café colonial e decoração especialmente para elas. A Comissão de Humanização e o Serviço de Nutrição e Dietética angariaram diversas doações para servir o café colonial, e prepararam uma decoração contemplando até mesmo as fotos das mamães, com o melhor presente, os filhos. E deixar os filhos em casa para assumir o compromisso de atuar dentro do hospital não é uma tarefa fácil nesse momento da pandemia da covid-19. Como mãe, a coordenadora da Comissão de Humanização, Luciana Wille, enfatiza a alegria de receber e organizar a homenagem nesse período: “Não consigo mensurar o quanto a gente ama, se doa, batalha, mas também o quanto o sorriso dos nossos filhos nos renova e nos dá mais forças para lutar diante das dificuldades. A gente trabalha, tem milhares de funções, ou seja, encaramos o mundo com a força desse presente de Deus. Ser mãe é maravilhoso”.