São Paulo – Em uma decisão que surpreendeu o mercado mundial, o Fed (banco central americano) cortou nessa terça-feira (3) a taxa básica de juros dos Estados Unidos em meio ponto percentual, para a faixa de 1% a 1,25% ao ano, o maior incentivo monetário desde a crise financeira de 2008. O movimento é uma resposta aos riscos econômicos que a epidemia de coronavírus representa.
Segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, a doença mudou o cenário para a economia americana neste ano, aumentando os riscos. “O coronavírus e as medidas utilizadas para contê-lo vão, certamente, pesar na atividade econômica dos EUA e de outros países por algum tempo. Estamos começando a ver os efeitos nos setores de viagem e turismo e estamos ouvindo reclamações de indústrias que dependem de cadeias de suprimentos globais. A magnitude e a persistência dos efeitos econômicos ainda é altamente incerta”, afirmou Powell em entrevista coletiva à imprensa após o anúncio do corte.
Segundo o Fed, contudo, a economia americana continua forte com baixas taxas de desemprego, aumento do salário médio e aquecimento do setor imobiliário.
Além de vir de uma reunião extraordinária, o corte de juros também surpreendeu porque, nas duas últimas semanas, autoridades do Fed afirmaram que ainda não viam necessidade de uma resposta monetária.
Segundo Powell, o cenário mudou com a disseminação da epidemia do coronavírus pelos Estados Unidos. No país, já são mais de 100 casos e seis mortes.
Reação
O corte de juros é uma medida de incentivo monetário à economia. Com juros baixos, fica mais barato tomar crédito e empreender e menos vantajoso manter o dinheiro em aplicações de renda fixa, tornando o mercado acionário mais atrativo. Como as ações são maneiras de se investir em empresas, a ida de investidores para a Bolsa também pode contribuir para uma aceleração da atividade econômica.
Logo após o anúncio, as Bolsas americanas – que operavam em queda – chegaram a subir 1,5%, mas voltaram a cair pouco depois. Na Europa, Bolsas fecharam em alta de cerca de 1%.
Investidores estão céticos quanto aos efeitos positivos de um corte de juros na economia e temem que o risco do coronavírus seja maior do que precificam.
Mercado já vê Selic entre 3,75% e 3,5%
Economistas e analistas de bancos já começam a projetar novas quedas da taxa básica de juros na próxima reunião do Copom do BC (Comitê de política monetária do Banco Central). A expectativa é de que a Selic fique entre 3,75% e 3,5% no fim deste ano.
O movimento aconteceu depois da queda dos juros norte-americanos.
Segundo o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, a decisão do Fed tende a mudar a postura mais conservadora do BC brasileiro e a perspectiva de que novos cortes na Selic aconteçam já nas próximas reuniões não é descartada. “A mudança no cenário internacional traz uma assimetria de riscos para uma baixa de inflação no Brasil. Temos um cenário base de corte de 0,25 ponto percentual na Selic, mas, na teoria, a queda pode até ser maior, a depender do que o BC manifestar. Trabalhamos, agora, com a Selic próxima a 3,5% ao final deste ano”, afirmou Weeks.
O economista da Garde Asset também afirmou que reduziu as perspectivas de crescimento para a economia brasileira, de 2,5% para 2% em 2020.