Assim como uma casa precisa de organização diária para permanecer em ordem, os setores de saúde pública também seguem um fluxo para que os pacientes que procuram as unidades de saúde ou as UPAS (Unidades de Pronto-Atendimento) sejam atendidos dentro dos protocolos. Em Cascavel, existe uma área central de esterilização para poder lavar e preparar os objetos que são utilizados todos os dias pelos profissionais da rede.
Ocorre que desde o início da greve do setor enfermagem municipal, que nesta quinta-feira (30) completa 10 dias, grande parte dos técnicos que fazem esse trabalho de lavagem, secagem e esterilização dos materiais está em greve e, sem este material, os atendimentos nos setores de saúde já estão prejudicados. A reportagem do Jornal O Paraná recebeu denúncia de um servidor de uma unidade de saúde que contou que um dos primeiros atendimentos que foi paralisado foi o odontológico.
Segundo o servidor, que preferiu não se identificar, a coleta de exames e a aplicação de vacinas também não estão sendo realizados, situação que piorou desde o começo desta semana devido a adesão dos servidores ao movimento. Esta situação não está concentrada em apenas uma unidade de saúde, mas em várias, visto que sem material reposto pela área de esterilização, os servidores não conseguem trabalhar. Os atendimentos que não foram totalmente paralisados estão funcionando em cerca de 30%.
Lentidão
O secretário municipal de Saúde de Cascavel, Miroslau Bailak, confirmou a situação e disse que vários dentistas tiveram que parar o atendimento. Devido ao movimento grevista existe a falta de materiais. “A área central de esterilização é utilizada para todo o sistema, por exemplo, o material dos odontólogos tem que ser esterilizado, o material que é utilizado nas UPAs, nas unidades, por exemplo, para fazer sutura; realmente prejudicou”, disse.
Segundo o presidente do Sismuvel (Sindicato dos Servidores Municipais de Cascavel), Ricieri D’Estefani Júnior, o setor de esterilização está funcionando, mas de forma mais lenta. “É uma situação temporária que vai perdurar enquanto continuar a nossa manifestação, a greve dos servidores da enfermagem”. A categoria marcou para esta quinta-feira (30) uma passeata da categoria, a partir das 10h, com concentração em frente à Prefeitura, aonde os grevistas montaram uma estrutura.
Proposta e contraproposta
O movimento grevista iniciou no dia 21 deste mês e, desde então, várias reuniões e tratativas foram feitas com o Poder Público, mas ainda sem consenso. Cerca de 100 servidores estão se mantendo fora dos postos de trabalho, mesmo com a afirmação de que os dias não trabalhados serão descontados.
O grupo reivindica reajuste nos salários, alegando que há defasagem de cerca de 70% acumulados nos últimos anos e uma melhor valorização profissional. Na segunda-feira (27), o prefeito Leonaldo Paranhos e a secretária de Planejamento e Gestão, Vanilse Pohl ofereceu o pagamento de um “Prêmio de Reconhecimento ao Desempenho da Enfermagem” por um período de seis meses, prorrogável pelo mesmo período, de R$ 450,00, comum a todos os profissionais de enfermagem.
O prêmio seria pago mensalmente por CPF do servidor e estaria condicionado ao alcance de metas definidas pela a secretaria a que o servidor estiver vinculado, premiando assim, os servidores que contribuem ativamente para o alcance dos indicadores. No entanto, em assembleia, a categoria não aceitou e encaminhou uma contraproposta, ainda sem resposta.
No documento encaminhado ao prefeito, os servidores aceitaram o prêmio de reconhecimento, mas de R$ 600,00, de forma permanente e estendido a todos os profissionais de saúde, independentemente de produtividade e por matrícula.
Sobre o reajuste, a categoria pede que seja definida data para o início do pagamento do salário base com as porcentagens na pauta de greve até fevereiro de 2024, implantadas em Plano de Cargos Carreiras e Salários da Enfermagem. Os reajustes seriam de 32,4% para auxiliar de enfermagem, 68,5% para os técnicos de enfermagem e de 12,8% para enfermeiros. Além disso, pedem que seja estabelecida uma data para a votação do plano de cargos e carreiras, antes do impedimento da Lei Eleitoral.
Os servidores também propõem a reinstalação imediata da “Mesa Permanente de Negociação”.
Foto: Paulo Eduardo/ O Paraná