Saúde

Descaso: Brasil tem 18 das 21 doenças negligenciadas

Essas doenças cegam, mutilam, desfiguram e debilitam centenas de milhões de pessoas em favelas urbanas e nas partes mais pobres do mundo

Em todo o mundo, cerca de 1 bilhão de pessoas em 149 países são afetadas pelas chamadas doenças tropicais negligenciadas, um grupo de doenças assim classificadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) por afetarem sobretudo populações vulneráveis, com escassos recursos financeiros, acesso limitado aos serviços de saúde, vivendo em áreas remotas e que custam bilhões de dólares às economias em desenvolvimento todos os anos. Essas doenças cegam, mutilam, desfiguram e debilitam centenas de milhões de pessoas em favelas urbanas e nas partes mais pobres do mundo.

Da lista da OMS (Organização Mundial de Saúde) de 21 doenças negligenciadas, que são causadas por agentes infecciosos ou parasitas, 18 estão presentes no Brasil.

No País, as mais comuns são a dengue, a doença de Chagas, a hanseníase, a leishmaniose e a sarna, além da zika e da chikungunya. Só para se ter uma ideia, até junho deste ano, o Ministério da Saúde confirmou mais de 600 mil casos de dengue no Brasil. O número de casos prováveis da doença, ou seja, ainda não confirmados, era ainda maior: 1,127 milhão. Até o mês passado foram registradas 366 mortes relacionadas a dengue.

“As doenças tropicais negligenciadas são doenças que praticamente não têm investimento nem dos governos nem das empresas, mas são doenças muito presentes aqui, no Brasil. As duas sociedades, de Medicina Tropical e de Parasitologia, estão comprometidas com o estudo, com a pesquisa científica para desenvolver vacinas, novos tratamentos, novos testes de diagnóstico e, se possível, traçar um futuro melhor para o nosso país sem essas doenças”, ressalta o professor associado no Departamento de Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais, bolsista do CNPq com ênfase no desenvolvimento de ferramentas (diagnóstico, vacinas e fármacos) para o controle de doenças parasitárias negligenciadas, Ricardo Fujiwara.

“Negligenciadas”

Causadas por agentes infecciosos ou parasitas, essas doenças receberam o adjetivo “negligenciadas” porque afetam, principalmente, pessoas pobres que vivem em condições inadequadas, em locais onde há problemas de acesso à água tratada, falta de saneamento básico e habitação precárias.

O termo foi primeiramente usado em 1986 pelo médico americano Kenneth Warren, especialista em doenças tropicais. Em 2000, a organização mundial Médicos sem Fronteiras também o adotou e, no ano seguinte, foi a vez da OMS. As doenças negligenciadas causam cerca de meio milhão de mortes em todo o mundo anualmente.

Alguns Registros

Sifilis: De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em novembro de 2018, o número total de casos notificados no Brasil foi de 119.800, ano base 2017. No Brasil, a população mais afetada pela sífilis são as mulheres, principalmente as negras e jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos.

Somente esse grupo representa 14,4% de todos os casos de sífilis adquirida e em gestantes notificados. Entre gestantes, ocorreram 49013 casos e o número de casos cresceu de 10,8 casos por 1 mil nascidos vivos em 2016 para 17,2 casos a cada 1 mil nascidos vivos em 2017. Já a sífilis congênita passou de 21.183 casos em 2016, para 24.666 em 2017 com uma taxa de 7,4 casos para cada mil nascidos vivos. Ocorreram 1205 abortamentos e nascidos mortos e 206 óbitos por sífilis congênita (em bebês) em 2017.

No mundo, mais de 12 milhões de pessoas têm sífilis, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), e é considerado um problema de saúde pública.

Hanseníase: No período de 2008 a 2016, foram notificados 301.322 casos de hanseníase no Brasil, dos quais 21.666 (7,2%) eram menores de 15 anos de idade. Nesse mesmo período, a taxa geral de detecção anual de casos novos foi reduzida em 43,0%, passando de 21,5 para 12,3/100 mil hab.; e, na faixa etária de menores de 15 anos, a redução foi de 50,7%, de 2,1 para 1,1/100 mil hab.

Tuberculose: está entre as dez principais causas de morte no planeta e segue como um grave problema de saúde pública em todos os países. Segundo a OMS, é a doença infecciosa de agente único que mais mata, superando o HIV. Em 2016, 10,4 milhões de pessoas adoeceram de tuberculose no mundo, e cerca de 1,3 milhão de pessoas morreram em decorrência da doença.

No Brasil, foram registrados 69.569 casos novos em 2017 e 4.426 óbitos por tuberculose em 2016. A estimativa do Ministério da Saúde é que em 2018 foram registrados 72,8 mil casos novos no país. As cidades com maior incidência da doença no país são Manaus, Rio de Janeiro e Recife.