Cascavel – Nos últimos tempos, a suinocultura independente está vivenciando uma demanda sem precedentes. “Os grandes frigoríficos, que costumavam operar com uma produção reduzida, estão agora se esforçando para preencher suas escalas de abate,” relata Henrique Lajarim, engenheiro de Alimentos da Lakre Assessoria e Consultoria, diante dos reflexos das mudanças dinâmicas no mercado. Isso ocorre em um contexto onde o mercado externo se apresenta cada vez mais atraente para exportações.
A produção de suínos pelos chamados independentes sempre foi pautada por um equilíbrio delicado. Tradicionalmente, os preços eram ditados pelo consumo interno, com fatores de influência relativamente estáveis e previsíveis. No entanto, a chegada de um novo agente mercadológico está transformando este cenário. “O mercado está sob novas regras,” explica Lajarim. “Isso muda completamente os formatos de análise e negociação que estávamos acostumados”.
Com essa valorização acentuada, o setor produtivo da suinocultura independente enfrenta um momento singular. A necessidade de adaptação e reinvestimento nunca foram tão evidentes. “Estamos vendo uma oportunidade única para sair do ‘arroz com feijão’ e investir em melhorias significativas,” afirma Lajarim. Essa fase de crescimento exige que os produtores aproveitem ao máximo as condições atuais, garantindo que possam não só acompanhar a demanda crescente, mas também se destacar em um mercado em evolução.
Portanto, o momento é de transformação e inovação para a suinocultura independente. A conjuntura atual oferece uma chance rara de reavaliar estratégias, investir em novas tecnologias e, assim, assegurar uma posição de destaque no mercado global.
Agosto aquecido
Após uma leve desaceleração nas negociações de suíno vivo na última semana de julho, o mercado brasileiro voltou a se aquecer neste início de agosto. Com isso, os preços reagiram em grande parte das regiões acompanhadas pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Para a carne, agentes consultados pelo Cepea relatam melhora nas vendas, mas certa resistência por parte de compradores em aceitar os repasses dos aumentos do animal vivo aos cortes.
Quanto às exportações brasileiras de carne suína (produtos in natura e processados), dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em julho, foram embarcadas 137,1 mil toneladas. O número é um recorde da série histórica da Secex, iniciada em 1997, além de expressivos 29,4% acima do volume de junho e significativos 31,5% maior que o enviado em julho do ano passado.
O atual momento do mercado de suíno vivo evidencia o modo em que a procura afeta os preços. “Destacamos os últimos três meses em que o suíno obteve aumentos consecutivos, fechando acima de R$ 8 o quilo”, comenta Lajarim. Segundo ele, o momento é de euforia nas negociações onde a possibilidade de boas exportações retira do mercado independente uma significativa parcela de disponibilidade de suínos, antes absorvida pelo mercado interno.
Conforme o especialista, os agentes envolvidos nesse cenário são empurrados para modelos de negociação antes não tão comuns, fazendo com que frigoríficos que atuam somente no mercado interno sofram tanto para fechar suas escalas quanto para negociar preços compatíveis com os aceitos pela ponta. “É o momento de virar o disco na forma de negociar suíno vivo, pois o ritmo da dança agora é outro”.
Os números
De acordo com informações obtidas junto À ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a produção brasileira de carne suína em 2023 chegou a 5.156 milhões de toneladas. De janeiro a dezembro do respectivo ano, foi exportada 1.230 milhão de toneladas. Somente em julho deste ano, foram 138 mil toneladas. O consumo per capita no Brasil é na ordem de 18,3 quilos.
Mercado aquecido
O presidente da Assuinoeste (Associação dos Criadores de Suínos do Oeste do Paraná), Delmar Briccius, disse em entrevista ao Jornal O Paraná, que a demanda pela carne suína vive um momento de ascensão. “Há casos de produtores conseguindo até R$ 9 o quilo, mas são casos pontuais”, comenta. Em pesquisa feita pela Assuinoeste com os produtores de suínos, há relatos de que alguns não têm conseguindo obter esse retorno. Esse cenário é reflexo do drama vivido pelo setor há 2, 3 anos, quando muitos desistiram da atividade. Toledo é dono do maior plantel de suínos do Brasil, com 1,8 milhão de cabeças. “A demanda por suínos está aquecida. Os preços começam a reagir e vai demorar um pouco para o produtor perceber”.
Oeste tem o maior frigorífico de suínos da América Latina
Em dezembro de 2022, o Oeste do Paraná passou a contar com a maior unidade frigorífica de abate de suínos da América Latina. Localizada em Assis Chateaubriand. Na ocasião, o Governo do Paraná também realizou a entrega da Licença de Operação da unidade à Frimesa, permitindo o início imediato dos trabalhos. Somente nesse projeto, foram investidos o montante de R$ 1,3 bilhão. Com a nova unidade, serão gerados cerca de 8,5 mil empregos diretos e indiretos e aproximadamente R$ 600 milhões em impostos. Com base nesses números, a estimativa de faturamento é de R$ 5,7 bilhões.
A presença da unidade triplicará a produção de suínos da cooperativa, principalmente por conta da redução da distância e dos custos na logística de transporte de animais. A capacidade inicial de abate é de 7.880 suínos diariamente, ou seja, 550 por hora, totalizando 1,8 mil toneladas/dia. Até 2032, o objetivo é de chegar a 15 mil suínos processados por dia.
Esse crescimento de abate vai respeitar três etapas. Até 2025, a estimativa de produção é de 3,7 mil cabeças por dia. Já entre 2026 e 2028, a tendência é de chegar a 7,8 mil cabeças e na terceira etapa, entre 2029 e 2031, a meta é a de atingir 11 mil cabeças de suíno/dia.
Em entrevista ao Jornal O Paraná, ontem (21), o presidente da Frimesa, Elias Zydek, disse que a Frimesa, líder no setor de carne suína, está em plena expansão e ajustando sua produção para atender tanto ao mercado interno quanto externo. Zydek compartilhou detalhes sobre as expectativas e desafios enfrentados pela Frimesa.
De acordo com Zidek, a operação do frigorífico em Assis está seguindo o plano estabelecido. “Este ano, devemos atingir uma média de 5 mil cabeças de suínos por dia e, até o fim do ano que vem, a meta é chegar a 7 mil cabeças diárias”, afirmou. Segundo ele, essa ampliação faz parte do projeto de crescimento da empresa.
Equilíbrio global
No que diz respeito à oferta e demanda de carne suína, Zydek destacou que o equilíbrio global entre produção e consumo tem impactado o mercado. “No cenário mundial, a produção e o consumo estão estáveis, com uma leve elevação nos preços em dólares no mercado externo”, explicou. Ele ressaltou que a exportação brasileira de carne suína deve aumentar de 1,2 milhão para 1,35 milhão de toneladas neste ano, o que provoca uma redução na oferta interna e, consequentemente, uma elevação nos preços da matéria-prima.
O consumo interno está estável em torno de 18,8 quilos per capita, e com a produção direcionada para o mercado externo, o estoque nacional está baixo. “Toda a produção está sendo consumida, seja internamente ou no exterior. Isso resulta em preços mais altos tanto para cortes de carne quanto para produtos industrializados”, afirmou.
Perspectivas
O presidente da Frimesa também comentou sobre as perspectivas para o setor. “A demanda deve continuar aquecida pelos próximos 8 a 10 meses, o que deve manter os preços elevados. No entanto, é importante lembrar que a resposta da produção pode levar entre um ano e um ano e quatro meses, devido à complexidade da cadeia produtiva”, alertou. Pediu cautela em relação à expansão da produção. “Precisamos equilibrar a oferta e a demanda para evitar excesso de produção no futuro. Os custos de produção devem se manter estáveis, especialmente em relação ao farelo de soja e milho”, concluiu, enfatizando a importância de manter um equilíbrio sustentável na cadeia produtiva.