
Cascavel e Paraná - As sessões da Câmara de Cascavel estão cada vez mais fervorosas. Na tarde de ontem (27), duas mães estiveram no Legislativo de Cascavel exigindo a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o caso de abuso ocorrido em um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil). As duas mulheres estavam acompanhadas do advogado Moacir Wosniak e de uma minuta de requerimento, na qual buscavam as assinaturas dos vereadores para o encaminhamento oficial da investigação.
No saguão do prédio, elas abordavam cada parlamentar para que assinassem o documento. “O município instaurou uma sindicância que já foi prorrogada; queremos saber o que mais estão esperando para instaurar a CPI”, questionou uma das mães. Para parte do plenário, a minuta em mãos carece de “validade jurídica”.
O crime, cometido em 2019 por um ex‑agente de apoio lotado no CMEI do bairro Canadá, teve a denúncia formalizada naquele mesmo ano. Mesmo assim, o servidor permaneceu em atividade até novembro de 2024, quando finalmente foi afastado. Condenado em março de 2025 a 30 anos de prisão, ele segue em liberdade, fato que ampliou a indignação das mães.
A Prefeitura de Cascavel instaurou uma sindicância interna para apurar possível omissão ou negligência no trâmite das denúncias. O prazo original foi estendido por mais 30 dias, com previsão de conclusão para o início de junho. O Executivo informou que “todos os envolvidos já foram ouvidos” e que o relatório final “deverá ser concluído ainda neste mês, com o rigor que a situação exige”.
Até então, cinco vereadores haviam assinado espontaneamente: Serginho Ribeiro (PSD), Bia Alcântara (PT), Edson Souza (MDB), Dr. Lauri (MDB) e Policial Madril (PP). Outros vereadores manifestaram que iriam assinar o documento após o relatório da sindicância.
Tensão
No entanto, a coisa esquentou quando o vereador Fão do Bolsonaro (PL) foi abordado pelas mães e afirmou que só assinaria o requerimento após a conclusão da sindicância. “Não vou esperar mais 60 dias. Vocês estão de palhaçada!”, disse uma das mães. Fão respondeu: “Mãe, eu te ajudei, fiz tudo; só espera a sindicância.”
Após conversar com as mães, o vereador direcionou ao advogado e disse: “Wosniak, conseguiu, cara. Tá de parabéns.” O advogado retrucou e disse que o vereador tinha o dever de fiscalizar.
A tensão escalou rapidamente. Fão e Wosniak trocaram acusações — ele chamando Wosniak de mentiroso, ele chamando o vereador de “frouxo” por não assinar. Em certo momento, Fão chegou “a partir para cima do causídico, para conversar mais de perto”, obrigando seguranças e assessores a intervir. A cena foi acompanhada por vereadores, servidores, imprensa e público presente; diversos vídeos circulam em grupos de WhatsApp.
A discussão foi encerrada após assessores intervierem e o vereador seguiu para o plenarinho. Segundo uma das mulheres, assessores de outros vereadores teriam proferido ameaças contra elas, fato que será registrado em boletim de ocorrência.
Além do embate principal, Edson Souza (MDB) também se desentendeu com Fão do Bolsonaro, após o parlamentar cobrar CPI da saúde no Hospital Universitário, instituição com a qual o emedebista tem ligações. Souza exigiu que o colega assinasse imediatamente o pedido das mães.
Sindicância
Na última quarta‑feira (21), quatro vereadores reuniram‑se com o chefe da Casa Civil, Severino Folador, para cobrar agilidade na sindicância. O encontro durou cerca de uma hora e reforçou o compromisso de aguardar o resultado interno. O relatório deve ser divulgado até 2 de junho.