Política

Após ver “desmobilização do QG”, Anderson Torres diz que viajou “tranquilo”

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir depoimento do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Mesa:
ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres - em pronunciamento;
presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA);
relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir depoimento do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesa: ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres - em pronunciamento; presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA); relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Acabou a expectativa. O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, decidiu prestar seu depoimento à CPMI que investiga os atos de vandalismo e de depredação no dia  8 de janeiro, em Brasília. Acompanhado do advogado e — mesmo amparado por um habeas corpus, emitido na manhã de ontem (8) pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes — defendeu-se das acusações de ter sido omisso na prevenção e repressão aos ataques. Ele ressaltou também que não sabia quem lhe entregou “a minuta do golpe”, encontrada pela Polícia Federal, em sua casa.

Torres abriu o depoimento falando por 15 minutos e ressaltou que estava disposto a colaborar. Logo no início defendeu que “sempre atuou de forma técnica” no comando da segurança do Distrito Federal. Disse que só viajou para os Estados Unidos, às vésperas dos atos de invasão e depredação, depois de ver numa foto que o acompanhamento de bolsonaristas montado no QG do Exército já estava sendo desmobilizado — o que o tranquilizara.

“O General Dutra me mostrou o celular dele. Anderson, esse aqui eram os acampamentos um mês, 40 dias atrás. Esse é o acampamento hoje. Naquela sexta-feira os acampamentos já estavam praticamente desmontados. Foi a imagem que eu viajei com ela na cabeça, de pouquíssimas pessoas, naquela sexta-feira dia 6, nos acampamentos. Eu jamais iria imaginar que aquilo ia acontecer, que aquilo ia virar de novo e se tornar o 8 de janeiro.”

“PAI IGONORADO”

O ex-secretário também enfatizou que os atos de vandalismo de 8 de janeiro só existiram porque o PAI (Protocolo de Ações Integradas), assinado dias antes da viagem dele aos Estados Unidos, não fora cumprido. “O PAI é tão completo, que se tivesse sido seguido à risca, não teria acontecido os atos de 8 de janeiro”, declarou em sua defesa.

Questionado pela relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), sobre quem fora o culpado pela não execução do Protocolo, Torres devolveu o questionamento. “Eu acho que é isso que deve ser apurado. A Secretaria fez a parte dela.”

Torres alegou ainda não ser atribuição da Secretaria de Segurança Pública enviar militares às ruas. “Se vai efetivo, se vai o BOPE, se vai canil, se vai helicóptero, tudo isso é trabalho da instituição Polícia Militar do Distrito Federal.”

“MINUTA DO GOLPE”

Na CPMI, o ex-ministro ainda comentou sobre a minuta de golpe encontrada na casa dele durante uma busca e apreensão. Segundo ele, o documento era fantasioso. E reafirmou não saber quem lhe mandou e garantiu que o papel seria descartado.

“Esse documento é realmente teratológico, é um absurdo. Ele não estava guardado num lugar privilegiado na minha casa. E ele saiu da minha área de atuação no quarto, por isso ele não tinha sido descartado, mas é fantasioso. Jamais saiu da minha casa. Eu não conversei sobre isso com ninguém. Era um documento que estava pronto para ir pro lixo.”

Acareação

Após mais de três de horas de depoimento, a relatora da CPMI de 8 de janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que pretende promover acareação entre Anderson Torres e o ex-superintendente da Polícia Federal na Bahia, Leandro Almada. Os dois estiveram na Bahia em reunião com o diretor-geral da Polícia Federal, à época Marcio Nunes, cinco dias antes do segundo turno das eleições de outubro de 2022. Enquanto Torres disse que o encontro se tratou de uma visita para vistoriar obras, Almada teria dito em depoimento à Polícia Federal que o assunto seria outro. “O assunto específico seria o debate dos pontos de votação, sobretudo os pontos onde o então candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva teria uma proeminência de votos”, disse a relatora.

“Acusações”

O ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, teve um mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, no dia 10 de janeiro, dois dias depois dos ataques contra as sedes dos Três Poderes em Brasília. Ele foi preso no dia 14 de janeiro, após desembarcar no aeroporto de Brasília voltando das férias nos Estados Unidos.

Torres ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, no dia dos atos criminosos. Ele foi acusado de ser conivente e omisso na situação, não preparando um esquema capaz de proteger os Poderes contra os ataques, mesmo com a informação de que eles poderiam ocorrer. Anderson Torres chegou a ficar preso por cerca de quatro meses, mas foi solto por ordem de Alexandre de Moraes e, desde então, é monitorado com tornozeleira eletrônica.

Fonte: Agência Senado