O jornal francês “Le Monde” denuncia nesta sexta o que seria evidência de corrupção no processo que levou o Rio a sediar os Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com o jornal, o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho, apelidado de Rei Arthur, depositou em 2009 US$ 1,5 milhão numa conta do filho do então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do Comitê Olímpico Internacional, o senegalês Lamine Diack.
Arthur Soares já foi visto como o maior fornecedor de mão-de-obra terceirizada para o governo fluminense, sempre por intermédio de uma rede de empresas comandada pela Facility, uma empresa de serviços terceirizados como faxina e segurança. Pelos contratos, o grupo de Soares teria recebido quase R$ 3 bilhões no período.
De acordo com o “Le Monde”, com base em fontes da Justiça francesa, o depósito suspeito foi feito três dias antes da eleição da cidade-sede, emitido por uma holding chamada Matlock Capital Group, baseada nas Ilhas Virgens Britânicas, e recebido pela Pamodzi Consulting, uma empresa de Papa Massata Diack, filho de Lamine. A investigação francesa estabeleceu que Arthur Soares é ligado à Matlock. A eleição ocorreu em 2 de outubro de 2009, em Copenhague. Com isso, segundo o jornal, a Justiça da França teria evidências concretas para questionar a lisura do processo de candidaturas de 2016, que também envolveu Tóquio, Chicago e Madri. Em 2015, uma investigação preliminar havia sido aberta na França.
Papa Diack também recebeu US$ 500 mil de uma conta russa, segundo as informações divulgadas pelo “Le Monde”. A suspeita é que todo esse dinheiro tenha sido usado para influenciar membros do COI a eleger o Rio. De acordo com documentos obtidos com autoridades tributárias dos Estados Unidos, Papa depositou US$ 299.300 na conta de uma offshore chamada Yemli Limited, através da Pamodzi Consulting. Essa offshore é ligada ao ex-velocista Frankie Fredericks, da Namíbia, que participou da apuração dos votos da eleição da cidade-sede.
BANIDO DO ATLETISMO
Papa foi consultor de marketing da IAAF e hoje está banido do atletismo, enquanto seu pai, Lamine, está preso na França sob acusação de lavagem de dinheiro e corrupção. Nenhum dos dois respondeu os questionamentos do “Le Monde”.
O ex-velocista Frankie Fredericks afirmou ao “Le Monde” que os quase US$ 300 mil que recebeu da Pamodzi foram um pagamento por serviços e presenças em eventos entre 2007 e 2011, ?fartamente documentados”, e negou com veemência quaisquer acusações.
Em fevereiro deste ano, Arthur Soares prestou depoimento ao Ministério Público Federal na Operação Calicute, que investiga corrupção durante o governo Cabral. A Facility é investigado por repasses de R$ 1,7 milhão feitos a empresas acusadas de lavar dinheiro de propina para o esquema do ex-governador do Rio, preso preventivamente em Curitiba.
O jornal “Le Monde” não traz qualquer resposta de Soares às denúncias presentes na matéria publicada nesta sexta-feira.
RIO-2016 SE DEFENDE
Ouvido pelo jornal francês, o diretor de comunicações do Comitê Rio-2016, Mario Andrada, afirmou que as eleições foram limpas e lembrou que a vitória do Rio na última rodada se deu por um placar de 66 a 32, “uma vitória clara”.