BUENOS AIRES – Poucas vezes um jogo pelas eliminatórias da Copa do Mundo despertou tanta expectativa e entusiasmo na Argentina. O duelo desta noite, entre as seleções da Argentina e Chile, é aguardado num clima de enorme tensão em Buenos Aires, onde os torcedores locais confiam numa vitória que afaste os temores de ficar fora da Copa de 2018. Mas a confiança se mistura com o medo de que uma eventual derrota da equipe comandada pelo técnico Edgardo Bauza provoque uma verdadeira catástrofe nacional, como expressaram, literalmente, ex-jogadores da seleção como Jorge Burruchaga, campeão na Copa de 86.
Nos arredores do estádio Monumental de Núñez argentinos, chilenos e até mesmo brasileiros ainda tentam conseguir ingressos para o jogo. Mas a única alternativa, faltando poucas horas para a partida, é a revenda a preços altíssimos. Os cariocas Roberto Duarte Ramos e Patricia, de férias em Buenos Aires, tentaram de todas as maneiras conseguir ingressos.
– Estávamos dispostos a pagar até 1.500 pesos (em torno de R$ 300), mas chegaram anos pedir muito mais. Queria muito ver esse jogo, sou fã do Messi – comentou Roberto, decepcionado.
Ele quase pegou um barco para assistir a seleção brasileira em Montevidéu, mas acabou ficando na capital argentina tentando uma entrada para o Monumental.
– Os argentinos estão muito preocupados e não gostam do Bauza, acho que acontece uma coisa parecida ao que nós vivemos com o Parreira. São técnicos que não fazem um futebol bonito como brasileiros e argentinos gostam de ver – disse Roberto.
O medo dos argentinos é evidente. Nos canais de TV, nas rádios, nos jornais, os comentários sobre o desastre que ocorreria no país se a Argentina perder, mais uma vez (já foram duas derrotas consecutivas para o Chile em finas de Copa América), se multiplicaram nos últimos dias. Diante do susto, Bauza tenta manter a calma:
– Não vejo que seja como uma final, mas é um jogo determinante.
Para ex-jogadores como Burruchaga, não é hora de cautela:
– Perder para o Chile seria catastrófico. Este jogo é uma oportunidade para que a seleção se reivindique com o povo. Será um duelo difícil – admitiu o ex-jogador.
Bauza não gosta de falar em clima de final, mas esse é exatamente o ambiente que se respira na capital argentina. ?Como outra final. A Argentina recebe o Chile, um verdugo conhecido, com a necessidade de reacomodar-se no caminho para a Rússia?, foi o título escolhido pelo jornal ?La Nación? para abrir seu caderno de esportes nesta quinta-feira.
Os brasileiros Valmir e Lucélia Clzianoski e Cristian e Michele Mazur, do Paraná, também foram até o Monumental tentar comprar ingressos para o jogo que tira o sono dos argentinos. Tampouco conseguiram.
– Uma derrota seria muito perigosa para a Argentina. A gente queria muito entrar e torcer pro Chile – disse Cristian, sem esconder a eterna rixa entre os dois países.
Entre os chilenos, reina a tranquilidade de saber que um empate com a seleção de Bauza seria mais do que suficiente. Muitos atravessaram os Andes sem ter ingressos, achando que conseguiriam sem problemas em Buenos Aires. Mas ao desembarcar na cidade encontraram um panorama bem diferente.
– Estamos estimando que mais de quatro mil chilenos vão ficar fora do estádio, porque as entradas se esgotaram e os preços de revenda são impossíveis – contou a chilena Nelsy Rodríguez, que mora na capital argentina.
O jeito será, afirmou ela, unir-se aos que assistirão ao jogo em bares do centro de Buenos Aires.
– Parece como se estivéssemos numa Copa do Mundo – disse Nelsy, que organizou um dos eventos que reunirá dezenas de chilenos no Ultra Bar, no centro portenho.