HOMENAGEM

Quase 40 anos ensinando e semeando: Você reconhece o valor do professor?

Claudimeri e Adelar: fazendo o que amam e para quem amam. Fotos: Arquivo Pessoal
Claudimeri e Adelar: fazendo o que amam e para quem amam. Fotos: Arquivo Pessoal

Cascavel – Ser professor é algo difícil de mensurar porque ensinar não é vender, ensinar é partilhar. E o que faz desta profissão tão única é que somente ela é capaz de tornar possíveis todas as outras. Neste 15 de outubro – dia do professor – o Jornal O Paraná faz uma homenagem a estes profissionais imprescindíveis na vida de todos nós, através da história de dois ícones da educação local. Confira.

Claudimeri Dambros é professora da rede municipal de Cascavel há 38 anos ininterruptos e começou a conversa com a reportagem do Jornal O Paraná afirmando “É muito amor por este trabalho!”. Claudimeri se inspirou na mãe, também professora, para escolher esta profissão, que há quase 40 anos era uma das mais buscadas pelas mulheres – algo que se repete hoje em dia, em especial nos anos iniciais do ensino fundamental.

Ela já iniciou na Escola Arthur Carlos Sartori, no bairro Santa Felicidade, depois atuou na secretaria de educação, seguiu para a Escola Robert Francis Kennedy, em seguida para a Rubens Lopes e atualmente na Emília Galafassi, onde está desde 2001. Aos 56 anos de idade, Claudimeri é moradora do Bairro Neva e já está aposentada do primeiro concurso público que prestou para o município em 1986, mas segue na ativa do vínculo de um segundo concurso – mesmo já tendo a opção de solicitar a aposentadoria – ela se diz muito feliz e realizada em estar diariamente com seus alunos.

“Hoje percebemos que as crianças estão muito ligadas às mídias sociais, que são fundamentais nesse processo de evolução tecnológica, mas com isso vem uma grande dispersão para os processos de leitura e escrita, exigindo esforços sempre muitos maiores e mais intensos dentro das salas de aula”, analisa a professora, comparando a educação atual daquela de quando iniciou sua carreira – “Quanto às mudanças, foram muitas, que começam pelas legislações. Quando entrei não tinha ainda a Constituição aprovada! Não tínhamos nenhum tipo de material didático que os alunos recebessem. Hoje é proporcionado livros diversos, literatura infantil com acesso abundante”, compara.

Desafiada pela reportagem a dizer algo para aquela jovem de quase quatro décadas atrás, Dambros disparou: “Ela foi corajosa, forte e sua escolha não poderia ser outra, pois nesses 38 anos conseguiu transformar e deixar lindas marcas em muitas vidas. E esse sempre foi o objetivo dessa linda profissão que ela escolheu para seguir”, seguindo no compasso da emoção, ela mandou um recado para quem está pensando em ir para as salas de aulas: “Quem optar por essa profissão deve se preparar para grandes desafios que crescem a cada ano, envolvendo aspectos sociais, emocionais, pedagógicos e também financeiros. Se amar fazer isso, qualquer desafio que vier será, aos poucos, superado”.

Um apaixonado

Outro ‘gigante’ da educação municipal de Cascavel é o professor Adelar José Valdameri, que está em sala de aula desde 1988 e no município desde 1990. “Eu era estudante de magistério e ajudava meu professor de educação física a dar aula”, recorda.

Adelar trabalha atualmente na Escola Municipal Mário Pimentel de Camargo e também no Colégio Estadual Cívico Militar Santos Dumont, mas já foi professor na Apae, no ensino superior, na graduação, no curso de pedagogia, diretor universitário e de escola municipal, coordenador pedagógico, assessor administrativo nas secretarias estadual e municipal de educação. Com toda esta ‘bagagem’, ele é um grande apaixonado pela educação e também conhece bem algumas ‘dores’, como a aprovação automática, onde ele reconhece que alguns alunos deveriam repetir para dominar determinadas habilidades para poder seguir adiante e só então aprender novas coisas e também a questão da educação especial, antes atribuída à APAE, onde ele iniciou sua trajetória como professor. “Agora temos a sala de recursos, e nós temos os alunos que antes ficavam na APAE que agora estão no ensino regular, chamada de inclusão. Essa inclusão precisa ser repensada e melhorada em diversos aspectos”, pontuou o professor Adelar.

Sobre os destaques ao longo de todos estes anos ‘sujando’ as mãos de giz, Valdameri disse que “cada dia um aluno marca a nossa trajetória, desde aquele que para e escreve um bilhetinho dizendo ‘eu te amo professor’, aquele que rabisca todo o quadro dizendo ‘você é o melhor professor do mundo’. Trabalhei com um aluno especial na Escola Ita Sampaio e depois saí de lá. Todas as noites eu sonhava que aquele aluno estava chorando e chamando pelo meu nome, querendo conversar e brincar comigo. Como não queria interferir no trabalho do professor que deu seguimento ao meu, decidi não ir até a casa dele como fazia antes. Passaram-se cerca de seis meses e fui visitá-lo. A mãe me relatou – assim como eu sonhava  – ele chorava todos os dias e chamava o meu nome. São histórias que marcam muito profundamente”.

O professor ainda fez um apelo por respeito à classe. “É preciso que a população respeite o professor, que é uma profissão digna, que precisa de tratamento justo e do respeito. As pessoas que não conseguem educar uma única pessoa na sua casa não podem vir querer dar palpite e dizer o que nós devemos fazer. Educação deve ser feita pelos profissionais da educação”.

Ao analisar sua caminhada ele concluiu: “Foi uma maravilhosa jornada”.

Professores escassos e crianças desafiadoras: O cenário da educação básica em Cascavel hoje

Professora há 31 anos e desde 2017 à frente de quase três mil professores, a secretária de educação de Cascavel, Márcia Baldini, traçou o perfil de alunos e docentes a pedido da reportagem do Jornal O Paraná. “Hoje nós vivemos no Brasil um período bastante complicado de falta de profissionais para atuar nas escolas da educação básica”, destaca.

Márcia diz que este cenário é reflexo da pandemia de Covid-19, onde ocorreu um esvaziamento nos cursos de formação de professores. Tudo isso traz um reflexo desde 2020 até 2024 em que nós não temos professores se formando em quantidade suficiente, o que também diminui a demanda por concurso público”, analisou a secretária.

Vencida a questão da formação e do concurso público, os desafios continuam. “O profissional assume o concurso ou teste seletivo, vai para escola ou para o Cmei, fica um, dois dias ou, no máximo, um mês, vem e pede a conta porque não é isso que quer para a sua vida. Por que não é isso que quer para a sua vida? Porque ser professor realmente é uma profissão que exige muita dedicação, muita certeza daquilo que quer, muito conhecimento, muita calma. Trabalhar com crianças não é fácil”, aponta Baldini.

A rede municipal de ensino de Cascavel conta atualmente com 2771 professores entre educação infantil e fundamental. O professor do fundamental tem concurso é 20 horas semanais, então muitos têm dois vínculos com o município. Considerando o número de vínculos e não de pessoa, são 3785.

Crianças mais desafiadoras

Assim como mudou o perfil profissional, também mudou o perfil das crianças, que vão para a escola já com certo conhecimento, com a tecnologia a todo momento permeando as suas relações e também são mais inquietas.

“Não é aquele mesmo perfil de criança que tinha há 20 anos, que sentava e ficava quietinha. Tudo isso leva um impacto muito grande em relação ao trabalho do professor, que além de demandar todo o conhecimento teórico e prático, vai um esforço físico muito grande no sentido de estar o tempo todo falando, acalmando, ensinando, andando de um lado para o outro. E isso faz com que só permaneça na educação aqueles que realmente gostam”, explica Márcia.

Reconhecimento

Baldini reconhece as dificuldades dentro da sala de aula e na liderança de uma das pastas mais importantes do município, mesmo assim ela está convicta de que cada professor faz o seu melhor e merece ser homenageado hoje e sempre.

“Os que temos para o momento em termos de políticas públicas são poucos recursos para valorizar o quanto merece os professores, mas tenho certeza que nossos professores fazem o melhor dentro daquilo que eles têm as possibilidades, trabalham com muito carinho, com muita dedicação e procuram transmitir o melhor que têm para as nossas crianças”, finalizou.