Entrevista exclusiva com Marcia Baldini sobre sua saída da Semed e os desafios enfrentados na educação - Foto: Katúscia Da Silva/O Paraná
Entrevista exclusiva com Marcia Baldini sobre sua saída da Semed e os desafios enfrentados na educação - Foto: Katúscia Da Silva/O Paraná

Cascavel e Paraná - Após nove anos à frente da Semed (Secretaria Municipal de Educação de Cascavel), a professora Marcia Baldini vai deixar o serviço público municipal e passar o comando da pasta para a colega Gislaine Buraki, também servidora de carreira. A reportagem do O Paraná fez uma entrevista exclusiva com Baldini, que falou sobre a sua carreira, desafios e planos para o futuro, já que, como servidora de carreira desde 1994, o pedido de exoneração culmina com o início de sua aposentadoria e de uma nova fase profissional. Baldini foi a secretária municipal que mais tempo permaneceu em uma cadeira pública.

Nesta semana, ela entregou nas mãos do prefeito Renato Silva a sua carta de pedido de exoneração, na qual relata que a sua decisão “foi amadurecida ao longo de reflexões pessoais e profissionais e representa o encerramento de um ciclo de intensa dedicação à educação do município”. Para ela, assumir a secretaria foi um dos maiores desafios de sua trajetória profissional, visto que a educação é, por natureza, um campo complexo e dinâmico que exige constante atualização, sensibilidade social e capacidade de liderança.

A rede municipal conta atualmente com mais de 34 mil alunos nas escolas e nos Cmeis (Centros Municipais de Educação Infantil) e aproximadamente 5 mil professores e funcionários. O orçamento anual está chegando à casa do meio bilhão de reais, o que, para Baldini, representa uma grande responsabilidade. “Quando assumi, a rede tinha 28 mil alunos e um orçamento de R$ 200 milhões; ao longo destes anos tivemos um grande avanço em todos os sentidos”, avaliou. Ela deixa o cargo no dia 28 de fevereiro do ano que vem, prazo em que se efetiva a sua aposentadoria.

Nos nove anos à frente da Semed, a professora disse que seus principais desafios foram enfrentar uma pandemia, readaptar a forma de trabalhar com professores e alunos em casa e lidar com a CPI do abuso sexual, que investigou crimes ocorridos por servidores contra crianças dentro de Cmeis e escolas. Para a secretária, foi uma situação pela qual “não tive culpa”, mas acabou também sendo responsabilizada. Sobre isso, Baldini lembrou que, ainda em junho de 2020, denunciou o caso à Corregedoria Municipal, setor responsável dentro do Município, mas que, mesmo assim, o caso só foi resolvido quatro anos depois.

Pandemia

Já sobre a pandemia, Baldini lembrou que foram muitas horas de planejamento para entender a melhor forma de trabalhar com as crianças em casa, tendo que suspender contratos que atingiram, na época, mais de 600 pessoas que dependiam do trabalho e ainda pensar na segurança nutricional dos alunos, montando kits de merendas e material pedagógico entregues nas casas dos estudantes. “Enquanto as outras secretarias estavam paradas, nós estávamos na linha de frente, enfrentando os desafios, com servidores nossos sendo mordidos por cachorros nas casas”, relembrou.

Prova Cascavel

Outro desafio foi a própria mudança na visão da educação como um todo, o avanço cada vez maior das novas tecnologias, a busca pela qualidade de ensino, a mudança na dinâmica das avaliações externas e a implantação da Prova Cascavel, que representou um grande avanço na rede municipal, como um verdadeiro diagnóstico de como está sendo conduzida a educação pública, que deve sempre estar em constante aprimoramento. “Tivemos muitos avanços nestes anos em todos os setores”, disse.

Vagas nos Cmeis

Um avanço significativo foi a ampliação de vagas nos Cmeis. “A cidade continua crescendo e, com isso, a demanda continua aumentando, mas criamos muitas vagas também na educação infantil. No tempo integral, saímos de 1,5 mil alunos para mais de 6 mil”, falou. Atualmente, todos os Cmeis trabalham em tempo integral, assim como 36 escolas. “Implantei o modelo de escola 100% integral: o aluno que começa com quatro anos sai só no final do quinto ano”, reforçou. Outro avanço foi a criação do núcleo de apoio aos profissionais da educação, que atua em questões como depressão, saúde mental e grupos terapêuticos, nos quais mais de mil profissionais já foram atendidos.

Carreira

Mesmo com a tão sonhada aposentadoria em mãos, a professora disse que não vai parar, assim como a educação não para. Cursando uma nova graduação em “Ciência da Felicidade”, em Maringá, e uma pós-graduação em Neurociência e Saúde Mental pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Baldini afirmou que, ao concluir os cursos, pretende, depois de um “período sabático”, continuar trabalhando, mas sem o compromisso de bater ponto, ministrando aulas e palestras de formação.

A professora lembrou que iniciou sua carreira na Escola Municipal Nicanor Schumacher com apenas um padrão e, dois anos depois, assumiu o segundo padrão na Escola Municipal Nossa Senhora da Salete, instituições onde atuou como coordenadora pedagógica e diretora até 2009, quando passou a atuar diretamente na Semed, assumindo como secretária em 2017, na primeira gestão Paranhos.

Os números

Segundo levantamento feito pela secretária desde que assumiu a Semed, de 2017 até agora foram investidos R$ 159.606.555,50. Além disso, R$ 17.202.312,32 estão em obras em andamento, R$ 29.914.295,84 em processo licitatório e R$ 23.831.176,64 em obras em análise no Paraná Cidade, totalizando R$ 230.554.340,30. Antes de deixar a cadeira, duas grandes obras ainda serão inauguradas: o novo Cmei Celestina Mecabô, no Bairro Maria Luiza, no dia 6 de fevereiro, e a Escola Municipal José Baldo, no dia 5.

“Vou deixar ainda uma série de obras e licitações em andamento, como os quatro novos Cmeis do campo nos distritos de Juvinópolis, Sede Alvorada, São Salvador e São João”, descreveu. Atualmente, apenas Rio do Salto conta com o serviço. Outros projetos contemplam as instituições Dulce Tavares, Florêncio Carlos de Araújo Neto, Ita Sampaio, Maria Fanny, Caic 2, Cmei Peter Pan, Adolival Pian, Arthur Carlos Sartori, Emma Gnoatto, Almirante Barroso, Ana Neri e a construção do Cmei Gente Pequena, ao lado da recém-inaugurada Maria Fumiko.

Outros projetos contemplam a ampliação do Cmei Zilda Arns e a construção de um novo Cmei no Bairro Neva, onde funcionava a Horta Municipal.

Professores: “A base viva”

Marcia Baldini também fez um destaque especial aos educadores da rede municipal. “Trabalhei muito neste período e deixo muitas obras, reformas e ampliações encaminhadas. Deixo meu profundo reconhecimento aos professores, que são a base viva do processo educativo, responsáveis por inspirar e formar gerações, e aos alunos, que nos motivam diariamente com a sua energia, curiosidades e sonhos”, disse, lembrando também dos “pais, que fortalecem o elo entre a escola e a comunidade. Sem o esforço de todos, não seria possível avançar nos projetos e nas conquistas que fazem parte da história da educação de Cascavel”.

“Coração leve e dever cumprido”

A professora Marcia Baldini afirma que encerra este ciclo com o coração leve e o sentimento de gratidão “porque o dever foi cumprido”. “Eu procurei fazer o melhor pela educação de Cascavel. Isso inclui a aprendizagem dos alunos, os profissionais da educação, os professores, a comunidade escolar e os pais dos alunos. Penso que o caminho agora, daquilo que eu peguei para o que eu estou deixando, está muito mais tranquilo. Então, quem vai assumir daqui em diante poderá ter a oportunidade de talvez não investir tanto na parte de construções de obras, mas de investir na parte humana”.

Além disso, ela disse que muitos problemas administrativos foram solucionados: havia 92 escolas com inquérito civil e quase nenhuma com autorização de funcionamento. Hoje, quase todas as escolas e Cmeis têm autorização de funcionamento. “Desejo realmente boa sorte à pessoa que vai iniciar; conheço-a há muito tempo, inclusive foi minha aluna na faculdade, minha estagiária aqui na secretaria, e eu só desejo a todos um atendimento realmente voltado à educação das crianças, que são o principal objetivo da educação”, concluiu.