Agronegócio

Exportações do oeste: janeiro tem o pior resultado desde 2017

Sem soja em estoque e com o aumento de custo de logística de proteína animal, a região e o Paraná venderam menos para fora do País

Agronegócio, especialmente a safra de grãos, teve importante impacto positivo no PIB - Foto: ANPR
Agronegócio, especialmente a safra de grãos, teve importante impacto positivo no PIB - Foto: ANPR

Os oito maiores municípios exportadores do oeste do Paraná, que representam cerca de 97% das vendas da região, começaram o ano com queda. O resultado de janeiro é o menor desde 2017, com queda de 20% na comparação com 2020, que foi o melhor da história.

No primeiro mês do ano, a região exportou US$ 113,083 milhões, contra US$ 141,293 milhões em janeiro de 2020, pouco mais de US$ 130 milhões em 2019 e US$ 113,546 milhões em 2018. Em 2017, o saldo exportado foi de US$ 103,096 milhões.

Tanto as vendas do complexo carnes quanto o de grãos explicam o resultado. Para se ter uma ideia, a região exportou 30,4% a menos de aves que há um ano, uma diferença de quase US$ 30 milhões, totalizando US$ 65,923 milhões neste ano.

Já em grãos, a queda da exportação de milho e soja passa de 98%, somando US$ 4 milhões.

Embora não seja “culpada” de toda a queda, a China causou o maior baque da balança. O país que sozinho tinha comprado US$ 55,8 milhões em janeiro do ano passado, 39,5% de toda a pauta de exportação, agora importou US$ 34,333 milhões, reduzindo sua participação para 30,4%. Em contrapartida, o Paraguai expandiu sua parcela, e recebeu US$ 18,368 milhões de produtos da região em janeiro.

No Paraná, a queda das exportações em janeiro foi de 7%, somando US$ 922,712 milhões contra US$ 993,923 milhões no primeiro mês de 2020.

O economista Luiz Eliezer Ferreira, do departamento técnico da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), ajuda a entender o que aconteceu. E adianta que não há razão para pânico. O que ocorre, segundo ele, é uma reacomodação dos produtos, após um período excepcional, que começou em 2019 e foi até o início de 2020.

A queda no Paraná também se explica por esses dois complexos: carnes e grãos.

“No conjunto das carnes, houve queda de 17% em termos de valor. O Paraná exportou US$ 194 milhões, contra US$ 234 milhões ano passado. Mas, quando comparamos com 2019, as vendas de 2020 tinham subido. Aquele janeiro foi excepcional”, ressalta.

Ferreira lembra que, em meados de 2019, a Ásia sofria muito com a peste suína africana e tinha focos de gripe aviária. A produção desses países, principalmente suína e de frango, foi bastante afetada e houve aumento da demanda. E isso se estendeu até o início do ano passado: “Janeiro de 2020 é que foi excepcional”, frisa.

Por isso, o que se percebe agora é o retorno ao comportamento anterior, “mas soma-se a isso que estamos comparando um mês com epidemia com um sem e agora estamos com inflação. Os países estão comprando menos alimentos. A própria pandemia reduziu a procura por alimentos, principalmente proteínas”.

Além disso, outros fatores também afetaram o mercado externo, como alto custo logístico, exigências sanitárias maiores e até restrições de alguns países. Isso sem contar a crise econômica.

A crise, por exemplo, ajuda a explicar a queda nas exportações da carne bovina (31% em janeiro no Paraná). Segundo o economista, essa proteína está muito relacionada a eventos sociais, restaurantes, afetados com a pandemia. Além disso, tem o custo. Enquanto a carne bovina custa US$ 4,57 o quilo, em média, o frango custa US$ 1,36/quilo. “Num cenário de crise, as pessoas abrem mão dos produtos mais caros”, acrescenta.

Estamos sem soja

Além do movimento contrário da China, nossa maior compradora em 2019 e início de 2020, que comprou menos agora, a queda nas exportações de soja tem outra explicação bem mais simples: estamos sem produto.

Todo fim do segundo semestre e início de ano, são os Estados Unidos quem têm soja para fornecer o mercado internacional. O Brasil começará a colher sua safra em alguns dias, mas terá produto disponível novamente a partir de março e abril.

O economista Luiz Eliezer Ferreira conta que em 2019 foi o auge da briga comercial entre Estados Unidos e China, que evitou ao máximo comprar soja norte-americana, voltando-se à América do Sul. O Brasil tinha bastante soja estocada e encheu navios para a Ásia, provocando (em parte) o grande saldo da balança comercial de 2019, batendo todos os recordes, inclusive aqui, no oeste do Paraná, que exportou US$ 2,355 bilhões no ano.

Mas, ao longo de 2020, a China reforçou muito seus estoques e agora ensaia uma reaproximação com os Estados Unidos, acrescenta Luiz Ferreira.

“Tivemos dois anos atípicos, e agora as coisas estão se reacomodando. Essas quedas nos surpreendem, mas é dinâmica de mercado, recuperação dos patamares normais. Por isso, não dá para janeiro de 2021 ser encarado como negativo, mas como acomodação”, reforça o economista.

E 2021?

Embora diga que ainda é cedo para fazer previsões para o ano, Luiz Ferreira observa que 2021 começa com a vacina, o que é um bom sinal. “A partir do momento que a sociedade esteja vacinada, a economia vai voltar a funcionar; e a perspectiva é de recuperação; de ter um ano positivo. Esperamos crescimento da economia brasileira, da internacional, e o comércio de alimentos está nessa esteira de recuperação”.

 

Exportações do agronegócio somam US$ 5,67 bilhões em janeiro

As exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 5,67 bilhões em janeiro deste ano, queda de 1,3% na comparação com janeiro do ano passado (US$ 5,75 bilhões). De acordo com a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a queda nas exportações de soja em grão, de quase meio bilhão de dólares, explica o recuo das exportações do agronegócio no mês de janeiro.

Essa redução foi compensada, em grande parte, pelo aumento do valor exportado de quatro produtos: milho (+42,5% ou +US$ 148,96 milhões em valores absolutos), açúcar de cana em bruto (+35,6% ou + US$ 141,06 milhões em valores absolutos), café verde (+30,2% ou +US$ 108,05 milhões) e farelo de soja (+28,3% ou +US$ 99,17 milhões em valores absolutos).

As importações de produtos do agronegócio, por sua vez, aumentaram 6,5%, passando de US$ 1,22 bilhão (janeiro/2020) para US$ 1,30 bilhão em janeiro de 2021. O saldo da balança resultou em US$ 4,37 bilhões.