Cotidiano

Setembro Amarelo: Depressão e suas consequências sociais

Na última reportagem da série sobre o Setembro Amarelo, os impactos de como a população vem encarando os casos extremos da doença e que resultam em tentar contra a própria vida.

Setembro Amarelo: Depressão e suas consequências sociais

Reportagem: Juliet Manfrin

Marechal C. Rondon – Considerada o mal do século, a depressão já se transformou na principal doença pela qual os trabalhadores se afastam de suas funções. Apesar de em alguns casos os sintomas externos serem imperceptíveis, o psicólogo Ayr Belinho garante: sem um bom acompanhamento e o tratamento adequado não há como sair do fundo do poço. Na última reportagem da série sobre o Setembro Amarelo, os impactos de como a população vem encarando os casos extremos da doença e que resultam em tentar contra a própria vida.

Dentre as condições regionais que mais chamam atenção está Marechal Cândido Rondon. Há pouco mais de duas semanas, num mesmo dia, dois jovens, uma mulher e um rapaz, tiraram a própria vida. Um deles tinha reconhecimento nacional, com projeção profissional e bem-sucedido financeiramente. Olhando de fora, não tinha “motivos aparentes” para pôr fim à própria vida.

A realidade é que os dados da 20ª Regional da Saúde de Toledo, que compreende 18 municípios, entre eles o de Marechal Cândido Rondon, indicam uma situação preocupante. O Município tem menos de 53 mil habitantes e já registrou 11 casos de suicídios neste ano, ou seja, quase 21 mortes para cada 100 mil habitantes.

Em mais de três décadas de clínica, Ayr nunca perdeu um paciente, mas cotidianamente recebe pessoas com o mesmo discurso: que a vida perdeu o sentido, que as coisas não vão bem e que vão partir para atos extremos.

No dia da entrevista para esta reportagem, ele recebeu um paciente nessas condições. “Hoje a maior parte dos meus pacientes apresenta quadros de ansiedade seguida por depressão”, alertou, ao considerar que a doença já se transformou em uma pandemia.

Não por acaso o código do chamado CID 32, que corresponde à depressão, tem sido um dos – se não o mais presente – principais nos atestados médicos para afastamento profissional.

Um registro a cada 15 dias

Outra situação preocupante fica entre o sudoeste e o centro-sul do Estado, com um município que já figuraria entre os 50 por todo o Brasil onde há mais casos de suicídios: um a cada 15 dias.

Em Quedas do Iguaçu, dez pessoas tiraram a própria vida em menos de um ano, média de quase 30 mortes para cada 100 mil habitantes.

O jornalista Heliton Pimentel, que acompanha de perto estes casos, reforça que a maior parte deles foi por enforcamento, sendo a maioria composta por mulheres, condição diferente da registrada na média geral do País, onde mais homens chegam à condição extrema.

Por lá os desabafos têm vindo em redes sociais. Um deles, postado no Facebook do próprio Município de Quedas. A publicação dá conta que “estatísticas alarmantes e que colocam Quedas do Iguaçu em estado de alerta, pois infelizmente estamos tendo um suicídio a cada 15 dias”.

“Nosso pequeno município localizado no centro-sul do Paraná tem mais do que o dobro de suicídios da média estadual, que é de 5 suicídios para cada 100 mil habitantes.

“Nosso município está entre as cidades brasileiras com o maior número de suicídios, configurando entre as 50 cidades do país com maior incidência desta lamentável fatalidade”.

Em alerta

“As pessoas precisam de tratamento, precisam de ajuda… em algumas pontas, os problemas poderão ser ampliados para todo o contexto familiar se nada for feito”, afirma o especialista Ayr Belinho.

Se você está com depressão ou acredita que precisa de ajuda para uma situação difícil, a recomendação é procurar ajuda em um Caps (Centro de Atendimento Psicossocial) do seu município. Não hesite em procurar auxílio.