Cotidiano

Salão do Livro para Crianças e Jovens vira espaço de resistência

Marilda Castanha e Nelson Cruz - 01.jpgRIO – Num contexto de crise econômica, suspensão do principal programa governamental de compra de obras literárias e de queda expressiva na produção de livros infantis e juvenis no Brasil, como mostrou a pesquisa sobre o mercado editorial em 2015 divulgada na quarta-feira passada, o Salão do Livro para Crianças e Jovens, organizado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), chega à maioridade como um espaço ?de resistência e de defesa da cultura escrita?, nas palavras da secretária-geral Beth Serra. A 18ª edição do Salão está mais enxuta do que em anos anteriores, reflexo das dificuldades enfrentadas pelas editoras desde o ano passado. Ainda assim, estão previstos cerca de 30 lançamentos de livros entre os dias 8 e 19 de junho no Centro de Convenções SulAmérica, na Cidade Nova. A entrada custará R$ 6.

Um dos destaques da programação é a presença de uma comitiva de autores, ilustradores e especialistas da Espanha, país homenageado neste ano. Beth conta que haverá uma exposição de livros nas quatro línguas faladas em diferentes regiões: espanhol, catalão, basco e galego. Outro destaque são as bibliotecas. Haverá espaços para bebês, crianças e adolescentes, como nos anos anteriores, além do espaço do ilustrador, onde artistas desenham nas paredes na frente das crianças. A novidade de 2016 é a Biblioteca Olímpica, com obras infantis de 50 países que participarão dos Jogos Olímpicos, em agosto.

? Os países estarão representados nas suas línguas, com obras cedidas pelos nossos parceiros. O que é a Olimpíada? É um evento que nasce com o desejo de paz, um armísticio. Nossa missão é contribuir para a paz através dos livros, permitir que as crianças conheçam o outro a partir das suas histórias ? diz Beth.

A notícia que o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) tinha sido suspenso chegou durante a edição passada do Salão. Na época, a FNLIJ escreveu uma carta aberta pedindo que a decisão fosse revista, o que não aconteceu. Em 2015, apenas o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) adquiriu obras e até aumentou suas compras em comparação com o ano anterior. Beth questiona a opção pelos didáticos em detrimento das obras literárias infantis e juvenis. Ela lembra a longa tradição da literatura para crianças e jovens no Brasil, iniciada por Monteiro Lobato e seguida por Ziraldo, Ana Maria Machado e Lygia Bojunga:

? Quantitativamente, o gasto com o PNBE é muito menor do que o do PNLD. O livro didático não forma leitor, é o livro de literatura que vai formar o leitor. O exemplo está nos nossos índices de leitura. O PNBE foi criado em 1998 e teve continuidade. A suspensão é terrível. Para retomar um programa desses é complicado.