Cascavel – Quem poderia imaginar que a pandemia do novo coronavírus fosse durar tanto? Várias datas festivas foram praticamente anuladas ao longo do ano pelo distanciamento e por recomendações sanitárias. Foi assim no Dia das Mães, na Páscoa, no Dia dos Pais, e a comemoração do Natal 2020 não escapou das restrições. Nada de abraços, beijos e até mesmo receber os doces e os presentes das mãos do Papai Noel terá que ser evitado. Neste ano, serão menos pessoas ao redor da mesa brigando por causa da uva passa no arroz e, com certeza, vai sobrar panetone.
Apesar das dificuldades, a maioria das famílias não vai deixar a data passar em branco. A dona de casa e artesã Mariângela Gomes vai ficar com os familiares mais próximos, só “os de casa”. “Este ano vamos ficar em Matelândia, com as pessoas que temos contato mais direto, como meus filhos, minha nora, meu genro, meu marido e eu. Não poderíamos deixar de nos encontrar para celebrar pois tem também a chegada do meu neto, Pedro Henrique”, conta.
O Natal na casa da advogada Tônia Groenwold será festejado com cautela e saudade. Ela é carioca e as viagens para o Rio de Janeiro, que já faziam parte do roteiro de férias da família e duravam várias semanas, desta vez não aconteceu. “Vamos ficar com minha sogra, como sempre fizemos, mas a diferença com relação ao ano passado é que não vamos viajar ao Rio para ficar com minha família. Íamos sempre com antecedência, mas sou do grupo de risco, tenho três crianças, e meu maior receio é acabar nos contaminando durante o trajeto e pôr em risco a saúde das minhas irmãs, porque elas têm mais de 60 anos”, revela, e confessa: “Eu queria ter ido pelo menos passar alguns dias, mas não tive coragem. Vou me preservar e preservar principalmente o próximo”.
Saudade e esperança
Para algumas pessoas, o Natal 2020 é repleto de saudade. As irmãs Thaysa e Deborah Evangelista perderam o pai, Valter José Evangelista, em junho deste ano. “Foi um ano difícil para todos nós. Ele estava com câncer, teve uma parada cardíaca e não resistiu à primeira sessão de quimioterapia. Com a morte dele, aprendi que a gente tem que amar enquanto há vida, valorizar, dizer que ama, estar perto, dar atenção… Sempre fomos muito próximos. Foi minha inspiração de homem, caráter, e a morte dele, mesmo trazendo dor, me trouxe força e me fez enxergar a vida de outra forma”, conta Deborah.
Se não bastasse a dor da ausência do pai, as irmãs têm de enfrentar mais um momento difícil. Na última semana, a mãe, Maria Aparecida de Lima, foi diagnosticada com covid-19 e está internada na UTI de um hospital em Cascavel. “Ela teve complicações e foi internada às presas. Em dois dias, mais de 50% do pulmão ficou comprometido e ela permanece intubada”, contou Débora no início desta semana.
Apesar disso tudo, os momentos difíceis têm sido encarados como lição. “Perdemos ele, sofremos com sua morte, com a saudade, mas estamos lutando neste momento pela vida da minha mãe com muita esperança. Claro que este Natal não é como os outros, mas não lamentamos, somente agradecemos a Deus por tudo o que faz. Mesmo diante da dor, a nossa família nunca foi tão unida”.