BUENOS AIRES ? Horas depois de um promotor federal ter confirmado sua decisão de investigar o presidente argentino, Mauricio Macri, e outros funcionários de seu governo por supostas irregularidades na concessão de rotas aéreas à companhia Avianca, que fez negócios com a família Macri, o chefe de Estado fez seu discurso anual de abertura das sessões legislativas. Ele defendeu, entre outras iniciativas, ?o combate à corrupção com transparência e integridade?. Sem mencionar o caso Avianca e outras acusações judiciais que provocaram bastante polêmica recentemente, principalmente a de ter favorecido uma empresa que pertenceu a seu pai, Franco Macri, na negociação de uma dívida com o Estado, o presidente dedicou vários minutos a questionar a corrupção dos governos kirchneristas e defender a necessidade de ?aprofundar as políticas sobre integridade pública?.
? A corrupção é um mal que afeta a política. Por trás da corrupção, estão milhões de argentinos sem esgoto e tragédias que poderiam ter sido evitadas como a de Once (acidente ferroviário que matou 51 pessoas, no governo Cristina Kirchner). Hoje, a obra pública deixou de ser sinônimo de corrupção ? declarou Macri, que em recentes entrevistas referiu-se ao escândalo Odebrecht como ?o que nos permitiu conhecer a corrupção como nunca antes?.
Na Argentina, existem suspeitas sobre o envolvimento de um primo de Macri no caso Odebrecht e, também, do atual chefe da Agência Federal de Inteligência, Gustavo Arribas. Mas a Casa Rosada insiste em negar ambas as acusações e defender o papel da Justiça no caso. Nesta quarta-feira, Macri não citou o caso Odebrecht, mas mencionou várias vezes a relação entre concessões de obras públicas e corrupção.
? A ética e a transparência não são apenas uma obrigação do setor público. Vamos promover a aprovação de uma Lei de responsabilidade empresarial ? enfatizou o presidente argentino.
Segundo ele, ?graças às licitações transparentes, a contratações de fornecedores como corresponde, no ano passado o Estado argentino economizou 32 bilhões de pesos (US$ 2 bilhões).
Em meio às acusações sobre favorecimento a empresas do grupo Macri e outras que fizeram negócios com seu pai, como a Avianca, o presidente reiterou seu pedido à Oficina Anticorrupção para que ?seja criado um mecanismo que evite conflitos de interesses?.
? Quero que tudo seja transparente e aberto, que ninguém duvide das decisões deste presidente ? frisou Macri.
O presidente destacou a importância da aliança com o Brasil e o Mercosul, reforçou suas metas de combate à pobreza e ao narcotráfico e sua confiança em que a Argentina retomará o crescimento este ano.
? Agradeço a todos os argentinos por entender que para alcançar as mudanças é preciso de tempo. Sempre soubemos que o caminho seria difícil ? assegurou Macri, que na semana que vem enfrentará marchas sindicais para exigir reajustes salariais acima de 30% (o governo não quer autorizar aumentos superiores a 20% para não alimentar a inflação).
Num clima de forte tensão social, o chefe de Estado insistiu em dizer que ?a Argentina já está de pé?.
? Cada ano estaremos melhor ? afirmou Macri, que foi vaiado várias vezes pela oposição, principalmente pelo kirchnerismo.