Cotidiano

Holanda remove propaganda pró-Erdogan de centro de votação em mesquita

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AMSTERDÃ ? Autoridades de Amsterdã removeram nesta quarta-feira materiais de propaganda em apoio ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, dos centros de votação para as eleições legislativas holandesas. A população vai às urnas hoje para definir a formação do seu novo governo, enquanto a extrema-direita do candidato Geert Wilders tenta conquistar terreno político. Desde o fim de semana, Holanda e Turquia se vêem numa grave crise diplomática, desencadeada quando dois ministros de Erdogan foram impedidos de realizar comícios em favor do presidente em Roterdã.

Segundo o jornal ?Het Parool?, o material removido pertencia ao órgão para assuntos religiosos do governo turco e estava exibido em um centro de votação do Leste de Amsterdã. Uma autoridade da prefeitura da capital holandesa confirmou que uma inspeção havia sido realizada no local, que fica em uma mesquital. Porém, não soube dizer se materiais foram removidos. Fotos que circulam nas redes sociais mostram que o local havia sido decorado com bandeiras turcas.

A Turquia se vê numa crise diplomática com Alemanha e Holanda, após comícios pró-Erdogan terem sido cancelados nos dois países. O presidente tenta conquistar o eleitorado turco que vive em outros países para o seu referendo de abril, em que a população pela aprovação ou não da expansão dos seus poderes.

Após uma série de agressivos ataques verbais de Erdogan aos governos de Alemanha e Holanda, Na segunda-feira, Erdogan apontou o dedo diretamente para a chanceler federal Angela Merkel:

? Senhora Merkel, por que está escondendo terroristas em seu país? Por que não está fazendo nada? A Alemanha está apoiando impiedosamente o terrorismo ? acusou Erdogan, atacando a chanceler alemã.

Frente às tensões elevadas, o jornal alemão ?Bild? publicou em sua primeira página desta quarta-feira uma foto do governante turco. A manchete diz: “Bild diz a verdade na cara de Erdogan”.

“Você não é um democrata! Você está prejudicando o seu país! Você não é bem-vindo aqui!”, escreve o tabloide, que tem tiragem diária de dois milhões de exemplares. “Em sua loucura pelo poder, o ególatra Erdogan atiça os turcos contra a Europa”, afirma o jornal, que acusa o “pequeno homem do Bósforo” de “destruir seu país”.

TESTE PARA A EXTREMA-DIREITA EUROPEIA

Habitualmente tranquilas e sem grandes efeitos na política internacional, as eleições gerais holandesas começaram nesta quarta-feira sob o olhar atento de todo o mundo, encaradas como um dos principais indicadores do futuro do populismo e da extrema-direita na Europa após a inesperada vitória do Brexit no referendo britânico de junho do ano passado. De acordo com as últimas pesquisas, o primeiro-ministro Mark Rutte conseguirá se reeleger para um terceiro mandato, com o seu partido obtendo entre 24 e 28 cadeiras no Parlamento.

Já o Partido pela Liberdade (PVV), do extremista de direita Geert Wilders, deve garantir entre 19 e 22 deputados. Os locais de votação abriram às 6h30 (3h30 de Brasília) e devem fechar às 20h (17h de Brasília), quando serão divulgadas as pesquisas de boca de urna.

ESPECIAL: O que está em jogo nas eleições na Holanda

Marcado pela indecisão do eleitorado ? que segundo as previsões oscila entre 40% e 60%, deixando os resultados imprevisíveis ? o pleito está em vias de chancelar a ascensão do PVV. Tal resultado deve ter efeitos sobre futuras eleições ? especialmente na França, em abril, e na Alemanha, em setembro ? nas quais o discurso anti-imigração e a retórica antimuçulmana ganharam força em meio à crise migratória que assola o continente.

A indecisão também deve aumentar a diversidade partidária no Parlamento. Com o cenário político mais fragmentado do que nunca, especialistas preveem que 14 partidos ? número recorde ? podem eleger deputados.

? Precisamos fazer escolhas para nosso povo, para nossos pais, e não para os requerentes de asilo ? disse Wilders ao premier Mark Rutte, que busca seu terceiro mandato, em debate transmitido pela TV holandesa na noite de segunda-feira. ? Você não é o primeiro-ministro da Holanda, mas sim dos estrangeiros.

Já Rutte garantiu que a sua legenda ? Partido Popular pela Liberdade e a Democracia (VVD) ? não formará qualquer coalizão com o PVV.

? Enquanto nos concentramos nas causas da crise de refugiados, você gasta toda a sua atenção na sua política contra o Alcorão ? afirmou Rutte, que classificou o plano de Wilders de fechar fronteiras e mesquitas e banir a publicação do livro sagrado do Islã como ?falsas soluções?. ? Você quer o ?Nexit?, quer a Holanda fora da Europa.