
– O festival nasceu já com esse desejo de montar um mosaico de várias formas de arte, tanto da produção local como da nacional – explica Andréa Freire, idealizadora do evento e presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. – A ideia desde sempre foi de integração entre o estado e o resto do Brasil. Por um lado, para servir de vitrine para os artistas locais e dar a eles oportunidades de trocar com o que está acontecendo no nível nacional. E o público pode presenciar isso.
A percepção de que público está se falando é uma preocupação do festival. Há a consciência de que ele é formado por turistas de outros estados e países que visitam Bonito – destino famoso mundialmente pelo turismo ecológico -, moradores de cidades vizinhas (o que inclui a capital Campo Grande) e os habitantes locais, como Carmen Aparecida Alencar, de 50 anos, guia de turismo há duas décadas:
– Queria ter visto a Nação Zumbi, mas não pude porque ia acordar cedo. Mas vou ver Elza Soares. Espero a época do festival, é bom poder ver esses artistas, gosto muito dos nossos tradicionais, como Almir Sater, que já tocou algumas vezes aqui.
O envolvimento da comunidade aparece na exposição de artesanato local, na Tenda dos Saberes Indígenas, na qual sete comunidades exibem sua arte e cultura, e mesmo na equipe que produz o festival:
– Um dos integrantes da nossa equipe frequenta o festival desde os sete anos. Foi a todas as edições como público e agora trabalha com a gente – conta Andréa.
A personalidade do festival é construída sobre a combinação curiosa de seu caráter popular – em praça pública, com direito a pipoca, churros e cangas estendidas com artesanato em arame e durepoxi à venda – e atrações nobres como Grupo Galpão e Hermeto Paschoal.
– Houve um tempo, em que estive afastada do festival, que ele ganhou um caráter mais mediático, mas se afastou da comunidade local – diz Andréa. – Hoje, fazemos uma audiência pública com a cidade para entender o que ela espera. Há uma demanda enorme por sertanejo universitário, mas nosso festival não quer ter esse tamanho e nem mira nesse tipo de apelo. Porque o festival não é simplesmente pra população ver o que ela quer ver, mas para se surpreender com a qualidade do que ela não conhece tão bem. A ideia é que a cultura sul-matogrossense se reconheça como brasileira aqui.
* O repórter viajou a convite da produção do Festival de Inverno de Bonito