Cotidiano

Da ilha de Luz del Fuego a torre de Niemeyer, arte ocupa vazios da cidade

RIO ? Desde 1967, quando Luz del Fuego foi assassinada por dois pescadores, a Ilha do Sol, na Baía de Guanabara, perdeu o brilho. A casa onde a bailarina morou e criou a primeira associação de naturismo do país encontra-se em ruínas; o terreno à volta, abandonado. Neste sábado e domingo, no entanto, o local será ?despertado?. A artista Aleta Valente, cujo trabalho gira em torno de autorrepresentação e sexualidade, instalará ali a Ilha do Sol Photo Studio, provocando os visitantes a posarem nus, com ela, numa ação que tem o propósito de recuperar a memória do lugar e criar ?uma confusão entre mito e veracidade?.

? Quero trazer os corpos nus para dentro da ilha de novo, como uma espécie de ressuscitação, e conseguir que as pessoas se questionem sobre a relação com seu próprio corpo ? diz ela.

A performance é uma das três que acontecerão no local, dando início à segunda edição de ?Permanências e destruições?, do Programa de Arte Pública do Oi Futuro (para saber como chegar e conhecer toda a programação, o site é permanenciasedestruicoes.com.br). As outras são de Jonas Arrabal e Ronald Duarte ? Arrabal proporá ao visitante ficar num bote a 20 metros da ilha, num distanciamento cujo objetivo é chamar a atenção para a Baía; Duarte fará uma instalação nas rochas.

? Este ano, pensamos, como conceito, em espaços que não só estivessem em estado de abandono, mas que tivessem múltiplas camadas de interpretação, colocando um embate entre realidades ? diz o curador João Paulo Quintella.

É o caso também da Torre H, na Barra. O prédio residencial de 37 andares foi projetado nos anos 1970 por Oscar Niemeyer, e jamais concluído. O imenso esqueleto cilíndrico faz um contraponto às obras aceleradas na Zona Oeste da cidade.

? É uma estrutura impossível de não ser percebida e ao mesmo tempo é fantasmática. Muito impressionante, para uma quantidade de concreto como aquela ? observa Quintella.

VENOSA MOSTRA PERFORMANCE E INTERVENÇÃO

Lá, em dois fins de semana deste mês (dias 11/12 e 18/19), os artistas Angelo Venosa, Daniel Albuquerque, Janaina Wagner, Igor Vidor, Anton Steenbock e a dupla This Land Your Land se utilizarão da arquitetura desabitada para promover ações. Vidor, por exemplo, instalará uma cama elástica em cima da torre, criando uma experiência única, de reverberar a altura no próprio corpo. Já Venosa, escultor consagrado, vai mostrar uma performance e uma intervenção escultórica. Na primeira, um copo de água será transferido de mão em mão até atingir o topo; na segunda, o pequeno espaço da porta de um apartamento até a janela será percorrido através de um túnel de tecido.

? A primeira é uma ação muito simples, banal, uma maneira de experimentar no corpo o que é aquele prédio, sentir a escala ? diz Venosa. ? Já com o túnel quero fazer a arquitetura sumir em volta, promover uma experiência do local que drible a arquitetura.

Nos dias 25 e 26, o projeto será concluído com ações no Morro do Alemão. O objetivo, ali, é outro: qualificar um terreno para torná-lo espaço de lazer.

? Em vez de convidar um artista para responder ao espaço com uma ideia, o ?Permanências? entra como uma mão a mais para movimentar uma roda já existente ali ? diz Quintella, que estabeleceu uma parceria com o Raízes em Movimento, instituto formado por moradores, e com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, que desenvolve uma disciplina de urbanização alternativa no local.

?Permanências e destruições?

Onde: Ilha do Sol (dias 4 e 5 de junho), Torre H (11,12,18 e 19 de junho) e Morro do Alemão (25 e 26 de junho).

Quando: De hoje a 26 de junho. Programação completa no site permanenciasedestruicoes.com.br.

Quanto: Grátis.

Classificação: Livre.