Cotidiano

Crise em hospitais é cultural e estrutural, não financeira

Lógica e planejamento são ferramentas imprescindíveis para mudar quadro desolador

Santa Helena – Cerca de 30 hospitais privados fecharam em cidades do Oeste nos últimos 15 anos. No Estado, pelo menos 25 são desativados ou rompem parcerias com o SUS anualmente e o motivo apresentado é sempre o mesmo: contas no vermelho e perspectivas praticamente nulas de mudanças na atual política de saúde pública do País. Mas o principal fator de tantas baixas está longe de ser financeira. A origem está em uma associação de ingredientes únicos e letais, afirma o médico Edmar Stieven, que há 41 anos acompanha de camarote as alucinantes oscilações que atingem o segmento.

Diretor da Policlínica Santa Helena, Edmar por pouco não viu a unidade que gerencia seguir pelo mesmo caminho de tantas outras. O risco de encerrar as atividades, ainda neste ano era grande, mas uma parceria com um plano de saúde de Marechal Cândido Rondon renova esperanças de diretores, corpo clínico e pacientes. O médico informa que o desespero por quantias cada vez maiores, que os hospitais públicos e privados exigem, tem conexão com falta de planejamento, com equívocos de gestão da saúde por administrações públicas e também por uma questão cultural do brasileiro, que muitas vezes procura unidades de saúde e o médico sem necessidade.

 

Básico

Medidas simples, desde que existam compreensão e vontade por parte dos agentes públicos, gradualmente colocariam fim a um dos períodos mais turbulentos aos hospitais brasileiros. O fortalecimento da rede hospitalar começa com o atendimento básico nos lugares certos e nos próprios municípios. “Não faz sentido uma hérnia de um paciente de Toledo ser operada em Cascavel ou Foz do Iguaçu”. Santa Helena envia dois mil pacientes, ou 24 mil por ano, a outros centros em busca de tratamentos e procedimentos que poderiam ser feitos localmente, conforme Edmar – claro que há exceções, admite ele.

O dinheiro do contribuinte precisar ser gerido com mais cuidado e responsabilidade, afirma o médico. “Os problemas devem ser devidamente identificados e, com humildade, sanados um a um. Do contrário, as notícias de corredores lotados de doentes, de hospitais fechando e de saúde na UTI não vão cessar”. A solução a um quadro que só piora deve ter como referências bom-senso, lógica e a devida execução de todas as ações indicadas. O mesmo debate mobiliza diretores da Fehospar, a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado do Paraná. Porém, os avanços são pífios.