Um bom café é feito de detalhes, que começam na escolha da variedade a ser cultivada, avança pelos tratos culturais, passa pela colheita e depois pelo processamento dos frutos colhidos. Todas essas etapas têm influência sobre a qualidade do produto final e, consequentemente, do preço de comercialização. Por isso, o cafeicultor precisa conhecer seu negócio, para aproveitar as oportunidades, principalmente na hora da venda.
“Muitas vezes o cafeicultor tem o cuidado para produzir, mas na hora de dar preço no seu produto, compromete o trabalho de um ano inteiro”, pondera Higor de Morais, instrutor do Senar-MG, especializado na análise sensorial do café (Q-Grader) e no processo de pós-produção e comercialização do café (Q-Processor). Morais ministrou palestra sobre os desafios e oportunidades na comercialização do café, durante a reunião da Comissão Técnica (CT) de Cafeicultura do Sistema FAEP, no dia 11 de novembro. Com experiência de 12 anos nessa área, Morais falou a uma plateia de 160 cafeicultores de diversas regiões do Estado sobre os fatores que interferem na precificação do café e as diferentes estratégias para comercialização do produto nos mercados interno e externo.
Hoje, o Estado produz, em média, 1 milhão de sacas por ano, com vocação para a qualidade, o que faz do Estado um celeiro de cafés especiais (que atingem pontuação acima de 80 pontos na escala SCA – Specialty Coffee Association).
De acordo com o instrutor do Senar-MG, diversos fatores interferem na precificação do café. Além da oferta e demanda, é preciso ficar atento à qualidade e origem da produção, bolsas internacionais, estimativas de safra, estoques certificados e também às mudanças nas taxas de juros. “Participam do mercado de café os agentes da cadeia e também os agentes do mercado financeiro. Então, se estamos estudando para tomar uma decisão [sobre preço], não basta rodar as lavouras. É preciso reunir mais informações, e isso torna a comercialização complexa”, pontua Morais.
Além de entender as condições externas de comercialização, outro ponto fundamental para uma venda bem-sucedida é conhecer em detalhes o próprio negócio. “Se eu não sei o quanto custa [para produzir], como avaliar se o preço oferecido é bom ou ruim? Daí a importância da gestão, de conhecer seus custos. Cada produtor precisa ter isso alinhado antes de colher o café”, enumera o Q-Grader.
O especialista também apresentou as diferentes modalidades de exportação de café e o impacto dessa estratégia nas contas do produtor. “A partir do momento em que pensamos em exportar, temos que entender que isso significa novas responsabilidades e custos. Há custos envolvidos no processo até o café chegar ao comprador lá fora, como frete, desembaraço, envio de provas. Tudo isso é responsabilidade do exportador”, alerta.
Além de Morais, a mestre em torras de cafés especiais e diretora de produção da Café Klas, Roberta Klas, falou sobre o universo dos cafés especiais e as oportunidades neste segmento, tanto no mercado interno quanto na exportação. “O Paraná é o berço de boa parte da cafeicultura do Brasil. Não é mais o maior produtor, mas consegue produzir cafés de altíssima qualidade”, afirma.
Uma cerimônia com mais de 240 pessoas marcou a premiação do 22º Concurso Café Qualidade Paraná, que pela primeira vez ocorreu em Curitiba. Cafeicultores, lideranças de entidades representativas, autoridades e especialistas na área de café estiveram na solenidade, que reconheceu os melhores cafés das categorias “Natural” e “Cereja Descascado”, além do melhor produto de cada região do Paraná e a melhor amostra enviada.
Mais de 120 cafés foram inscritos no concurso, o que demonstra o crescimento da importância da cadeia produtiva para o Estado. Atualmente, o Paraná é o quinto maior produtor nacional de café, com mais de 30 mil hectares espalhados por mais de 100 municípios. O presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, destacou o fato de que apenas duas das 15 cafeterias do Mercado Municipal de Curitiba vendem cafés do Paraná, cenário que deve mudar a partir do esforço da cadeia produtiva. “Eventos como esse concurso são fundamentais para divulgar a qualidade do nosso café”, destacou.
O Concurso Café Qualidade Paraná é o terceiro maior prêmio do gênero no Brasil, atrás apenas de iniciativas realizadas em Minas Gerais e Espírito Santo, os maiores produtores nacionais de café. A competição é promovida pela Câmara Setorial do Café do Paraná, formada pelo Sistema FAEP, Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), IDR-Paraná e Associação dos Engenheiros Agrônomos de Londrina.