Abandonar o trabalho por falta de vagas nos Cmeis (Centros Municipais de Educação Infantil) nem sempre pode ser a primeira opção das mães assim que se encerra o período de licença-maternidade. E se não fosse a avó Silvana Terezinha da Silva, moradora do Bairro Santos Dumont, o destino de sua filha seria bem diferente.
Isso porque a avó segue uma rotina com o neto Lucas, de três anos, que frequenta o Cmei Estefani Galeski desde o início do ano. Todos os dias ela leva e busca o pequeno, que permanece no local em tempo integral. Porém, sem a ajuda de Silvana e a insistência em conseguir a vaga, a filha estaria hoje fora do mercado de trabalho.
“A gente agradece muito por ter conseguido uma vaga, mas nem sempre é assim que funciona. Há muitas mães que estão desesperadas atrás de matrícula. Aí o jeito é deixar de trabalhar e ficar em casa para cuidar do filho”, conta Silvana.
O problema da falta de vagas nos Cmeis de Cascavel é antigo. O assunto já foi parar até no Ministério Público.
Segundo o ex-presidente da Associação de Moradores do Santos Dumont Francisco Barroso, o Carlito, a estimativa é de que 40 crianças de até cinco anos estejam na fila por uma vaga. O número se refere apenas à demanda do bairro. Hoje a capacidade do Cmei é para 32 crianças. Ou seja, precisaria de pelo menos mais um centro.
Sem condições de pagar escola particular ou de esperar a abertura de matrículas, muitos pais levam os filhos para Cmeis dos Bairros Guarujá e Santo Onofre. “Precisamos com urgência de uma escolinha com mais vagas, já que na Estefani [Galeski] nunca tem”, diz Carlito.
A previsão é de que esse cenário mude até o fim do ano que vem. Conforme a Secretaria de Educação de Cascavel, desde agosto o Cmei Estefani Galeski está com matrículas abertas e disponibiliza 23 vagas. Além disso, até dezembro de 2019 será licitado o Cmei do Loteamento Siena, que vai garantir a abertura de 188 vagas para crianças de até cinco anos.
Insegurança
A aposentada M.L., que pediu para ter sua identidade preservada, mora há quase 40 anos no Bairro Santos Dumont e há pelo menos dois anos presencia cenas preocupantes. Todos os dias, no fim da tarde, um homem permanece por horas na Rua Martin Fardoski, próximo ao salão comunitário e ao Cmei (Centro Municipal de Educação Infantil) Estefani Galeski. Sua postura gera suspeitas da moradora e de vizinhos.
“A gente tem muito medo, pois sabemos que ele é envolvido com tráfico de drogas. Nem a luz do dia o intimida e sua presença é frequente aqui na região”, conta.
Segundo os moradores, o problema já foi levado à polícia: “Quando a polícia vem ele vai embora, mas depois de alguns dias ele volta. Nosso medo é porque muitas crianças brincam aqui na rua e a gente quer eles distantes do mundo das drogas”, afirma a moradora.
Sobre a segurança, o ex-presidente da Associação de Moradores Francisco Barroso, o Carlito, conta que às vezes é preciso agir por conta própria. “Cada um tenta cuidar do outro. Quando a gente vê alguma coisa errada ou que coloque alguém em perigo, ficamos em alerta. Nunca vamos deixar que um vizinho se prejudique”, afirma.
Uma associação sem presidente
Carlito é figura conhecida do bairro. Ele já perdeu as contas de quantos quilômetros rodou anunciando festas, reuniões ou encontros das igrejas e escolas do Bairro Santos Dumont. Muitas vezes, o serviço é feito de graça, pelo simples fato de ajudar a divulgar os eventos da comunidade.
Por ser tão popular assumiu a presidência da Associação de Moradores e a comandou durante 22 anos.
Só que, para ele, o descaso do poder público diante das demandas locais o levou a abandonar o cargo. E é pelo mesmo motivo que ninguém se candidatou na última eleição, feita há alguns meses.
“Não tinha nenhuma chapa inscrita e eu não quis continuar”, diz.
Desde então, não há um nome que represente o Bairro Santos Dumont e, segundo Carlito, cujo nome é Francisco Barroso, não haverá nova eleição enquanto os políticos não derem mais atenção ao bairro. “A única resposta que temos é de que não há verba para nossos projetos”, lamenta Carlito.
Trânsito
Quando o assunto é trânsito, os moradores do Bairro Santos Dumont têm muitas reclamações. Jorge Mireli, que todos os dias têm de acessar a BR-277, aponta a necessidade de um contorno mais seguro e sinalizado.
Segundo ele, nos horários de pico – entre as 7h e as 8h; das 12h às 13h30 e das 17h às 18h30 – é praticamente impossível trafegar pela via marginal, já que há um movimento intenso de veículos devido à área industrial. “Quem mora no Santos Dumont até evita de passar por aqui nesses horários. É muito difícil e perde muito tempo”, comenta.