Cotidiano

Crítica: Pedro Miranda sem nostalgia da modernidade

RIO – Pedro Miranda sabe muito bem que tudo muda, menos a vanguarda. Ele faz parte, naturalmente, de uma vertente que leva o samba adiante, sem que para isso se meta a ser diferente ou inovador. E é assim que as coisas evoluem, no sapatinho, como em um samba de gafieira.

Antes de mais nada, Pedrinho é intérprete e bebe da inesgotável fonte que reúne Noel Rosa, Roque Ferreira, Roberto Martins, Ataulfo Alves, Geraldo Babão e muitos mais, com espaço para todos.

“Hmmm, cantor da Lapa regrava clássicos e lados B do samba”, diria um doente do pé, também conhecido como saudosista. Nada disso. Quer dizer, é isso, mas não é. Com sua voz e pronúncia naturalmente retrôs, Miranda deita e rola em sambas deliciosos, como “Lola crioula” (Geraldo Babão), “Samba de dois-dois” (Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro) e o clássico “A razão dá-se a quem tem” (Noel Rosa, Ismael Silva e Francisco Alves), com participação de Caetano Veloso.

Sem miserinha instrumental, os arranjos têm sopros, guitarras, andamentos diversos, o que lhes dá um frescor, uma modernidade, um feitiço sem galhofa, uma brejeirice que leva o ouvinte a acreditar que existe samba em 2016. É possível que Miranda e seu produtor, o multi-homem Luís Filipe de Lima não tenham pensado em nada disso. E é assim que se anda para a frente.

Cotação: Ótimo