RIO ? A cena tem se repetido desde o início da semana passada: diariamente, cerca de uma centena de funcionários e voluntários do Rio-2016 dirigem-se ao campo olímpico de golfe para trabalhar no espaço já aberto para treinos desde 25 de julho. À parte o acabamento de obras nas áreas destinadas ao público, como instalação de banheiros e acessos, está tudo pronto: o campo impecavelmente aparado e irrigado, atendentes prontos para suprir qualquer necessidades nos treinos, só não há… golfistas.
Até agora, nos oito dias de treino, nenhum dos 120 classificados (60 homens e 60 mulheres) deu o ar da graça no green da Av. das Américas. Parece que a Olimpíada está distante: a linha de ônibus que leva jornalistas do centro de imprensa para o campo só começará a circular na semana que vem e, sem atletas, as visitas de mídia ao local até agora se restringiram a técnicos instalando o sistema de televisionamento. Nas vazias salas da estrutura montada para os Jogos, ontem à tarde, funcionários aguardavam o fim do expediente após esgotarem a criatividade em variadas selfies emolduradas pelo gramado.
O calendário profissional do esporte ajuda a explicar a falta de engajamento dos golfistas, e o vazio do campo a três dias da cerimônia de abertura coroa uma trajetória que põe a modalidade como espécie de patinho feio (e rico) dos Jogos do Rio. O desgaste inicial foi a própria construção do campo, com a contestação de ativistas e do Ministério Público sobre o avanço em uma reserva ambiental ? a maior parte da área do campo estava degradada.
O campo custou R$ 60 milhões, pagos por empresas imobiliárias que ganharam o direito de construir prédios altos na área de entorno.
As sucessivas polêmicas, numa cidade que já tinha dois campos próximos (clubes Gávea e Itanhangá), incomodaram o prefeito Eduardo Paes, que, em fevereiro do ano passado, pôs o golfe na prateleira do “ônus” de se fazer uma Olimpíada e disse “odeio ter feito este campo” numa conversa informal com jornalistas.
Em seguida a crise veio pela debandada dos principais golfistas. Os quatro primeiros do ranking não virão.
No último fim de semana, o circuito masculino teve o PGA Championship e o feminino jogou o British Open, competições que atraíram os principais golfistas. A expectativa no Rio é que só na quinta-feira haja atletas no local. A brasileira Míriam Nagl já está na cidade, mas treinou ontem no Gávea. Pelo menos dois têm de chegar até sexta: Siddikur Rahman, de Bagladesh, e Julieta Granada, do Paraguai, serão porta-bandeira de seus países na cerimônia de abertura.
Entre quem circula pelas instâncias olímpicas, a aposta de que o golfe não durará nos Jogos é recorrente. Para quem participou do movimento de inclusão do golfe nos Jogos, o início do torneio mudará tudo.
? Eles (golfistas que não quiseram vir) vão se arrepender. Quando começar o torneio, ninguém vai lembrar desses problemas, e vai ser um sucesso ? diz o presidente da confederação brasileira de golfe, Paulo Pacheco. ? Teremos um belo campo, público, como legado. O golfe vai surpreender.